“Desculpa, Netflix”: Era Uma Vez... em Hollywood, Joaquin Phoenix e 1917 vencem Globos de Ouro

Na TV, menos surpresas do que as reservadas para o cinema, com Succession e Fleabag a confirmarem o seu favoritismo. Plataforma Netflix, que liderava com 34 nomeações, acabou por levar apenas dois prémios.

Fotogaleria
Phoenix, a estrela de Joker, e Brad Pitt, de Era Uma Vez em... Hollywood DR
Fotogaleria
O elenco e equipa de Succession Reuters
Fotogaleria
Ellen DeGeneres ladeada por Kate McKinnon Reuters
Fotogaleria
Brian Cox foi o melhor actor de uma série dramática por Succession Reuters
Fotogaleria
Quentin Tarantino teve uma dupla vitória, como argumentista e como autor do Melhor Filme de Comédia ou Musical Reuters
Fotogaleria
Laura Dern, melhor actriz secundária de um filme dramático por Marriage Story Reuters
Fotogaleria
Brad Pitt e Leonado DiCaprio Reuters
Fotogaleria
Olivia Colman vencedora com The Crown Reuters/HANDOUT
,Prêmios Globo de Ouro
Fotogaleria
Patricia Arquette venceu por The Act Reuters
Fotogaleria
Tom Hanks em palco com Charlize Theron Reuters
Fotogaleria
Michelle Williams fez um dos discursos da noite Reuters
Fotogaleria
Charlize Theron e Gwyneth Paltrow na passadeira vermelha MARIO ANZUONI/Reuters
Fotogaleria
Sam Mendes MIKE BLAKE/Reuters
Fotogaleria
Brad Pitt ao receber o seu Globo por Era Uma Vez... em Hollywood Reuters
Fotogaleria
Awkwafina Reuters
Fotogaleria
Taron Edgerton Reuters
Fotogaleria
A equipa de Fleabag Reuters
Fotogaleria
MIKE BLAKE/Reuters
Fotogaleria
Reese Witherspoon e Jennifer Aniston EPA/HFPA
Fotogaleria
Ricky Gervais EPA/HFPA

A cerimónia da 77.ª edição dos Globos de Ouro foi uma noite de duas narrativas. Por um lado, a Netflix não triunfou nem no cinema, deixando O Irlandês sem prémios e dando apenas música a Marriage Story, nem na televisão. Por outro, deixou o lembrete de que na temporada de prémios do cinema dos EUA não se devem esquecer os concorrentes que vêm de trás, como Joker e Era Uma Vez... em Hollywood, nem os que ainda estão a chegar, como 1917, o épico de guerra de Sam Mendes. Conhecidos como uma festa e não uma previsão certeira para os Óscares, os Globos estiveram mais em sintonia com o outro sector da indústria — a televisão, premiando Succession e Chernobyl, da HBO, e Fleabag, da Amazon/BBC.

Numa cerimónia de um pouco mais de três horas, madrugada dentro e sem transmissão televisiva em Portugal, os Globos de Ouro foram apresentados por Ricky Gervais pela quinta vez. O seu monólogo foi previsivelmente ácido. “Se receberem um prémio não o usem como plataforma para um discurso político”, aconselhou às estrelas presentes. “Não estão em posição para dar sermões ao público sobre nada — a maior parte de vós passou menos tempo na escola do que Greta Thunberg”, brincou, para ser prontamente ignorado por galardoados como Michelle Williams, Patricia Arquette ou Joaquin Phoenix, que fizeram discursos políticos sobre o direito ao aborto, a importância do voto, a tensão com o Irão, os fogos na Austrália e as alterações climáticas.

Monólogo de Ricky Gervais

Seria apenas um dos momentos de dissonância da noite, que parecia fadada para finalmente coroar a Netflix como um estúdio entre as majors de Hollywood com as suas 34 nomeações — entre as quais seis para Marriage Story, de Noah Baumbach, o filme mais nomeado —, mas que, mesmo com a armada de veteranos de Martin Scorsese a postos, viu os prémios fugir-lhe por entre os dedos. A luta era evidente em todas as frentes, com a HBO a fincar pé na televisão com os sucessos populares e críticos que são Chernobyl, melhor série limitada (aquelas que têm apenas uma temporada e focadas num só tema), ou Succession, melhor drama, e a Amazon a roubar a glória do streaming com Fleabag.  

