Polícia angolana impede manifestação em Luanda
Usando os mesmos métodos empregues no tempo de José Eduardo dos Santos, os agentes policiais impediram o protesto e prenderam alguns organizadores e os jornalistas da Lusa.
A polícia angolana impediu esta quinta-feira uma manifestação junto ao Parlamento, em Luanda, prendendo cerca de 50 pessoas, incluindo dois jornalistas da agência Lusa e estabelecendo um cordão de segurança no perímetro para impedir qualquer possibilidade de o protesto se realizar.
A manifestação, convocada pelo grupo Jovens Pelas Autarquias, visava pressionar os deputados a aprovarem o pacote legislativo do poder local que se encontra a ser apreciado na especialidade na Assembleia Nacional desde a legislatura anterior. Subscreveram também a petição aos deputados as associações Plataforma Cazenga em Acção - PLACA, Núcleo Belas, Laulenu, Mizangala Tu Yeno Kupolo e o Projeto Okulinga.
As autoridades, no entanto, nem deixaram que a manifestação se iniciasse, recorrendo a um grande aparato policial para impedir qualquer veleidade aos jovens que se juntaram para participar no protesto.
Mais de uma dezena de pessoas (identificadas com a T-shirt preta com o logótipo Jovens pelas Autarquias estampado na frente) foram detidas e levadas para a segunda esquadra do Bairro Operário. Hitler Samussuku, vice-presidente da associação civil Handeka e um dos membros do grupo dos 15+2 presos em 2015 e condenados por “actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores”, é um dos que foi levado. Na sua página de Facebook confirmou que estavam detidos na referida esquadra e que eram cerca de 50.
Vários jovens juntaram-se no exterior da esquadra da polícia, com cartazes improvisados pedindo a libertação dos activistas políticos ali detidos.
A equipa da Lusa que tentava cobrir o acontecimento (o jornalista Domingos da Silva e o operador de câmara Marcos Focosso) também foi detida, levada para a esquadra, tendo já sido libertada, soube o PÚBLICO junto da delegação da agência de notícias em Luanda.
Jovens pelas Autarquias é uma iniciativa do projecto AGIR “que visa pressionar pacificamente as autoridades angolanas no processo de discussão e implementação das autarquias”, explica a organização no vídeo de promoção da iniciativa.
João Lourenço prometeu uma nova era em Angola, ao fim de 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos, mas os métodos com que a polícia lida com o direito de manifestação consagrado na Constituição continua a ser o mesmo usado pelo antigo Governo: forte presença policial, actuar antes que as manifestações tomem forma, detenções dos participantes e interpelação de todas as pessoas que circulam nas imediações.