Ele cria stickers da cultura africana — para a fazer chegar a todos os teclados

O designer nascido na Costa do Marfim irritou-se quando percebeu que os bancos de imagens só mostravam a pobreza de África. Decidiu desenhar stickers da vasta cultura do continente e disponibilizá-los numa app gratuita. O próximo passo é incluí-los no teclado de emojis.

Foto
Reuters

O’Plerou Denis Grebet estava à procura de fotografias de África para um projecto, quando percebeu que os bancos de imagens só continham retratos de pobreza e doença. Uma realidade que, apesar de existir, não é “tudo o que existe no continente”. O designer de 22 anos ficou tão chateado com a redução “da imagem de África a guerra, fome e pobreza” que começou a pensar numa forma de mostrar o que de bom existe no continente onde nasceu.

Decidiu então desenhar stickers que retratam o quotidiano da cultura africana, desde tradições a pratos de comida. Com a ajuda de um tutorial do YouTube aprendeu a desenhá-los, em 2017, e desde então já fez mais de 350. O primeiro foi uma tigela de foutou, um dos principais pratos da Costa do Marfim, onde O’Plerou nasceu, feito com mandioca e banana amassada.

Foto

E esta imagem foi precisamente a primeira que partilhou na sua conta de Instagram, onde, durante todo o ano de 2018, publicou uma imagem por dia de um novo sticker. “Decidi partilhar no Instagram porque é uma plataforma visual e as pessoas estão mais preparadas para ver arte lá”, disse o jovem à CNN. Durante a primeira semana em que lançou o projecto para as redes sociais, conseguiu mais de dois mil novos seguidores.

Mas apenas isto não era suficiente. O’Plerou queria que as pessoas pudessem utilizar as referências que criou em conversas virtuais e nas redes sociais. Por isso, em Dezembro de 2018, compilou todos os stickers que criou numa app que pode ser descarregada gratuitamente para iPhone e Android. O nome que deu à aplicação, Zouzoukwa, significa “imagem” em bété, um dos dialectos falados na Costa do Marfim.

A app está dividida em packs — “pessoas”, “natureza”, “actividades” são algumas das categorias — e já foi descarregada mais de 120 mil vezes desde que foi criada. Em 2019, foi nomeada como a melhor app do ano no concurso African Talents Awards, que celebra jovens africanos em diversos campos criativos.

O que não chega para O’Plerou, que quer também criar capas de telemóvel, mochilas e roupas com imagens africanas. Ao New York Times, o jovem disse também que gostava de usar realidade aumentada para difundir a cultura africana.

No futuro, quer também viajar pelo continente para “imergir em diferentes culturas e criar emojis que realmente as representem”, em vez de desenhar refeições que nunca provou ou sítios onde nunca esteve. E já se reuniu com Jennifer Lee, vice-presidente da Unicode Emoji Subcommittee, que gere as propostas de emojis inclusivos, para estudar a possibilidade de os seus desenhos passarem a integrar o teclado oficial.

Lee acredita que os emojis são uma linguagem universal e já submeteu um dos criados por O’Plerou para candidatura: a imagem de uma pessoa com o dedo junto da pálpebra inferior do olho — um gesto que na Costa do Marfim significa “eu avisei-te”. “Representatividade no grande ecrã é importante, mas quando está nos pequenos ecrãs lembra-nos que a diferença existe e que é importante para o mundo.”

Sugerir correcção
Comentar