Portugal tem taxas de mortalidade por AVC superiores a todos os países da Europa Ocidental
Segundo um estudo apresentado em Lisboa pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia, “Portugal ocupa apenas a 25.ª posição (em 51 países) entre as mulheres e a 28.ª posição entre os homens, com mortalidades superiores às de todos os países da Europa Ocidental”.
Portugal tem taxas de mortalidade por acidente vascular cerebral (AVC) superiores às de todos os países da Europa Ocidental, segundo o Atlas da Sociedade Europeia de Cardiologia, divulgado esta segunda-feira.
Segundo o estudo apresentado em Lisboa pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), “Portugal ocupa apenas a 25.ª posição (em 51 países) entre as mulheres e a 28.ª posição entre os homens, com mortalidades superiores às de todos os países da Europa Ocidental”.
Em termos do impacto do AVC na mortalidade, anos de vida perdidos ajustados por incapacidade, anos de vida vividos com incapacidade e anos de vida perdidos os resultados são “claramente insatisfatórios”, refere o estudo, afirmando, a título de exemplo, que a mortalidade por esta doença em Portugal “é o dobro da observada na França”.
Contudo, tem “excelentes resultados” em termos do impacto da doença coronária na mortalidade e tem “bons resultados” no que respeita à doença cardíaca hipertensiva, refere a análise que inclui todos os países da Europa e ainda países da África do Norte, do Golfo Pérsico e da antiga União Soviética.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da SPC, Victor Gil, afirmou que os dados vão no sentido dos indicadores nacionais e que indicam que “Portugal está razoavelmente bem” relativamente às doenças isquémicas do coração, mas “menos bem” no acidente vascular cerebral, em que “há um grande caminho a percorrer e muito trabalho a fazer”.
“Existem aspectos muito bons, como é o caso da cardiopatia isquémica, doença relacionada com as coronárias, sendo que o grande desafio é manter e se possível melhorar o que já se conseguiu”, defendeu.
Para Victor Gil, os resultados obtidos têm sido “muito fruto da capacidade organizativa dos cardiologistas portugueses e da resposta que têm conseguido dar aos grandes desafios”, que se tem repercutido “numa melhoria da sobrevivência”.
“Houve de facto uma melhoria muito importante do tratamento do enfarte do miocárdio e o sistema está montado e funciona”, apesar de ainda haver zonas do país que é preciso “cobrir melhor” e aspectos melhorar, nomeadamente no transporte secundário de doentes críticos.
O estudo, que faz o retrato da saúde cardiovascular na Europa, indica que Portugal, em comparação com os países analisados, “parece ter um número suficiente/excessivo de médicos, mas um número claramente deficitário de enfermeiros”.
“Há menos enfermeiros em termos de medicina cardiovascular do que nos países comparadores, menos unidades de cuidados intensivos cardíacos, que têm vindo a desaparecer em Portugal a favor de unidades polivalentes, e nós defendemos que, sobretudo, nos centros de grande diferenciação devem continuar a existir”, salientou Victor Gil.
Segundo o Atlas, o número total de cirurgiões cardíacos e de cardiologistas “parece ser adequado, mas existe um grande desequilíbrio entre as subespecialidades de cardiologia, com um número médio adequado de eletrofisiologistas, mas um número aparentemente deficitário de cardiologistas de intervenção”.
Não há planificação em Portugal?
Para o presidente da SPC, estas assimetrias são reflexo de não haver “qualquer tipo de planificação em Portugal” na formação nas subespecialidades.
Em comparação com os outros países, Portugal tem um número elevado de hospitais com aparelhos de TAC e Ressonância Magnética Nuclear, embora não seja clara a geração tecnológica destes aparelhos.
Tem também um “elevado número” de hospitais a implantar pacemakers permanentes, desfibrilhadores, sistemas de ressincronização cardíaca e procedimentos de eletrofisiologia, em linha com a maior parte dos países da Europa Ocidental.
Contudo, tem “um claro deficit” de hospitais com camas de cardiologia, de camas de cuidados intensivos cardíacos, de programas de reabilitação cardíaca intra e extra-hospitalar.
“Os orçamentos que têm sido atribuídos à saúde têm sido no patamar mais baixo e mesmo assim temos obtido resultados bons, o que significa que se forem atribuídos mais recursos provavelmente nós conseguiremos atingir o pelotão dos melhores em relação a todos os indicadores”, defendeu Victor Gil.