Regime de Maduro tenta afastar Guaidó da fonte da sua legitimidade
Oposição diz que Presidente interino foi impedido de ser reconduzido como presidente da Assembleia Nacional. Esta terça-feira haverá duas sessões parlamentares em confronto.
O embate institucional na Venezuela aprofundou-se depois da caótica tomada de posse da nova liderança da Assembleia Nacional, no domingo, em que Governo e oposição escolheram diferentes personalidades. Há receio de que a primeira sessão parlamentar do ano, agendada para esta terça-feira, abra um novo capítulo no confronto.
Os apoiantes do auto-proclamado Presidente interino, Juan Guaidó, acusaram o regime de terem sido impedidos de chegar ao edifício da Assembleia Nacional, em Caracas, onde no domingo decorria a votação para a presidência do parlamento. No local havia uma intensa presença policial e vários deputados foram impedidos de entrar. Um vídeo mostra o próprio Guaidó a tentar subir às grades que rodeiam a Assembleia sem sucesso.
No interior da sala do hemiciclo desenrolava-se uma sessão caótica, sem a presença de jornalistas, em que o deputado Luis Parra, que até há pouco tempo fazia parte da coligação oposicionista da Mesa de Unidade Democrática, tomou posse como presidente da Assembleia Nacional. Segundo a oposição, Parra é um de vários deputados que faziam parte da MUD que foram aliciados pelo Governo para tentar enfraquecer a maioria parlamentar que apoia Guaidó.
A oposição acusou o regime de ter orquestrado um “golpe” para tirar Guaidó do cargo e garante que não estava presente o número mínimo de deputados para que a votação fosse legal. “Lamento profundamente o embaraçoso espectáculo da ditadura para tentar impedir o inevitável”, declarou Guaidó.
Deputados pró-governamentais disseram que Guaidó não compareceu à sessão na Assembleia Nacional porque não dispunha de uma maioria para ser reeleito e acusaram a oposição de ter tentado atrasar a votação.
Sem poder entrar na Assembleia, o líder da oposição organizou uma sessão improvisada na sede do jornal El Nacional, crítico do regime de Nicolás Maduro, onde cerca de uma centena de deputados o reconduziram para chefiar o parlamento. “Hoje, mais uma vez, derrotámos a ditadura”, afirmou Guaidó. “Derrotámos de forma inabalável as intenções do ditador”, acrescentou.
Tanto Guaidó como Parra marcaram uma sessão parlamentar para esta terça-feira, antecipando-se um novo confronto entre Governo e oposição.
Vários países criticaram o Governo de Caracas e reconheceram Guaidó como presidente da Assembleia Nacional, incluindo os EUA, a União Europeia e o Brasil. Washington acusou o regime de estar a ir “totalmente contra a vontade do povo” e Bruxelas descreveu o episódio como “um novo passo na deterioração da crise venezuelana”.
Para o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, o que se passou no domingo é “inaceitável” e recusou reconhecer a “pretensa eleição” de Parra.
A manutenção da presidência da Assembleia Nacional é crucial para Guaidó, que há um ano lançou o mais sério desafio a Maduro quando se proclamou Presidente interino – foi a partir da presidência da Assembleia, onde há uma maioria da oposição desde 2015, que Guaidó encontrou justificação constitucional para tomar a iniciativa. Desde então, o deputado oposicionista foi reconhecido por cerca de 60 países, incluindo Portugal, como chefe de Estado legítimo.