Maduro diz-se disponível para diálogo com EUA, Pompeo vai encontrar-se com Guaidó

Presidente venezuelano quer levantamento das sanções económicas pelos EUA e diz até estar disposto a ter investimento norte-americano no país.

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Nicolás Maduro sugeriu que pode abrir o país à exploração por companhias petrolíferas norte-americanas Cristian Hernandez/EPA

O Presidente da Venezuela afirmou estar disponível para um “diálogo” com os EUA que pode levar a “um novo tipo de relação” entre os dois países, numa entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post. Mas é pouco provável que em Washington a oferta seja levada a sério: a Administração Trump escolheu o seu interlocutor, que é Juan Guaidó, com quem o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, prevê reunir-se na segunda-feira na Colômbia – segundo disseram fontes próximas do presidente da Assembleia Nacional venezuelana à Reuters.

“Se houver respeito entre os governos, seja qual for a importância dos EUA, e se houver um diálogo, uma troca verdadeira de informações, tenha a certeza de que podemos criar um novo tipo de relacionamento”, defendeu Nicolás Maduro - que dá a primeira entrevista a um meio de comunicação norte-americano de relevo desde Fevereiro do ano passado, quando expulsou a cadeia de televisão em língua espanhola Univision do país. “Um Maduro exuberante disse ter levado a melhor sobre os seus opositores em Caracas e Washington, sente-se confortável no poder e está disposto a falar”, descreveu-o o jornalista Anthony Faiola.

Isto, claro desde que o Presidente Donald Trump suspenda as sanções entretanto aplicadas à comercialização do petróleo venezuelano e a várias figuras do regime, que incluem o congelamento de activos venezuelanos nos EUA. Maduro, que tem o apoio da Rússia e da China, sugeriu que pode abrir o país à exploração por companhias petrolíferas norte-americanas em condições muito favoráveis se as sanções forem levantadas e os EUA estiverem dispostos a recomeçar de novo as relações com Caracas, descreve o Washington Post.

Não há uma resposta de Washington, mas é pouco provável que isso aconteça apesar de o regime tentar contactos com os EUA há algum tempo. Para a Administração Trump, Maduro continua a ser um ditador, cujo regime comete violações dos direitos humanos, e que este mês tentou impedir Juan Guaidó de tomar posse como presidente da Assembleia Nacional pelo segundo ano. Este órgão, esvaziado de poderes pelo Governo e onde a oposição tem maioria, conferiu a Guaidó o cargo de presidente interino da Venezuela. Os Estados Unidos e cinquenta países, entre os quais Portugal, reconheceram há mais de um ano Guaidó como o Presidente interino legítimo da Venezuela.

Será nessa qualidade que deverá encontrar-se com Mike Pompeo na Colômbia, numa conferência regional sobre antiterrorismo.

Desde Fevereiro que Guaidó não sai da Venezuela, quando desafiou uma proibição de viajar para fora do país imposta pelo tribunal e foi também à vizinha Colômbia, para coordenar uma iniciativa apoiada pelos EUA para tentar fazer entrar na Venezuela camiões com ajuda humanitária - que foram bloqueados por tropas leais a Nicolás Maduro.

Guaidó exige uma nova eleição presidencial, alegando que o escrutínio em 2018 foi uma fraude. Para Dezembro estão marcadas eleições parlamentares. Tudo isto no contexto de uma profunda crise económica e social: na segunda-feira passada, o parlamento (controlado pela oposição) estimou que a inflação acumulada num ano atingiu 7374,4% no final de 2019, contra quase 1.700.000% em 2018, diz a agência Lusa.

De forma pouco comum, em Outubro o Banco Central da Venezuela reconheceu a fragilidade da economia nacional, indicando que o Produto Interno Bruto (PIB) havia contraído 26,8% no primeiro trimestre de 2019.

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