Festival Terras sem Sombra decorre em 13 concelhos alentejanos e vai até à República Checa

Edição 2020 contará com 18 concertos e um programa especial para crianças.

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Vinda da República Checa, a orquestra barroca Musica Florea será um dos nomes do Terras Sem Sombra 2020 DR

A 16.ª edição do Festival Terras sem Sombra, apresentada esta terça-feira em Lisboa, decorre de 18 de Janeiro até 11 de Julho em 13 concelhos alentejanos, sob o mote Uma Breve Eternidade: Emoções e Comoções na Música Europeia (Séculos XII-XXI).

De carácter itinerante, o festival tem este ano como país convidado a República Checa, após edições em que visitou Espanha, a Hungria e os Estados Unidos. O programa inclui concertos, conferências, iniciativas pedagógicas, masterclasses, visitas guiadas e iniciativas de salvaguarda dos recursos da biodiversidade, sendo todas as actividades – mais de mais centena – gratuitas.

Um dos destaques da edição de 2020 é um núcleo programático pensado para as crianças, o Kids Terras sem Sombra, que tem “o objectivo de reunir as famílias em torno da música e dos patrimónios artístico e natural”, explicou à agência Lusa a directora executiva do certame, Sara Fonseca, realçando “a firme vontade de partilhar e projectar o legado cultural e natural do Alentejo” e “o interesse em criar novos públicos”, referindo o papel que o festival vem desempenhando na frente da “descentralização cultural”.

Para esta edição estão programados 18 concertos, que abarcam um amplo repertório musical desde a Idade Média até à actualidade. O festival percorrerá 12 concelhos alentejanos, mais três do que no ano passado: Vidigueira, Barrancos, Mértola, Arraiolos, Viana do Alentejo, Beja, Ferreira do Alentejo, Castelo de Vide, Sines, Alter do Chão, Santiago do Cacém e Odemira.

Na apresentação do festival, que decorreu esta tarde na Academia das Ciências de Lisboa, o embaixador checo na capital portuguesa, Petr Selepa, lembrou que a participação do seu país no Terras Sem Sombra começou a ser preparada em 2018. Na próxima quinta-feira, o festival viaja até Praga para um evento de pré-apresentação que terá lugar no Convento de Santa Inês da Boémia e que contará com a participação musical do Grupo Coral Os Boinas, fundado em 2015 e tendo por ensaiador Fernando Candeias.

A abertura do Terras Sem Sombra 2020 far-se-á no próximo dia 18 na Igreja de S. Cucufate, em Vila de Frades, concelho da Vidigueira, com o agrupamento checo Tiburtina Ensemble, que ali apresentará o concerto Harmonia Caelestis: A Corte Divina na obra de Hildegarda Bilgen. rupo coral feminino especializado em canto gregoriano, polifonia medieval e música contemporânea, integra as sopranos Ivana Bilej Brouková, Teresa Hvlíková e Renata Zafková, a meio-soprano Anna Chadimová Halíkova e ainda Daniela Cermáková (alto) e Barbora Kabátková (soprano, harpa medieval e direção musical).

Ao concerto na Vidigueira sucede-se o do violoncelista Pedro Bonet, a 1 de Fevereiro, no Cineteatro de Barrancos. O contratenor José Hernández Pastor, a flautista Monika Streitová, a pianista Ana Telles, o ensemble La Ritirata, o Kállai String Quartet, a soprano Andión Fernandez (acompanhada pelo pianista Alberto Urroz), o grupo vocal Utopia Ensemble, o Clarinet Factory, e o ensemble Cupertinos, que apresenta o concerto Salve Regina: O Culto de Maria na Obra de D. Pedro de Cristo, protagonizarão outras actuações do Terras Sem Sombra.

O encerramento do festival terá lugar a 11 de Julho na Igreja de N. S. de Fátima, em Vila Nova de Milfontes, onde o ensemble checo Musica Florea, fundado pelo violoncelista e director musical Marek Stryncl, apresentará o concerto Deus, Pátria, Rei: A Música da Era Barroca em Praga.

Este ano o Terras Sem Sombra contará também com um “concerto-surpresa”, no dia 13 de Junho. Acontecerá num “lugar-surpresa” e a “uma hora-surpresa”. A ideia, segundo a organização, é conjugar a tradição dos Santos Populares com o solstício de Verão.

A par da programação musical, o festival projecta um conjunto de visitas guiadas por peritos a vertentes pouco conhecidas do património material e imaterial e acções de sensibilização sobre as vantagens de preservação da biodiversidade. Está prevista uma visita ao Sítio Arqueológico de São Cucufate, na Vidigueira, um mergulho no legado islâmico em Mértola, encontros sobre os Tapetes de Arraiolos, sobre o Chocalho e a Arte Chocalheira e sobre o barranquenho, “a língua não oficial da zona raiana de Barrancos”. Também as memórias judaicas de Castelo de Vide, a cestaria em Odivelas, no concelho de Ferreira do Alentejo, as artes tradicionais da pesca em Sines, a Coudelaria de Alter, o sítio arqueológico de Miróbriga (Santiago do Cacém) ou o Forte de São Clemente, em Vila Nova de Milfontes, estarão em destaque.

No âmbito da valorização do património natural, o Terras sem Sombra deste ano vai efectuar acções de salvaguarda in situ nos laranjais da Vidigueira e no rio Ardila, que nasce em Espanha e desagua na margem esquerda do rio Guadiana, próximo de Moura. Previstas estão também uma iniciativa de sensibilização sobre agricultura sustentável em Mértola e outra sobre a protecção da raça bovina garvonesa ou chamusca na Herdade da Mata, em Alcáçovas, que desde 1994 a tem preservado.

O uso alimentar da bolota colhida nos montados de Arraiolos, a produção artesanal da cal, na freguesia de Trigaches, em Beja, as redes funcionais da biodiversidade de Ferreira do Alentejo, a Serra de São Mamede, os peixes, moluscos e crustáceos, o cavalo lusitano e o uso da salada na dieta mediterrânica serão outros temas abordados nesta edição do Terras Sem Sombra.

O festival é apresentado esta terça-feira na Academia das Ciências de Lisboa, instituição fundada por duas figuras ligadas ao Alentejo: o abade Correia da Serra e João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas da Silva, 2.º duque de Lafões.

O festival é organizado pela associação Pedra Angular; conta com múltiplas parcerias e um apoio de 137,5 mil euros da Direcção-Geral das Artes para 2020 e 2021. O orçamento para esta edição é de 360 mil euros.