A ideia de criar um restaurante onde a equipa fosse constituída por seniores nasceu depois de um almoço comunitário, conta Francisca Gorjão Henriques, uma das fundadoras da Pão a Pão, associação que nasceu para apoiar a integração de refugiados do Médio Oriente e abriu o restaurante Mezze em Arroios.
Nessa refeição numa aldeia em Sintra, a responsável reparou numa das cozinheiras, “já com 78 anos, que estava muito focada no serviço, e com uma grande alegria, de estar ali a cozinhar para as pessoas”. Daí começou a pensar-se no interesse de desenvolver um projecto que ajudasse “pessoas mais velhas a sair de casa”, que lhes desse “um sentido de pertença”.
Na zona das Amoreiras, no coração de Lisboa, tinha vagado a cafetaria do museu da fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva. Um casal de artistas – ela de origem portuguesa e ele húngara –, que, por sinal, viveu boas partes das suas vidas em exílio, por França, a traçar percursos artísticos que correram o mundo. “Pessoas multiculturais”, como o põe Marina Bairrão, directora do museu.
Surgiu a ideia de apelar à Pão a Pão, já que era “algo relacionado com o conceito”, na senda do Mezze. A associação, todavia, fez uma contraproposta. A partir daí, “foi uma conjugação de vontades”, nas palavras de Marina, que tentava trazer nova vida àquele “espaço muito pequeno, mas especial”.
Floresceu então o conceito do Mão-Cheia, para “valorizar aquilo que os seniores têm para dar, os conhecimentos que foram adquiridos ao longo de anos”, ao mesmo tempo que socializam, descreve Francisca.
A fundadora da associação descreve a zona como tendo “ainda um ambiente bairrista”, “excelente para o projecto”. Já a directora do museu acredita que “se vai fazer a diferença” ali. “Já há coisas parecidas e próximas com este conceito, mas aqui tão próximas deste belo Jardim das Amoreiras não há nada”, refere Marina.
Até ao início da procura da futura equipa foi um passo. O que começou com um anúncio nas redes sociais e posterior mediatização do mesmo resultou em “imensas candidaturas” – “nem vale a pena dizer um número, no fim desta conversa já estará desactualizado”, exclama Francisca.
O menu nunca vai ser fixo, nem os cozinheiros, somente a equipa de cozinha. Os “cozinheiros de mão-cheia”, como lhes chamam a Pão a Pão, é que vão dizer “aquilo que querem cozinhar e indicar quanto tempo querem dedicar ao projecto”, com um mapa mensal a mudar todos os meses.
É um restaurante que “vai dar vida e apoio ao museu, aos visitantes e à comunidade local”, promete a direcção do Árpád Szenes-Vieira da Silva.
Se haverá mais parcerias entre a Pão a Pão e a Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva, fica por se ver. “Ainda é tudo muito prematuro, nada de concreto, só mesmo ideias”, desvenda Marina. Para já, ficamos com uma mão-cheia de surpresas.
A quem quiser colaborar, o convite está aberto a todos: basta “apenas” ter mais de 65 anos, querer cozinhar num restaurante para o público e ter um prato que seja a sua especialidade, informa a página oficial. “Procuraremos as pessoas que estão sozinhas em casa, portugueses e imigrantes, homens e mulheres, sabendo à partida que desta troca só podem sair temperos únicos”. Esses, só poderão ser degustados numa data ainda a anunciar, mas que tudo aponta para que seja em finais de Fevereiro.
Texto editado por Luís J. Santos