You, uma segunda obsessão para desconstruir ideias tóxicas sobre relações amorosas
A série pretende desconstruir as “ideias tóxicas que temos sobre a masculinidade, a identidade de género e as relações amorosas”. Nesta segunda temporada, o protagonista volta a ficar morbidamente apaixonado (desta vez por Love, interpretada por Victoria Pedretti).
O psicopata Joe — agora Will — está de volta para uma segunda temporada na série You, com um novo nome numa nova cidade e com uma nova obsessão amorosa que nos faz pensar na toxicidade associada a estas relações e no quão errado é sentir empatia por um psicopata manipulador. A série estreou-se há um ano e os dez episódios da segunda temporada de You ficaram disponíveis nesta quinta-feira, na Netflix.
Para o protagonista Penn Badgley, esta produção deve fazer com que os espectadores pensem na razão pela qual estão a ver a série sabendo que o Joe não é boa pessoa — mas sim um psicopata voyeur que não olha a meios para conquistar as mulheres por quem se apaixona, para quem olha como um objecto de fascínio delicado que ele entende e protege. E que pensem: “Estou à espera que ele no final seja boa pessoa? Porque é que estou à espera disso?”, problematizou, numa entrevista à Time.
“Se toda a gente que visse a série pensasse ‘bem, isto é perturbador, mas é divertido’, isso seria problemático. Há quem faça isso. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas estão a pensar de forma diferente e isso dá-nos um motivo para continuar a desconstruir estas ideias tóxicas que temos sobre a masculinidade, a identidade de género e as relações amorosas”, comentou o actor Penn Badgley (que antes foi o Dan de Gossip Girl).
A série começou com a obsessão do livreiro Joe com a escritora Beck (interpretada por Elizabeth Lail), mas agora há uma nova “presa”: a jovem chef Love Quinn, interpretada por Victoria Pedretti (a Eleanor da série de terror A Maldição de Hill House, também da Netflix). Na série entra James Scully e Charlie Barnett. E ainda o humorista Chris D’Elia.
A fórmula da primeira temporada repete-se, mas é introduzida uma mão cheia de personagens também elas com passados obscuros. E o cenário muda. Joe foge das consequências da sua visão distorcida daquilo que é o amor e começa uma vida nova em Los Angeles, na Califórnia, sempre com os fantasmas do passado a pairarem no seu presente — mais do que a morte da sua antiga amada Beck, é a sua ex-namorada Candace (Ambyr Childers) que não lhe dá sossego. “A parte engraçada em continuar esta história são todas as pontas soltas do passado de Joe que continuam pendentes e que podem voltar a qualquer altura”, considerou a co-criadora Sera Gamble, citada pela revista Hollywood Reporter.
A ideia da série foi adaptada do livro homónimo de Caroline Kepnes e, ainda que se tenha mantido fiel à origem na primeira temporada, a segunda leva de episódios diverge da história narrada nos livros. A produção passou da cadeia de televisão Lifetime para a Netflix depois de o canal norte-americano ter decidido não avançar com a segunda temporada; mas pouco muda nas vidas de Joe e Love: a série “será, fundamentalmente, a mesma”, salvaguardou Gamble.
You não consegue também esconder o seu tom de sátira à “fachada” das redes sociais, à superficialidade e cinismo numa constante crítica à sociedade — ainda mais agora, em Los Angeles. Esta segunda temporada foca-se na forma como a mente do protagonista funciona, espreitando-se nos primeiros episódios para cenas da infância de Joe que podem ter contribuído para os seus distúrbios.
Em Janeiro, a Netflix — que não tem por hábito divulgar as audiências das séries — revelou que 40 milhões de contas da Netflix tinham assistido a You (sendo que cada conta pode representar mais do que um espectador), segundo o New York Times. Esta é uma das muitas séries que estavam na lista de espera para este final de ano: além de You (Netflix) e dos episódios finais de Mundos Paralelos e Watchmen (HBO Portugal), houve ainda The Witcher (a 20 de Dezembro) e A Feira das Vaidades (a passar na RTP2).