Morreu Buck Henry, que deu ao mundo Olho Vivo e A Primeira Noite

Co-argumentista e co-realizador de O Céu Pode Esperar, que também era actor, era um nome maior da comédia norte-americana. Morreu esta quarta-feira, aos 89 anos.

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Buck Henry, que morreu esta quarta-feira aos 89 aos, em O Céu Pode Esperar, de 1978, também co-escrito por ele, que lhe valeu a nomeação, a meias com Warren Beatty, para o Óscar de Melhor Realização DR

Buck Henry podia ter sido só o argumentista de A Primeira Noite, de Mike Nichols, um dos pontos de partida para a Nova Hollywood, tarefa que lhe valeu uma nomeação para um Óscar de Melhor Argumento Adaptado. Também podia só ter co-criado, com Mel Brooks, a série cómica Olho Vivo, paródia sobre agentes secretos. Qualquer um destes feitos cimentaria a reputação do homem que nasceu Henry Zuckerman em Nova Iorque em 1930 e morreu de ataque cardíaco esta quarta-feira em Los Angeles como uma importante figura de Hollywood.

Mas não se ficou por aí. Ao longo dos seus quase 60 anos de carreira, escreveu mais filmes, conseguiu ser uma presença assídua, como actor, em cinema e televisão e foi também nomeado para o Óscar de Melhor Realização a meias com Warren Beatty por O Céu Pode Esperar, de 1978, também co-escrito por ele e Elaine May e em que participou como actor.

Filho de Ruth Taylor, estrela do cinema mudo, Henry era conhecido pelo seu sentido de humor seco, que aplicou desde que começou, no final dos anos 1950, a aparecer em talk shows televisivos como a figura satírica G. Clifford Prout, presidente da fictícia Society of Indecency to Naked Animals. Foi uma farsa que muitas pessoas levaram a sério. Seguiu-se o trabalho como actor em programas de Steve Allen e David Frost, até chegar, em 1965, Olho Vivo. Dois anos depois, adaptou, com Calder Willingham, A Primeira Noite, romance de Charles Webb, para Mike Nichols, cómico e encenador transformado em realizador no ano anterior. Tornou-se um dos seus trabalhos mais identificáveis. Décadas depois, apareceu a fazer dele próprio em O Jogador, de Robert Altman, tentando vender a ideia de uma sequela de A Primeira Noite a um agente de Hollywood. Voltaria a trabalhar com Nichols, nos anos 1970, como argumentista do falhado Catch-22, adaptação do livro anti-guerra homónimo de Joseph Heller, e Operação Golfinho.

Ainda no cinema, co-escreveu, em 1972, uma memorável homenagem às comédias screwball clássicas feita por Peter Bogdanovich, What's Up Doc? – como parte do ciclo Reis da Comédia, será exibida na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, segunda-feira, dia 27, às 19h, e quinta-feira, 30, às 15h30 –, e, em 1995, Disposta a Tudo, de Gus Van Sant, tendo também trabalhado com realizadores como Barry Levinson ou Herbert Ross. Depois do já mencionado O Céu Pode Esperar, só voltou a trabalhar como realizador em 1980, na comédia também por ele escrita First Family.

Como actor, trabalhou com Miloš Forman, Joan Tewkesberry, John Cassavetes, Albert Brooks ou Tom DiCillo, tendo protagonizado, com Steve Martin, a curta-metragem nomeada para um Óscar The Absent-Minded Waiter, de Carl Gottlieb, em 1977. Em televisão, apareceu ao longo dos anos em séries como Alfred Hitchcock ApresentaWill & GraceMurphy Brown ou 30 Rock e foi, por breves momentos, correspondente do Daily Show na era Jon Stewart, tendo também apresentado dez vezes, nos primeiros anos, o programa de comédia Saturday Night Live e aparecido em mais sete episódios entre os anos 1970 e 1980, contracenando recorrentemente com John Belushi. 

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