O contra-ataque de Isabel dos Santos em 29 tweets
Entre acusações aos jornalistas da SIC e do Expresso e elogios a Ana Gomes por “admitir a verdade”, Isabel dos Santos escreveu quase 30 tweets a defender-se nas últimas 18 horas — seriam 30 se um deles não fosse repetido.
Ao longo das últimas horas, desde de que foi publicada a investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas, conhecida como Luanda Leaks, Isabel dos Santos já escreveu 29 tweets, numa tentativa de se defender. A empresária foi uma das principais visadas, mas afirma que a investigação é baseada em “documentos e informações falsas”, num “ataque político” coordenado com o Governo angolano e uma “campanha concertada” da SIC — uma das parceiras do consórcio internacional.
“A minha ‘fortuna’ nasceu com meu carácter, minha inteligência, educação, capacidade de trabalho, perseverança”, começou por afirmar Isabel dos Santos, na sua conta do Twitter. E denunciou o que diz ser o “racismo e o preconceito” da SIC e do Expresso — os dois parceiros portugueses deste consórcio internacional, que reúne mais de 30 meios de comunicação internacionais — "fazendo recordar a era das colónias em que nenhum africano pode valer o mesmo que um europeu”.
“As notícias do ICIJ [Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação] baseiam-se em muitos documentos falsos e falsa informação, é um ataque político coordenado em coordenação com o “Governo Angolano”. 715 mil documentos lidos? Quem acredita nisso?”, reagiu a empresária, em inglês, através da sua conta do Twitter, acrescentando as hashtags “#icij #mentiras”.
A filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos ataca também a SIC e o Expresso, que integram o consórcio de jornalistas que revelou mais de 715 mil ficheiros que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo. “Trinta órgãos de comunicação mundiais alguma vez investigaram uma só pessoa?”
Jornalistas do Expresso e da SIC na mira da empresária
Na leva de tweets que publicou nas últimas horas (30, um deles repetido), acusa Micael Pereira (jornalista do Expresso) e Ricardo Costa (director de Informação da SIC) de mentir, repetindo por diversas vezes que os documentos acedidos pelos jornalistas foram alvo de “manipulação” pela Justiça angolana.
“Os leaks são autênticos? Quem sabe? Ninguém... Estranho mesmo é ver a PGR [Procuradoria-Geral da República] de Angola a dar entrevistas à SIC-Expresso. Procurador Geral de Angola a Angola a dar entrevistas... A canais portugueses!”, escreveu a empresária, numa dessas mensagens. Isabel dos Santos comentou ainda: “Consórcio ICIJ recebeu fuga de informação das ‘autoridades angolanas'??!! Interessante ver o estado angolano a fazer leaks [fugas] jornalistas e para a SIC-Expresso e depois vir dizer que isto não é um ataque político?”.
“Se houvesse interesse na verdade e não no assassinato de carácter, a SIC-Expresso teria entrevistado o actual PCA [presidente do conselho de administração] da Sonangol, teria entrevistado Dr. Edeltrudes Costa, teria entrevistado Dr. Archer Mangueira”, continua. “Como é um ataque político comandado e orquestrado só entrevistam o PGR”, acrescentando também noutro tweet que “se a SIC tivesse coragem teria me [sic] convidado”.
Num outro tweet, escreve que “o povo de Portugal é amigo do povo de Angola e não podemos deixar que ‘alguns’ interesses isolados ‘agitem’ a amizade e respeito que conseguimos conquistar e construir juntos”.
"Obrigada, Ana Gomes, por esclareceres e finalmente admitires a verdade"
Ao final da noite, e já depois de Ana Gomes ter comentado o caso na SIC, Isabel dos Santos escreve que a ex-eurodeputada portuguesa admitiu que o “investimento na Efacec” foi “financiamento dos bancos comerciais portugueses e não foi erário público angolano”. “Obrigada, Ana Gomes por esclareceres e finalmente admitires a verdade.”
Ana Gomes acusou o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e a Procuradoria-Geral da República de serem “coniventes” com os esquemas alegadamente fraudulentos da empresária angolana Isabel dos Santos.
A ex-eurodeputada e a empresária angolana têm estado em pé de guerra devido aos comentários no Twitter de Ana Gomes, que indagava sobre a origem do dinheiro da herdeira do ex-Presidente de Angola. Na passada sexta-feira soube-se que a justiça portuguesa deu razão a Ana Gomes.
Para encerrar o assunto, a empresária partilhou o vídeo da construção de um dos supermercados da cadeia Candando, de que é dona para afirmar que “é isto” que faz. “Eu construo empresas e companhias, invisto e crio trabalhos. É daqui que vem a minha riqueza: negócios.”
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação analisou, ao longo de vários meses, 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos entre 1980 e 2018, que ajudam a reconstruir o caminho que levou a filha do ex-Presidente angolano a tornar-se a mulher mais rica de África.