Corpo encontrado no trem de aterragem de avião da Air France

Companhia aérea já confirmou que um “passageiro clandestino” foi encontrado morto num avião que vinha da Costa do Marfim. Até este ano, foram registados 125 casos de passageiros clandestinos — 97 morreram durante a viagem enquanto os restantes terão sido presos à chegada.

Foto
REUTERS

Um corpo foi encontrado na manhã desta quarta-feira no trem de aterragem de um avião da Air France que aterrou em Paris. Segundo o Le Figaro, o Boeing 777 descolou de Abidjan, capital económica da Costa do Marfim, na noite de terça-feira e aterrou pouco depois das 05h da manhã na capital francesa, no aeroporto Charles de Gaulle.

A companhia aérea já confirmou que um “passageiro clandestino” foi encontrado morto no trem de aterragem, mas não confirmou a idade da vítima. "A Air France confirma que o corpo sem vida de um passageiro clandestino foi encontrado no compartimento do trem de aterragem do voo AF703 da aeronave que viajava Abidjan para Paris-Charles de Gaulle no dia 7 de Janeiro de 2020”, disse a companhia em comunicado.

Vários meios de comunicação social francesa, incluindo o Le Figaro, avançam que o corpo que foi encontrado é de uma criança que terá cerca de dez anos, mas a companhia aérea recusou comentar essa informação. Fonte próxima da investigação disse à Reuters que também não sabia a idade ou identidade do passageiro.

Ao jornal francês, a Air France expressou a sua “mais profunda solidariedade e compaixão por esta “tragédia humana” e garante que já foi aberto um inquérito que se estende a Paris e a Abidjan para descobrir o que motivou este acontecimento.

Viajar no trem de aterragem

Embora um grande número de pessoas tente entrar na Europa por terra ou por mar, há passageiros que tentam fazê-lo por avião, embora seja mais raro. David Learmount, especialista em aviação e editor na revista Flight International, explicava à BBC em Julho de 2019 que é “muito improvável que alguém sobreviva a esta viagem”. O primeiro desafio para um passageiro clandestino é evitar ser esmagado pelas rodas quando elas se dobram, logo depois da descolagem. Depois, o viajante corre o risco de ser queimado. “Num dia quente os freios atingem temperaturas extremamente altas”, disse o especialista.

Depois da descolagem, as temperaturas podem descer até aos 50ºC graus negativos e existe o risco de morrer de hipotermia ou de falta de oxigénio já que “as condições nesta zona não climatizada são muito diferentes das da cabine”. É uma zona que não é nem aquecida nem pressurizada. Em viagens aéreas de longa distância, em que os aviões atingem maiores altitudes, os passageiros clandestinos podem ter de enfrentar 60ºC negativos, a temperatura média anual registada nas partes mais frias da Antárctida.

Aqueles que conseguem sobreviver ao voo precisam ainda de ficar atentos e despertos até ao momento da aterragem. Quando o avião se aproxima do aeroporto, as portas do alçapão abrem-se e os passageiros clandestinos precisam de se segurar para não caírem. “A maioria cai porque é uma posição difícil, ou porque nessa altura já estão mortos ou inconscientes”, explicava Learmount à BBC.

De acordo com os dados da Federal Aviation Administration (FAA, a autoridade nacional de aviação norte-americana) citados pela BBC, desde 1947 foram registados 125 casos de passageiros clandestinos, num total de 109 voos — 97 morreram durante a viagem enquanto os restantes terão sido presos à chegada. Muitos dos passageiros que sobreviveram ficarão com lesões graves e viram os seus membros amputados por causa do frio extremo ou de outras lesões, mas a grande parte morreu.

Em 2004, o cadáver de um homem foi encontrado num pomar na localidade do Areeiro, na Charneca da Caparica. De acordo com fonte policial, o indivíduo seria um imigrante clandestino que caiu do trem de aterragem de um avião. O homem terá viajado num avião comercial proveniente da Tunísia, o único voo oriundo do Norte de África com destino a Lisboa naquela madrugada.

Segundo os dados compilados pela autoridade de aviação norte-americana, os passageiros clandestinos foram encontrados em mais de 40 países, como Cuba, China, República Dominicana, África do Sul e Nigéria. A maior parte dos passageiros vinha de África (34 casos), da região do Caribe, da Europa e da Ásia.

Ainda que as hipóteses sejam escassas, há quem tenha sobrevivido à viagem. Em 2014, um adolescente de 16 anos sobreviveu a um voo de cinco horas sobre o Oceano Pacífico, escondido dentro daquele compartimento de um avião companhia aérea Hawaiian Airlines. As autoridades havaianas disseram que foi um “milagre” o rapaz, que não foi identificado, ter sobrevivido praticamente sem oxigénio, a uma altitude de 12 mil metros e com temperaturas a rondar os 60 graus negativos.

Sugerir correcção
Comentar