Há dez anos a resgatar animais, Ani São-João pede “obras urgentes” e sócios

São necessárias obras no albergue da associação de defesa dos animais, mas ainda não há protocolo assinado com a câmara para se poderem realizar os arranjos.

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Enric Vives-Rubio

No ano em que comemora o décimo aniversário, a Ani São-João precisa de mais associados e “obras urgentes” nas instalações para enfrentar as dificuldades de uma associação que não recebe subsídio camarário, mas poupa trabalho à autarquia.

O albergue da associação de defesa dos animais é camarário, construído no âmbito do Orçamento Participativo municipal de São João da Madeira que a Ani São-João ganhou, em 2014, mas o “projecto de arquitectura desvirtua por completo as reais necessidades do quotidiano”, segundo a recém-eleita presidente, Raquel Gomes de Pinho.

Segundo a bancária de 40 anos, a instituição usufrui das instalações há 11 meses, apesar de ainda não ter assinado o protocolo de parceria com a câmara municipal que prevê o uso das instalações. O documento prevê ainda que a autarquia suporte o custo da implementação do chip e a vacinação anti-rábica nos animais, nos casos de adopção.

Apesar de haver boas relações e “vontade do executivo” municipal para inaugurar formalmente o espaço, são necessárias obras para pôr as instalações de “cara lavada”, mas ainda não há protocolo assinado para se poderem realizar os arranjos.

Dez anos de trabalho

Nascida em 2009, para dar devidas condições aos animais que seguiam para o abate no canil municipal, a Ani São-João promove adopções, resgata animais abandonados ou em situações de negligência, providenciando cuidados de saúde — nomeadamente a esterilização de todos — e sociabilização a esses animais, procurando também sensibilizar a população com campanhas.

“Nós gostamos de conhecer bem as famílias e tentar perceber em que condições os animais vão viver. Por exemplo, caso se trate de um gato, se vai ter acesso ao exterior ou não, porque sabemos que há a iminência de atropelamento, e for um cão se a pessoa está com ideias de o ter acorrentado ou não”, exemplificou.

O balanço dos últimos dez anos é “positivo”, o grande desafio foi “a própria causa em si”, porque é considerada ainda uma “causa menor”, apesar da presidente argumentar que “há lugar para ajudar todos” e que, ajudando os animais, também se ajudam pessoas.

“Se nós cuidarmos dos animais das ruas vamos, obviamente, promover também uma cidade com mais salubridade, até mesmo com mais segurança. Infelizmente, há muita gente que se queixa dos animais em matilhas. Portanto, também estamos a cuidar de pessoas. O maior desafio é conseguir a sensibilização das pessoas para a causa”, disse, referindo ainda um “volte face” nos últimos anos. Isto porque a associação começou a sentir um apoio de forma expressiva, ganhando dois orçamentos participativos: o da câmara municipal para a construção do albergue e o da junta de freguesia para a construção de um parque de recreio, passeio e exercício canino.

Ainda há muito “por fazer"

Porém, ao nível da Ani São-João há ainda “muito trabalho por fazer na cidade”, há muitos animais e “matilhas descontroladas, em que nascem ninhadas facilmente” e, além das obras, é preciso “conseguir captar e sensibilizar pessoas para a associação”.

“Não temos apoios formais, nem do executivo municipal, nem de alguém que nos dê um subsídio mensal. É com o desdobramento em eventos, campanhas, apelos nas redes sociais e pequenas coisas para ganhar dinheiro quando precisamos de operar um animal. Se tivéssemos uma estrutura forte em termos de associados, teríamos liquidez para conseguir contornar estas questões”, sublinhou.

Esse é um dos aspectos negativos desta década de existência. “Numa cidade com mais de 20 mil habitantes”, a Ani São-João conta apenas com cerca de 100 associados, apesar de ser um “marca” estabelecida no município de São João da Madeira, apelando a um maior número de sócios, mas também a um possível apoio camarário, tendo em conta que são a “única associação formal com vista à protecção animal na cidade”.

“Até hoje recebemos zero em dinheiro, temos os terrenos fruto do Orçamento Participativo. Poupamos dinheiro e encargos à câmara, fazemos a recolha. Quando há um animal atropelado, a responsabilidade não é nossa, é da veterinária municipal. [Às vezes] a PSP liga para a associação e imputa-nos essa responsabilidade. A partir do momento em que tomamos conta da ocorrência, estamos a diminuir encargos. Se fosse justo, o município estaria a devolver-nos alguma coisa e não devolve”, frisou.

Para o futuro, o objectivo da associação passa por conseguir colocar mais um funcionário nas instalações  que neste momento só tem uma , assim como o alargamento já previsto das boxes para os animais e ainda a criação de um gatil.