Incêndios na Austrália são desastrosos para as espécies ameaçadas
Calcula-se que mais de mil milhões de animais tenham morrido nas últimas semanas, mas isto pode ser apenas a “ponta do icebergue”.
Os incêndios na Austrália estão a ser particularmente destrutivos para a fauna do país, onde existem espécies únicas. Estima-se que mais de mil milhões de animais tenham morrido, muitos dos quais de espécies ameaçadas. Governo anunciou um programa no valor de 50 milhões de dólares australianos (31 milhões de euros) de recuperação de emergência da vida selvagem, classificando os efeitos dos incêndios florestais dos últimos meses como uma “catástrofe ecológica.”
Mais de 11,2 milhões de hectares, o equivalente a metade da área do Reino Unido, foram já arrasados pelas chamas. A divisão australiana do World Wide Fund for Nature (WWF) avisou o Governo esta terça-feira que os habitats de 13 animais foram destruídos ou ficaram gravemente danificados pelas chamas, entre os quais três espécies em risco sério de extinção: o sapo-corroborre, a ave melífago-regente, e o periquito terrestre ocidental.
“Grandes proporções de áreas globalmente significativas, como a floresta tropical de Gondwana nas áreas Património Mundial das Montanhas Azuis, bem como os Alpes Australianos e as Cordilheira Stirling, sofreram incêndios catastróficos”, afirma o WWF. Outras espécies que merecem preocupação das autoridades são os coalas, os dunnart (um pequeno marsupial), a cacatua negra, o potorous longipes ou o escíncido de água das Montanhas Azuis.
Mais difícil de apurar é o impacto dos incêndios sobre pequenos animais, como algumas espécies de aranhas e lagartos, que em alguns casos são exclusivos da Austrália e são fundamentais para o equilíbrio dos seus ecossistemas. Calcula-se que existam 250 mil espécies de insectos na Austrália, das quais apenas um terço foi identificada, segundo o New York Times.
“Isto é apenas a ponta do icebergue”, disse ao Guardian o analista da Fundação de Conservação Australiana, James Trezise. “O número de espécies e ecossistemas que sofreram um forte impacto é seguramente muito mais elevado, especialmente se se tomar em consideração as espécies menos conhecidas de répteis, anfíbios e invertebrados”, acrescentou.
As autoridades têm tentado proteger os animais e desde o fim-de-semana que foi lançada a operação Rock Wallaby, em que milhares de quilos de alimentos têm sido atirados a partir de helicópteros nas áreas afectadas. Animais como os wallabies, uma espécie de canguru de menor dimensão, têm possibilidade de sobreviver aos incêndios, mas ficam privados das ervas e da vegetação típica do seu habitat.
Contrariando aquela que tem sido a posição oficial do Governo – que nega qualquer relação entre as alterações climáticas e os incêndios – um painel de cientistas afirmou esta terça-feira que “não há dúvidas” sobre a ligação entre os dois fenómenos. “A Austrália aqueceu de forma mensurável mais de um grau e a ocorrência de incêndios é muito sensível à temperatura”, afirmou o director do Centro Leverhulme para Incêndios Florestais, Ambiente e Sociedade do Imperial College de Londres, Iain Colin Prentice.
O especialista foi um dos membros de uma equipa de investigadores britânicos que analisou 57 estudos científicos e concluiu que o aquecimento global está a causar um aumento da prevalência de clima seco e quente em todo o mundo, que é um factor fundamental para que os incêndios florestais apareçam.