Uma raposa sozinha contra os lobos
Vincent Moulia nasceu pobre, num recanto perdido de França. Com 26 anos, mandaram-no para a Grande Guerra. Depois, quiseram fuzilá-lo. Fugiu, sobreviveu, recusou ser vítima. Fez um valente manguito ao autoritarismo. Morreu em 1984.
No filme O Pianista, de Roman Polanski, baseado na vida de Wladyslaw Szpilman, há uma cena muito breve, mas absolutamente pungente. O pianista judeu do título, acossado pelos nazis em Varsóvia, acoita-se por uma noite em casa de uma gentia, uma violoncelista que conhecera antes da guerra. Entre ambos houvera uma atracção mútua imediata, mas as perseguições dos alemães mataram o romance antes sequer que ele tomasse forma. De manhã, Szpilman acorda ao som da música. Levanta-se do sofá, entreabre a porta da sala e, por momentos, contempla a mulher que, na divisão contígua, toca uma suite de Bach para violoncelo. Está grávida do homem com quem se casou entretanto. Szpilman vislumbra ali, através daquela fresta, a vida que poderia ter sido a sua, se os nazis não tivessem invadido a Polónia.
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