Laura Dern começa a noite com o Globo de Actriz Secundária num Drama pelo seu papel em Marriage Story, da “incrível Netflix”, saudando o sorridente “nobre Ted [Sarandos, presidente da empresa]”. Sam Mendes terminou a noite com a vitória do seu 1917 (estreia-se em Portugal dia 23), e aproveitando o seu próprio galardão de melhor realizador para fazer eco da polémica em torno das estreias nulas ou limitadas dos filmes de Scorsese ou Baumbach em sala: “Espero que isto signifique que as pessoas vão aparecer e ver [1917] no grande ecrã, como é suposto”. Entre ambos, quando Chernobyl triunfou como melhor série limitada, o seu protagonista Jared Harris lembrava: “Não é tudo sobre a Netflix — desculpa, Netflix”.

Mas, ainda assim, tudo bons rapazes numa categoria sem realizadoras nomeadas e Sam Mendes foi o primeiro a verbalizar a “grande surpresa” que foi o seu prémio, lembrando que “não há um único realizador no mundo que não esteja na sombra de Martin Scorsese”.

O melhor filme de comédia ou musical foi Era Uma Vez... em Hollywood, da Sony e de Quentin Tarantino, que também foi premiado pelo seu argumento (“Não acredito que ganhei em vez de Steven Zaillian [O Irlandês]”) e que viu subir ao palco uma das suas estrelas, Brad Pitt, para receber o galardão de actor secundário — Leonardo DiCaprio (ou “LDC”, como resumiu Pitt no seu discurso), que competia como actor principal pelo mesmo filme sobre uma história alternativa de 1969, perdeu para Taron Edgerton na sua interpretação de Elton John em Rocketman.

Os pesos pesados da Netflix (Adam Driver por Marriage Story, favorito às nomeações para os Óscares, e Jonathan Pryce por Os Dois Papas) foram batidos por um dos papéis que mais eco teve junto do grande público, o do Joker de Joaquin Phoenix que já desde o final do Verão passado parece ter capturado o zeitgeist e fortalecido a Warner Brothers. Marriage Story de Scarlett Johansson ou Mulherzinhas (estreia-se em Portugal dia 30) de Saoirse Ronan, bem como Bombshell de Charlize Theron (estreia-se em Portugal dia 23), não chegaram para bater Renée Zellwegger como Judy Garland em Judy. Awkwafina tornou-se a primeira asiática americana a receber o Globo de Melhor Actriz de Comédia por A Despedida. Mais previsível foi o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro para Parasitas, de Bong Joon-Ho (Coreia do Sul).

Barómetro de popularidade

A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, ao contrário das outras agremiações que atribuem prémios de cinema e televisão, não tem entre os seus 93 membros quaisquer votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, os perto de sete mil profissionais da indústria que escolhem os Óscares. O seu poder previsivo é escasso. Ainda assim, os Globos tornaram-se na segunda mais mediática das noites de Hollywood e permitem por vezes antever qual o rumo das campanhas promocionais ou da popularidade de cada filme, actor ou candidatos para os cobiçados Óscares, cujas nomeações são conhecidas dia 13 — as votações ainda decorrem até terça-feira dia 7.

Uma temporada que já está encerrada é a de prémios de televisão, onde os Globos de Ouro estiveram mais de acordo com as críticas de final de ano e com os Emmys. Fleabag recebeu os dois expectáveis prémios para Melhor Série de Comédia e Melhor Actriz para a sua autora Phoebe Waller-Bridge (que fez questão de “agradecer a Obama por nos pôr na lista dele [de séries de 2019]. Como alguns de vós sabem, ele sempre esteve na minha lista”, brincou, aludindo à primeira temporada em que Fleabag se masturba durante um discurso do ex-Presidente). O seu homólogo na comédia foi Ramy Youssef, pela série do Hulu Ramy. Succession deu dois dos três grandes prémios à HBO (que partia com 15 nomeações) como melhor drama e melhor actor para o patriarca Brian Cox, que em 2021 cumprirá 60 anos de carreira.

Olivia Colman confirmou a predilecção da Associação de Imprensa Estrangeira por The Crown e, com a sua vitória na categoria de melhor actriz numa série dramática deu à Netflix o outro dos seus únicos dois prémios destes Globos. “No último ano sinto que estou a viver a vida de outra pessoa e agora sinto decididamente que recebi o prémio de outra pessoa”, disse depois do Óscar de 2019 por A Favorita e perante a sua concorrência como Jennifer Aniston ou Reese Witherspoon por The Morning Show, da Apple TV+ (que saiu com zero prémios), ou Nicole Kidman, por Big Little Lies.

