Professores de Informática: “Chegou o momento em que qualquer um pode leccionar qualquer coisa”
Professores de Informática lamentam que novos critérios de contratação de docentes levem a que o ensino das tecnologias não só sofra com o “equipamento antigo” existente nas escolas como agora terá “docentes pouco preparados”.
A Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI) considera que os novos critérios para a contratação de professores, transmitidos nesta terça-feira pelo Ministério da Educação, “revelam a desvalorização desta área de saber”. Directores, pais e sindicatos já alertaram que esta “desvalorização” poderá afectar o conjunto da classe docente.
“Não é com uma formação contínua, que não chega para a progressão na carreira, mas parece ser suficiente para leccionar a disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que um docente de qualquer área fica preparado para implementar o previsto nas aprendizagens essenciais”, refere a associação em comunicado.
As aprendizagens essenciais são agora os documentos orientadores sobre o que os alunos devem aprender ao longo dos ciclos de escolaridade. A disciplina de TIC é uma das identificadas pelo ministério como tendo falta de professores. As outras são Português, Inglês e Geografia.
Numa nota enviada às escolas nesta terça-feira, o ministério comunicou aos directores que a disciplina de TIC poderá ser entregue a qualquer que tenha uma acção de formação nesta área. Na mesma informação indica-se que os professores de línguas estrangeiras poderão dar aulas de Português desde que tenham feito um “estágio pedagógico” nesta área ou tenham uma “adequada formação científica”. Do mesmo modo a disciplina de Inglês poderá ser ensinada por professores de Português, Francês, Alemão e Espanhol e a de Geografia por professores de História.
“As tecnologias são universais e os alunos portugueses merecem melhor nesta área, com equipamento antigo e agora com docentes pouco preparados”, lamenta a ANPRI. Para estes professores, a informação divulgada agora pelo ministério constitui “uma nota triste no que toca a uma melhor educação dos nossos alunos, já que chegou o momento em que qualquer um, pode leccionar qualquer coisa”. À semelhança de outros docentes, também esta associação alerta que, ao contrário do que é referido na nota, “este problema [falta de professores] não se resolve no ano lectivo em curso”.
“Tudo isto revela uma grande falta de estratégia e um manifesto desinteresse para com os problemas com o pessoal docente”, adianta ainda, depois de acusar o ministro da Educação de nunca ter respondido aos pedidos de reunião que a associação tem apresentado desde Novembro. “A ausência de resposta aos nossos emails revela falta de capacidade de ouvir e dialogar, apesar de nos termos disponibilizado, mais do que uma vez, para encontrar soluções, para resolver o problema a curto prazo e delinear estratégias a longo prazo”, critica ainda a ANPRI.