Os gritos de “mentira” de Joacine: “Senti a vergonha alheia”
O fundador do Livre confessa-se envergonhado por todos os que tiveram que assistir aos gritos da deputada.
O fundador do Livre, Rui Tavares, disse ter sentido “a vergonha alheia dos outros” durante o discurso de Joacine Katar Moreira no congresso do fim-de-semana e responsabilizou a deputada “por ter cortado com processos internos”.
Em entrevista ao Diário de Notícias/TSF divulgada esta terça-feira, Rui Tavares disse que “sentiu que as pessoas que estavam a ver aquilo [discurso de Joacine Katar Moreira no qual se exaltou e falou em mentiras] estavam incomodadas” com o partido.
O IX Congresso do Livre, que decorreu no fim-de-semana, ficou marcado pela eleição dos novos órgãos e pelo adiamento da decisão relativa à retirada da confiança política à deputada Joacine Katar Moreira.
A deputada exaltou-se e disse: “Isto é inadmissível, isto é mentira, tenham vergonha, mentira absoluta!”, batendo no púlpito onde subiu para reagir às considerações contidas na resolução da 42.ª Assembleia do partido.
“Naquele congresso, naquele momento em que aquilo se estava a passar, e ainda sem ter noção de como é que ia passar nas câmaras, saber que as pessoas que estivessem a ver aquilo iam ter vergonha alheia pelo Livre, pelo partido e ter consciência disso... é duro quando se fez um partido”, disse Rui Tavares em entrevista ao DN/TSF.
O dirigente do Livre considerou também que a deputada rompeu com o partido, porque rapidamente cessou contactos, ainda antes do voto da Palestina, na Assembleia da República.
“O grupo de contacto serve para as pessoas que fazem a gestão quotidiana do partido estarem permanentemente em contacto umas com as outras. Portanto, não se pode bloquear contactos por relações pessoais. O que a própria assembleia do partido detectou é que há uma atitude de corte com os processos internos”, referiu.
Rui Tavares lembrou que os compromissos para se exercer o mandato em nome do Livre são a “exigência na atitude, na postura, na responsabilidade, na forma de responder às perguntas dos eleitores, dos jornalistas e dos próprios camaradas de partido”.
“Portanto, quando não se cumpre o que está nessa resolução, é a própria pessoa que está a prescindir da confiança que nela foi depositada. Entretanto, ocorreu isto, não para a sociedade em geral, é verdade que as entrevistas mais bombásticas, mais incendiárias, aquelas questões do “fui eleita sozinha” e por aí afora, atenuaram-se a partir dessa altura, mas dentro da assembleia as coisas continuaram a não correr bem, para ser eufemístico”, explicou.
De acordo com o fundador do Livre, continuaram a não ser dadas respostas básicas para que os camaradas do partido sentissem a segurança de depois a poder defender [a sua representante].
Questionado sobre se existe quebra de confiança em Joacine Katar Moreira, Rui Tavares sublinhou que “lamentavelmente há compromissos que não estão a ser seguidos”.
“Portanto, a partir de certa altura, a assembleia do partido, por muito que queira preservar o partido ou por muito que quisesse preservar umas certas aparências... Nenhum partido, com nenhum método de selecção, sabe completamente como é que alguém depois de eleito vai comportar-se sob a pressão da visibilidade pública (...)”, disse.
Sobre a desilusão do partido com a deputada, o historiador salientou que “há um erro de comportamento pós-eleitoral por parte da Joacine, de atitude em relação aos eleitores, em relação ao partido, e essa atitude também conta porque ela também é política”.
“Tudo é política. Uma atitude de um partido libertário, da esquerda libertária, não pode ser uma atitude autoritária. A atitude de um partido antipopulista não pode ser uma atitude populista”, disse.
Rui Tavares disse também que vai defender em assembleia que o partido retire a confiança política a Joacine Katar Moreira, salientando concordar com o grupo de contacto.
“As cedências de parte a parte significam em geral que há erros dos dois lados. Isso significaria que chamar mentirosa à assembleia, um órgão do partido, fazê-lo em público, e daquela maneira e com aquela agressividade, seria equivalente a qualquer um de nós (...) ter dito: “Bem, uma coisa são os decibéis, outra coisa é ter dito o facto que não é verdadeiro é X ou Y”. O que não foi feito. Dá para perceber, não só a diferença de tom como a diferença de segurança com que se fala, com que se alega mentiras e com que se diz que se está na posse de factos”, disse.
“Certamente, não estamos numa situação de cedências de parte a parte; nem do ponto de vista dos factos nem do ponto de vista político”, sublinhou.