A viragem consumou-se: motor a gasolina pôs fim ao reinado diesel

Motor a gasóleo liderava há 15 anos. Agora, mais portugueses preferem carros a gasolina. Eléctricos puros cresceram 2,7%. Tesla tem quota de 27,8%.

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Nuno Ferreira Santos

A tendência já vinha de trás e o desfecho era o segredo mais mal guardado da indústria, mas mesmo sendo esperada, merece destaque: o motor a gasolina destronou o carro a gasóleo no mercado de ligeiros de passageiros. O diesel era a opção preferida em Portugal desde 2004, segundo dados da ACEA. Ao fim de 15 anos, o comércio automóvel está num novo capítulo.

Ninguém culpou até agora, como sucedeu há um ano, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, por ter dito em Janeiro de 2019 que os carros a gasóleo vão perder o seu valor comercial em quatro anos. Porque a tendência de quebra na compra dos carros a gasóleo começou, em toda a Europa, nos anos de 2012 e 2013, quando rebentou o escândalo dieselgate, que revelou a manipulação deliberada de emissões em marcas como a Volkswagen nos motores diesel. A morte prematura de quase 38 mil pessoas, em 2015, é atribuída às emissões acima das anunciadas. A VW tem sido castigada desde então, com multas milionárias em todo o mundo.

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O mercado nacional acompanhou essa tendência a partir de 2013, à medida que consumidores europeus na Alemanha, na França, em Espanha e no Reino Unido abdicavam do motor a gasóleo no momento de adquirir um carro novo. Mas o ritmo de quebra era menor – a subsidiação, por via fiscal, do gasóleo pode ter ajudado a estancar essa perda de popularidade, sobretudo entre frotas empresariais, que são muito importantes no mercado nacional.

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Porém, o momento da viragem confirmou-se nos últimos 12 meses. Os dados da ACAP – Associação Automóvel de Portugal mostram que dos 223.799 ligeiros de passageiros comprados em 2019, 49,2% têm motor a gasolina e 89.417 têm motor a dieseluma quota de 40% para o gasóleo.

É preciso recuar a 2002 para encontrar uma quota mais baixa no motor diesel em Portugal. Nesse ano, foi de 34,6%.

Mas esta é apenas metade da história. Porque se se acrescentar a estes resultados as compras de comerciais ligeiros, o caso muda de figura e o diesel volta a ser rei e senhor no mercado nacional.

Com efeito, nos ligeiros de mercadorias, a presença do motor a gasóleo é esmagadora: 99,1% dos 38.454 carros deste mercado são diesel e apenas 0,2% (90 veículos) têm motor a gasolina.

Somando os ligeiros de passageiros com os ligeiros de mercadorias, o balanço de 2019 é este: as vendas do diesel são 48,6% e as da gasolina são 42%. Mesmo assim, é a quota mais baixa do diesel na totalidade do mercado nacional em 15 anos.

Em termos globais, Portugal comprou menos carros novos em 2019 do que em 2018. Foi uma quebra de 2%, que já era esperada pela indústria e por comercializadores. A grande dúvida era qual seria o ritmo de crescimento no emergente segmento dos eléctricos. E, nesse âmbito, os eléctricos puros registaram um crescimento de 2,7%, para um total de 7096 unidades vendidas.

A Tesla, que começou em Fevereiro as entregas do Model 3 em Portugal, vendeu 1979 carros em território nacional em 2019. O que lhe dá 27,8% de quota de mercado nos eléctricos puros. É um crescimento acelerado em menos de dez meses, que assentará no sucesso comercial do Model 3, um carro da gama premium que restituiu a liderança comercial nos EUA a um construtor norte-americano EUA.

A Tesla assumiu a liderança do mercado de eléctricos ao fim de sete meses, ultrapassando a Nissan. Nas ajudas do Estado à aquisição de eléctricos, 69% das verbas estavam a ir para empresas, segundo contas até Julho.

Nos motores alternativos aos combustíveis fósseis, há ainda a destacar as vendas dos híbridos eléctricos e plug-in. No caso dos primeiros, regista-se um aumento de 3,3% nos híbridos eléctricos/gasolina, para 8545 unidades e um crescimento quase nulo nos híbridos eléctricos/diesel (+0,3% para 883 carros vendidos).

No segundo caso, os plug-in/gasolina crescem 1,8% para 4653 carros comprados; e os plug-in/diesel cresceram 0,4% para 1145 unidades. Tudo somado, no domínio dos eléctricos, puros plug-in ou híbridos, a quota de mercado subiu para 8,5%.

Acrescentando os híbridos não eléctricos, com destaque para os GPL/gasolina (venderam-se 20112, mais 0,8%) e os motores a Gás Natural, verifica-se que os motores alternativos aos combustíveis fósseis somaram, em 2019, 9,3% das vendas de automóveis em Portugal.

Em marcas, continua tudo na mesma no topo da lista, que é liderada por Renault, Peugeot e Citroën. As mudanças dignas de nota são os trambolhões da Opel (adquirida pela PSA, que tem uma fábrica em Portugal) e da Nissan.

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