100 Oportunidades: esta lista reúne jovens que podem — e querem — ser ouvidos pelos media

100 Oportunidades é uma lista de jovens, de vários contextos, que querem ser ouvidos pelo espaço público. A ideia é que exista “um diálogo intergeracional” em vez de “um combate geracional”, diz João Marecos, um dos responsáveis e co-fundador d’ Os Truques da Imprensa Portuguesa.

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Mag Pole/Unsplash

João Marecos demorou mais tempo do que tinha originalmente antecipado, mas não se esqueceu do que disse em Abril de 2019 na RTP, quando, a propósito do 45.º aniversário do 25 de Abril, o programa Prós e Contras discutiu a participação social e política das novas gerações. “Perguntei por que é que as televisões e rádios só convidam os jovens para falar na condição de jovens”, sobretudo quando “temos jovens qualificadíssimos que podem debater sobre temas prementes na sociedade”, conta o advogado e co-fundador d’Os Truques da Imprensa Portuguesa ao P3. Para ajudar a contrariar essa falta de representatividade, Marecos prometeu, em dois meses, criar “uma lista pública com nomes de jovens sub-30 especialistas em várias áreas”, completamente disponíveis para dar a cara.

Dois meses acabaram por ser nove, mas esta segunda-feira, 20 de Janeiro, no mesmo palco onde o repto inicial foi feito, a promessa cumpriu-se. João Marecos regressou à RTP e apresentou 100 Oportunidades, uma iniciativa que descreve como um “desafio” aos meios de comunicação. Se, conforme se lê no manifesto disponível no site, “o debate público em Portugal funciona em circuito fechado” e a comunicação social ouve poucas novas vozes — porque diz que “não as conhece nem sabe onde elas estão” —, o projecto 100 Oportunidades apresenta um grupo de 100 jovens, especialistas ou reconhecidos nos campos onde actuam, com capacidades para “acrescentar conteúdo e conhecimento” e trazer “ideias frescas”. O objectivo é simples: “acabar com as desculpas”.

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João Marecos D.R.

“Os 100” são jovens até aos 33 anos, de 20 áreas diferentes, desde a educação à economia, da cultura ao desporto, da sustentabilidade à inclusão. Vêm de diversos contextos, são apresentados com pequenas fichas biográficas, indicam os tópicos preferidos de discussão, disponibilizam os contactos em diferentes redes sociais e, assegura João Marecos, partilham a vontade de “promover uma renovação” na esfera pública e assegurar que a nova geração é retratada de uma forma justa e equilibrada.

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Marecos e o núcleo duro do projecto – composto por Catarina Reis de Carvalho, Diogo Almeida Alves, Diogo Ganchinho e João Romão – não gostam que os meios de comunicação tradicionais abordem determinados temas enquanto “temas da juventude” porque, diz o líder das 100 Oportunidades, “todos os temas são temas da juventude”. “A juventude não é o futuro, e sim o presente. Queremos apresentar visões para o presente com uma consciência de longo prazo.”

A iniciativa foi acolhida pela Global Shapers, uma comunidade internacional do Fórum Económico Mundial dividida por hubs em várias cidades do mundo, e constituída por jovens empenhados em “solucionar os problemas dentro das comunidades” em que se inserem. O hub de Lisboa surgiu em 2013 e João Marecos, que dele faz parte desde 2014, considera que “as 100 Oportunidades iam ao encontro do ADN” do grupo. Foi, então, nele que residiu “a ‘mão-de-obra’ perfeita” para concretizar o projecto.

Não que os 100 membros tenham obrigatoriamente de ser global shapers. “Nem têm que gostar da Global Shapers. Estamos a falar de pessoas diferentes com ideologias distintas que querem que a sua geração tenha voz”, sublinha João Marecos.

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Shape Europe 2014, evento organizado pelo hub de Lisboa da Global Shapers. Facebook Global Shapers Lisbon

“Um diálogo intergeracional” precisa-se

Apesar do tom quase desafiante com que as 100 Oportunidades se dirigem aos meios de comunicação, o que a equipa quer é ajudá-los. Marecos entende “a dificuldade do trabalho do jornalista”, compreende que “nem sempre há tempo para encontrar os convidados mais adequados para falar de determinados assuntos”. Por esse mesmo motivo, pretende que o site seja consultado como um útil e importante guia. Mas “tem de existir uma vontade para que integrem estes jovens”.

João Marecos reforça que as pessoas por detrás das 100 Oportunidades querem um “um diálogo intergeracional” em vez de “um combate geracional”, e fala da ideia de renovar “os 100” a cada dois anos. Isto porque “os jovens de hoje deixam de o ser amanhã”. “Se daqui a 30 anos estas pessoas estiverem no plano mediático, vamos querer que dialoguem com os novos jovens”, assinala o advogado.

Agora que a ideia foi apresentada na televisão e o site está disponível para consulta, a equipa concentra os seus esforços na divulgação da iniciativa. As ideias da criação de um podcast com entrevistas a cada uma destas 100 pessoas e da organização de ciclos de debates são algumas das que estão em cima da mesa.

Esta terça-feira, 21 de Janeiro, Maria Francisca Macedo, uma das jovens que compõem esta primeira versão das 100 Oportunidades, foi convidada para participar numa conferência na área da educação a 1 de Abril, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. “Isto”, reflecte João Marecos, “quer dizer que a ideia passou”. “Agora não pode morrer.”

Tudo depende do que as 100 Oportunidades vão conseguir fazer em termos de divulgação, mas também, e talvez acima de tudo, da forma como os meios de comunicação vão usar (ou não) a plataforma. “Queremos perceber o que a comunicação social vai fazer com isto. Se passarmos os próximos dois anos a lutar contra o esquecimento, já falhámos. Será um sinal de que esta iniciativa não serviu para nada.”

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