Barragem “fundamental” para gerir Mondego foi cancelada em 2016

A barragem de Girabolhos estava no plano original de intervenção no rio, mas não chegou a avançar. Endesa, que seria a concessionária, fala de “pressão política”.

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A construção da barragem de Girabolhos era um dos trabalhos previstos no projecto da obra hidráulica do Mondego, concebida na segunda metade do século XX para regularizar um rio que era conhecido como “o basófias”. No entanto, nunca chegou a ser instalada entre os concelhos de Gouveia, Mangualde, Nelas e Seia, como estava desenhado, e a Ordem dos Engenheiros vem agora sublinhar a sua importância para a gerir a bacia hidrográfica do Mondego.

Na sequência das cheias que afectaram sobretudo a zona do Baixo Mondego, a jusante de Coimbra, o presidente do conselho directivo da Região Centro da Ordem dos Engenheiros, Armando Silva Afonso, explicou que, “sem Girabolhos, será muito difícil travar a repetição destes fenómenos”. Em conferência de imprensa, esta sexta-feira, na sede da Ordem, em Coimbra, o responsável disse que, para prevenir novas cheias, será necessário levar a cabo a conclusão da obra hidráulica do Mondego.

O sistema é actualmente composto por infra-estruturas como as barragens da Aguieira, Fronhas, Raiva e Caldeirão, todas a montante de Coimbra, e por uma rede de diques e canais a jusante da cidade. Nesse sistema, exemplificou Silva Afonso, que é também professor de hidráulica na Universidade de Aveiro, “faltam alguns componentes importantes”, como “a barragem de Girabolhos, que é uma obra fundamental”.

Também na conferência de imprensa, o especialista em hidráulica e professor da Universidade de Coimbra, Alfeu Sá Marques afirmou que, caso se avançasse com Girabolhos e com as outras duas barragens desenhadas para montante da Aguieira (Midões e Asse Dasse), seria possível duplicar a capacidade útil de regularização do Mondego. Actualmente é de 365 hectómetros cúbicos e passaria para 889.

Armando Silva Afonso narrou uma breve história da barragem abortada: “Teve uma adjudicação provisória em 2008; em 2010 foi aprovada a declaração de impacto ambiental; em 2014 foi feito o processo de aquisição e expropriação de terrenos, em 2015 teve início a empreitada, com a construção dos acesso e em 2016 foi suspensa a obra. É uma obra chave neste processo e está por fazer. Até estava bem encaminhada”, apontou.

Em 2016, quando foi anunciado o cancelamento desta estrutura que integrava o Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH), o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, não detalhou o que tinha levado à decisão, referindo apenas que foram tidos em conta critérios jurídicos e financeiros. Contactada pelo PÚBLICO, fonte oficial do Ministério do Ambiente acrescentou apenas que a decisão “surgiu no âmbito da revisão” do PNBEPH. No entanto, a mesma fonte sublinhou a “aposta na continuidade fluvial sem comprometer as metas de produção de energia a partir de fontes alternativas”.

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O presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, diz que a obra não avançou em 2016 por “pressão política” do Bloco de Esquerda e do Partido Ecologista Os Verdes, que queriam rever os termos do acordo que já tinha sido assinado. Assim, a empreitada caiu.

Mas a construção de Girabolhos não seria a única medida para ajudar a gerir o caudal do rio Mondego, que registou em Coimbra um máximo de 2200 metros cúbicos por segundo, quando o sistema está desenhado para suportar 2000. Como já tinha referido ao PÚBLICO, Alfeu Sá Marques sublinhou o papel da manutenção. Para o exemplificar, projectou uma fotografia de um sifão a jusante de Coimbra, tapado por árvores que ali tinham crescido, evitando assim o escoamento das águas.

À lista de tarefas para prevenir novas cheias, Armando Silva Afonso acrescentou a necessidade criar uma entidade de gestão do aproveitamento hidro-agrícola do Baixo Mondego, de redimensionar as estruturas existentes e de actualizar os planos de emergência.

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