Um mundo de discursos

À medida que a noite se ia arrastando, a televisão ia ficando para trás e o cinema, que Ricky Gervais tinha garantido que já não interessava a ninguém, ocupava as horas nobres da cerimónia. Mas antes, Michelle Williams, melhor actriz numa série limitada por Fosse/Verdon (uma série FX que chega dia 15 a Portugal via HBO), fez um dos mais eloquentes discursos, apelando ao voto: “Mulheres, quando for altura de votar, façam-no no vosso melhor interesse. É o que os homens fazem e por isso é que o mundo é tão parecido com eles”.

Os convidados especiais da noite foram Tom Hanks, conhecido como “o homem mais simpático de Hollywood” e que recebeu, emocionado, o Prémio Cecil B. DeMille, e Ellen DeGeneres, homenageada com o segundo prémio Carol Burnett e destacada pela visibilidade que na sua carreira deu à comunidade gay, transgénero e queer. “Se não a tivesse visto na TV, teria pensado ‘oh, nunca poderei aparecer na TV, não deixam pessoas LGBTQ na TV’”, disse Kate McKinnon ao apresentá-la. Foram os momentos calorosos e confortáveis da noite conduzida por um apresentador que se atirou à Apple e suas práticas laborais na Ásia, à proximidade de Hollywood com Jeffrey Epstein ou Harvey Weinstein, à prisão de Felicity Huffman por fraude ou ao gosto de DiCaprio por mulheres mais novas e fez piadas sobre o rabo de Judi Dench.

Joaquin Phoenix teria dos últimos discursos para mais tarde discutir, silenciado em parte pelo uso de palavrões, quando elogiou a ementa vegan da cerimónia, negou a competição entre os nomeados, admitiu sentir-se intimidado por Christian Bale e apelou a mais do que o voto. “Às vezes temos de fazer mudanças em nós próprios”, apelou, criticando os hábitos poluentes dos jactos privados das elites como a de Hollywood. “Ao contrário do que pensam não quero agitar as águas, mas as águas estão agitadas.”

VENCEDORES E NOMEADOS NAS PRINCIPAIS CATEGORIAS

CINEMA

Melhor Filme Dramático

Melhor Filme de Comédia ou Musical

Melhor Actriz num Drama

  • Renée Zellwegger, Judy
  • Cynthia Erivo, Harriet
  • Scarlett Johansson, Marriage Story
  • Saoirse Ronan, Mulherzinhas
  • Charlize Theron, Bombshell: O Escândalo

Melhor Actor num Drama

Melhor Actriz em Comédia ou Musical

Melhor Actor em Comédia ou Musical

Melhor Realização

Melhor Filme de Animação

Melhor Filme em Língua Estrangeira

Melhor Argumento

Melhor Actriz Secundária

  • Laura Dern, Marriage Story
  • Kathy Bates, Richard Jewell
  • Annette Bening, The Report
  • Jennifer Lopez, Ousadas e Golpistas
  • Margot Robbie, Bombshell

Melhor Actor Secundário

  • Brad Pitt, Era Uma Vez Em... Hollywood
  • Tom Hanks, A Beautiful Day in the Neighborhood
  • Anthony Hopkins, The Two Popes
  • Al Pacino, O Irlandês
  • Joe Pesci, O Irlandês
     

TELEVISÃO

Melhor série dramática

Melhor Actriz numa série dramática

Melhor Actor numa série dramática

Melhor série de comédia

Melhor Actriz numa série de comédia

Melhor Actor numa série de comédia

  • Ramy Youssef, Ramy
  • Michael Douglas, The Kominsky Method
  • Bill Hader, Barry
  • Ben Platt, The Politician
  • Paul Rudd, Living with Yourself

Melhor Telefilme ou série limitada

  • Chernobyl (HBO)
  • Catch-22 (Hulu/HBO Portugal)
  • Fosse/Verdon (FX)
  • The Loudest Voice (Showtime/HBO Portugal)
  • Unbelievable (Netflix)

Melhor Actriz num telefilme ou série limitada

  • Michelle Williams, Fosse/Verdon
  • Kaitlyn Dever, Unbelievable
  • Joey King, The Act
  • Helen Mirren, Catherine the Great
  • Merritt Wever, Unbelievable

Melhor Actor num telefilme ou série limitada

  • Russell Crowe, The Loudest Voice
  • Chris Abbott, Catch-22
  • Sacha Baron Cohen, The Spy
  • Jared Harris, Chernobyl
  • Sam Rockwell, Fosse/Verdon
Sugerir correcção
Ler 2 comentários