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Toda a obra de Shakespeare em mais de uma centena de mudas de roupa
As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos estão no Sá da Bandeira até domingo. Acompanhamos o espectáculo, mas atrás do palco.
O pano do palco do teatro Sá da Bandeira sobe e enquanto o público espera pela entrada dos actores, atrás do cenário, o contrarregra Miguel Bartolomeu prepara-se para apoiar aquilo que será um exercício frenético e de concentração para três actores: Pedro Pernas, Rúben Madureira e Jaime Baeta.
A peça arranca. São as As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos, que em Portugal estreou em 1996 e agora volta aos teatros de vários pontos do país. Depois de sair de Lisboa, nesta sexta-feira subiu até ao Porto para repetir no sábado e domingo.
Ao contrário do público, estamos atrás do palco quando se faz uma pequena introdução da próxima pouco mais de hora e meia de espectáculo. Feitas as apresentações parte-se para a primeira obra das 37 que ali vão ser interpretadas em tempo record por apenas três actores dirigidos pelo encenador António Pires.
Cá atrás, nos bastidores, há outro espectáculo. Pedro Pernas, Rúben Madureira e Jaime Baeta, que encarnam todas as personagens do texto de Adam Long, Daniel Singer e Jess Borgeson, cá adaptado pelo encenador, além do esforço físico a que estão obrigados em palco de uma peça que lhes exige “sangue, suor e lágrimas”, têm outra barreira para ultrapassar - para se multiplicarem de forma a encarnarem todas as personagens mudam de roupa “mais de uma centena de vezes”.
No meio de uma espécie de caos organizado, durante a peça, entram e saem de palco inúmeras vezes para darem vida a outros papeis. Entre gargalhadas do público e enquanto pelo menos um dos actores vai dando a cara na frente do palco, nos bastidores, em poucos segundos, veste-se outra pele. A aguentar essa espiral de movimentos delirante continua Miguel Bartolomeu que vai separando o guarda-roupa e tirando do caminho os figurinos já usados em cena, escolhidos pela figurinista Marta Pedroso.
Além dos movimentos coreografados em palco por Sissi Martins, naquela zona interdita ao público, há uma outra coreografia que dificilmente funcionaria sem a ajuda do contrarregra, que é quem ajuda a garantir que nada falhará nos tempos do texto. É dessa zona do teatro que a lente de Paulo Pimenta captou alguns desses movimentos.
Uns 15 minutos antes de entrarem em cena, ainda não tinham feito o aquecimento, e os outros dois actores já habituados a esta maratona de Shakespeare garantiam a Jaime Baeta – pela primeira vez a participar na peça – que apesar do esforço a que a mesma exige, no final compensa sempre, por não haver quase risco de não funcionar no que toca à resposta do público. As gargalhadas que se ouviram vindas da plateia comprovaram que a previsão estava correcta.