Governo atribui Medalha de Mérito Cultural ao arqueólogo Cláudio Torres

“Uma vida dedicada” à investigação histórica e às causas do património cultural e da arqueologia.

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Cláudio Torres Pedro Maia

O Governo decidiu atribuir a Medalha de Mérito Cultural ao arqueólogo Cláudio Torres, em reconhecimento de “uma vida dedicada” à investigação histórica e às causas do património cultural e da arqueologia peninsular, foi anunciado esta quinta-feira.

“Em reconhecimento do inestimável trabalho de uma vida dedicada ao estudo e à investigação histórica e às causas do património cultural e da arqueologia peninsular, tendo ajudado a preservar e a compreender, com a sua obra, uma parcela fundamental da nossa memória colectiva, entende o Governo português prestar pública homenagem a Cláudio Torres, concedendo-lhe a Medalha de Mérito Cultural”, refere o gabinete da ministra da Cultura, Graça Fonseca, em comunicado enviado à agência Lusa.

Segundo o gabinete, a medalha vai ser entregue por Graça Fonseca numa cerimónia na vila alentejana de Mértola, distrito de Beja, no sábado, dia em que Cláudio Torres, natural de Tondela, Viseu, onde nasceu em 11 de Janeiro de 1939, faz 81 anos.

No início dos anos 1960 do século XX, Cláudio Torres, com 21 anos e estudante de Belas-Artes no Porto e oposicionista ao regime de Salazar, sofreu a perseguição da polícia do regime, tendo estado preso durante algum tempo.

Exilado no estrangeiro, trabalhou em diferentes países, como Marrocos e Roménia. Neste último concluiu, em 1973, a licenciatura em História e Teoria da Arte na Universidade de Bucareste. Após o regresso a Portugal, em 1974, iniciou a actividade de docente no Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde leccionou várias cadeiras ligadas à História Medieval.

Em 1978, a convite do primeiro presidente da Câmara de Mértola eleito em democracia, António Serrão Martins, Cláudio Torres "lançou mãos à obra” na “vila-museu”, onde, em 1978, fundou o Campo Arqueológico de Mértola (CAM), que dirige, e para onde se mudou definitivamente, em 1986, depois do afastamento definitivo da Faculdade de Letras.

Além do percurso como lutador antifascista antes do 25 de Abril, “o trabalho pioneiro de Cláudio Torres, já em democracia, contribuiu decisivamente para a mudança da historiografia portuguesa no que diz respeito ao papel do legado islâmico em Portugal e, por essa via, para um maior e mais justo conhecimento da nossa história”, refere o ministério.

A fundação, a longevidade e os resultados globais do CAM, não só para a vila e o concelho de Mértola, mas também para todo o Alentejo, “demonstraram a relevância que os projectos culturais podem ter enquanto factor de desenvolvimento sustentável e como alavanca para a coesão do território”.

“Devemos a Cláudio Torres a visão avançada neste domínio e a sua aplicação em liberdade e democracia”, refere o gabinete de Graça Fonseca, frisando que a visão do arqueólogo “abriu uma nova perspectiva sobre a centralidade do património islâmico em Portugal, que nunca tinha sido possível antes dos seus estudos”.

“Esta será também uma via para a manutenção da paz e para a diplomacia cultural portuguesa com os países que partilham a história e a cultura islâmicas”, frisa.

Cláudio Torres tem desenvolvido actividade científica na área do património cultural, nomeadamente nos domínios da arqueologia, da investigação histórica e da museologia. Na área da arqueologia e da investigação histórica, destaca-se, desde 1978, a direcção das escavações arqueológicas em Mértola.

No âmbito da sua actividade museográfica, fundou o Museu de Mértola e foi consultor e comissário de várias exposições exibidas em Portugal e Marrocos. Entre as obras publicadas, destacam-se Cerâmica Islâmica Portuguesa: Catálogo (1987), Mértola: vila museu (1989) e O Legado Islâmico em Portugal (1998).

Cláudio Torres já recebeu diversas distinções, destacando-se a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, concedida pelo Presidente da República (1993), Prémio Pessoa (1991), doutoramento honoris causa pela Universidade de Évora (2001) e Prémio das Academias Pontifícias do Vaticano concedido pelo Papa Francisco ao Campo Arqueológico de Mértola (2015).

Cláudio Torres fundou a revista Arqueologia Medieval e desempenhou vários cargos, como os de chefe da Divisão Sociocultural da Câmara de Mértola, entre 1986 e 1996, e director do Parque Natural do Vale do Guadiana, entre 1996 e 2002, data em que se reformou. Desde 2006, é membro do Conselho Consultivo na área do Património Cultural do Ministério da Cultura.