O acontecimento diabólico chamado Grande Sertão: Veredas

Publicado originalmente em 1956, Grande Sertão: Veredas está traduzido em várias línguas e só agora tem edição em Portugal. O seu autor, Guimarães Rosa, inventou uma linguagem. Quem a desvendar terá acesso a um universo de que não irá querer sair, transformador, violento, sensual, poético, de uma beleza feroz.

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“Nonada” é uma palavra mágica no universo de Guimarães Rosa. Quer dizer coisa de pouca importância, uma ninharia. “Nonada” é a primeira palavra de Grande Sertão: Veredas e assinala o grande paradoxo que ali começa: o de parecer não existirem palavras para falar do amor, da morte, do sofrimento, do ciúme, da vida, desse quase nada ou nada de muito importante para o qual é preciso inventar uma linguagem nova em que som e sentido, erudição e oralidade andam juntos. “Os paradoxos existem para que ainda se possa exprimir algo para o qual não existem palavras”, afirmou Guimarães Rosa numa entrevista a Günter Lorenz, no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em 1965. Toda a sua actividade literária se concentrou nessa tentativa de nomear o que ainda não tinha nome, estabelecendo com a língua uma relação extremada que definiu nessa mesma entrevista: “A língua e eu somos um casal de amantes que, juntos, procriam apaixonadamente.” Foi dessa paixão que nasceu Grande Sertão: Veredas, romance absolutamente solitário na história da literatura.

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