Exposição
Giovana “preferia estar em casa”, mas está na Ó! Galeria
A casa de Giovana é muito acolhedora. Nela há sempre café quente pronto a servir, plantas de interior viçosas, naperons e porcelanas que a tornam num verdadeiro lar. Lânguida, como quem preguiça junto a um gato adormecido, ela lê. E desenha. Desenha muito quando está em casa, onde desenha mulheres em ambiente doméstico. Apesar do ambiente gritantemente feminino que é patente nas suas ilustrações, Giovana não tem a pretensão de ilustrar o universo feminino, em geral. Fá-lo "em particular", a partir da sua própria experiência."É apenas a minha visão desse universo, que pode ser muito limitada", explica ao P3, em entrevista por email.
Nos últimos anos, Giovana Medeiros, brasileira de Criciúma, entre Porto Alegre e Florianópolis, viveu em várias cidades do mundo. "Já me senti estrangeira de muitas formas", assegura. Estrangeira até dentro do próprio corpo, com quem mantém "uma relação complicada", confessa. Os retratos de I'd Rather Be Home, colecção que inaugura na Ó! Galeria, no Porto, a 11 de Janeiro, reflectem a sensação de "finalmente [alguém] se sentir confortável na própria pele" e de "encontrar momentos de calma e contemplação nos lugares" por onde passa. As mulheres que habitam as suas ilustrações sentem-se bem. Estão em paz consigo próprias. E aglutinam características de muitas mulheres que Giovana conheceu ao longo da vida e considerou inspiradoras.
A guache e lápis de cor, Giovana ilustra livros educativos e revistas. É isso que faz para sobreviver. "Gosto muito de histórias, gosto de ler, gosto de ouvir das pessoas que conheço e de descobrir as histórias que uma cidade nova tem para me contar", conta. Também utiliza o computador para ilustrar. E para pesquisar "história, ciência, literatura". "É algo de que gosto bastante, pois sou bastante curiosa e gosto de ter fontes de inspiração variadas que me permitam criar trabalhos com linguagens diferentes."
A ilustradora já viveu em Dublin, na República da Irlanda, onde sentiu a falta do sol, mas hoje vive em Lisboa. "Visitei Lisboa no ano passado e surgiu a oportunidade de mudar para uma casa, e eu aceitei." Não resistiu à morada "bem iluminada, cheia de plantas e objectos bonitos e bem escolhidos" pela colega de casa Lara — e decidiu ficar. A casa devolveu-lhe memórias da avó, das tias, de um espaço familiar que habitou no passado, no Brasil. "Então, eu digo que mudei primeiro para esta casa e só depois comecei a conhecer a cidade."
Por vezes, para quebrar a monotonia, Giovana sai da sua toca e opta por desenhar em locais públicos. "Acho importante mudar de perspectiva", justifica. Consigo carrega sempre um cadernos e um lápis. É viciada em rabiscar o que vê. "Eu amo desenhar em galerias de arte, que costumam ser muito silenciosas e calmas. Lá consigo criar um momento de imersão com o espaço e as obras. E quando estou viajando, gosto de me sentar num lugar – um café, um restaurante ou parque – e passar um tempo observando e desenhando. É uma maneira incrível de realmente prestar atenção ao que está acontecendo ao meu redor e criar e registar memórias de um lugar novo." É a partir desse lugar novo, Lisboa, que tenta aquecer os corações portuenses, na Ó! Galeria, até 30 de Janeiro. "Espero ter criado imagens que tragam uma sensação de conforto."