O Dakar da terra nova, das leis regionais e da grande estreia de Alonso
Mítica prova de todo-o-terreno estreia-se na Ásia. Os habituais favoritos estão presentes, mas a comitiva portuguesa já foi mais forte.
Poucos ousarão dizer que o Dakar tem o mesmo brilho dos tempos em que partia da Europa e chegava à capital do Senegal, mas também poucos se atreverão a dizer que, em 2020, o Dakar não tem motivos de sobra para colher atenções. Há um palco novo, não faltam as figuras habituais, há estrelas novas que trazem mediatismo e não faltam, até, leis polémicas para apimentar o contexto desta competição.
A partir de hoje — e pela primeira vez —, o Dakar corre-se no continente asiático e, depois da Europa, de África e da América do Sul, é agora a vez de o médio Oriente receber a prova de todo-o-terreno. Na Arábia Saudita, a 42.ª edição da corrida terá, como habitualmente, muito deserto e, sobretudo, muita areia. Mais até do que é habitual, com 70% de areal, algo que será, porventura, o maior desafio deste Dakar. E isto significa, por extensão, o aumento do peso de uma boa navegação — e há portugueses com funções importantes neste capítulo.
A mudança para a Arábia Saudita traz, além da areia a mais e do aumento dos quilómetros cronometrados, algumas polémicas. Várias ONG criticaram a presença do rali em território saudita, por considerarem que realizar o evento no país banaliza, normaliza e escamoteia as violações de direitos humanos cometidas na região. É uma “operação de lavagem de imagem”, argumentam mais de uma dezena de organizações não governamentais.
Correr um Dakar na Arábia Saudita tem, ainda, outra particularidade, esta relacionada directamente com o dia-a-dia dos pilotos: bebidas alcoólicas e carne de porco não vão seguir viagem, estando totalmente banidos da ementa da cantina da caravana.
Há muita coisa inédita nesta edição, mas, pelo menos no plano desportivo, a tradição ainda é o que era: Stéphane Peterhansel volta a correr — é a 31.ª participação do francês (que tem o recorde de 13 triunfos) —, bem como Nasser Al-Attiyah, vencedor em 2019. Nos carros, destaque, também, para Carlos Sainz, Nani Roma e De Villiers, já “clientes habituais” na pirâmide do favoritismo e todos já titulados nesta década.
Por último — mas em primeiro no mediatismo —, há Fernando Alonso. O ex-campeão de Fórmula 1 estreia-se na prova, e logo com um Toyota igual ao de Al-Attiyah, o actual “rei do Dakar”. O motor está lá, a experiência da equipa também, bem como o traquejo do piloto em competições mediáticas. Falta, “apenas”, a capacidade de evitar os já tradicionais problemas que apoquentam os rookies. E será aí que Alonso balanceará entre uma estreia de sonho, uma estreia razoável ou uma estreia desastrosa.
Nas motos, o equilíbrio dos últimos anos promete uma prova interessante e que contará com o actual campeão Toby Price, o cabeça-de-cartaz, bem como com os também já vencedores Mathias Walkner e Sam Sunderland. E, claro está, Paulo Gonçalves.
Gonçalves regressa a uma prova que quase venceu em 2015 (terminou em segundo lugar), mas, para 2020, a meta é mais modesta. “O objectivo é terminar. Assegurada essa parte, espero fazê-lo, se possível, com um bom resultado”, confessou, à agência Lusa. Aos 39 anos, na 13.ª participação no Dakar, Paulo Gonçalves não quer ouvir falar de um possível triunfo.
Ainda nas motos, mas fora da pista, o ex-piloto Rúben Faria é, agora, o director-desportivo da Honda, que pretende quebrar os 18 anos consecutivos de vitórias da KTM, um rival que conta, porém, com os principais favoritos nas suas fileiras: Price, Walkner e Sunderland.
Entre os restantes portugueses — que são 13, entre pilotos e navegadores —, destaque para Paulo Fiúza, que, acompanhando e guiando Stéphane Peterhansel, tem uma vitória final como objectivo real. Outro navegador com objectivos de topo é Pedro Bianchi Prata, que acompanhará Conrad Rautenbach na categoria SSV (buggy).