Localizada retroescavadora arrastada para o rio Paiva. Condutor continua desaparecido
As tempestades da última semana deixaram um rasto de destruição. Cheias, linhas ferroviárias inundadas e cortadas — a circulação entre Alfarelos e Verride continua suspensa —, um dique colapsado em Montemor-o-Velho. Agora, a chuva e o vento vão embora e o Natal terá temperaturas amenas.
A retroescavadora arrastada para o rio Paiva na quinta-feira em Castro Daire por um aluimento de terras foi localizada esta segunda-feira pelas autoridades. Fernando Magalhães, do CDOS (Comando Distrital de Operações de Socorro) de Viseu, confirmou ao PÚBLICO que a máquina foi localizada por volta das 14h30, mas sem qualquer sinal do condutor. As operações de busca pelo homem de 55 anos prosseguem no local.
A passagem das depressões Elsa e Fabien causou estragos por todo o país: foram registados dois mortos, mais de 11.400 ocorrências, 144 pessoas ficaram desalojadas e mais de 350 foram obrigadas a sair de casa.
Um dos cenários mais preocupantes aconteceu em Montemor-o-Velho com a rotura de um dique – mas a situação está controlada, garantiu o presidente da câmara local, Emílio Torrão. Passada a tempestade, a chuva vai-se embora e o Natal será soalheiro, com “temperaturas agradáveis para a época do ano”.
O presidente da Cooperativa Agrícola de Montemor-o-Velho teme que a água acumulada nos campos de cultivo permaneça nos terrenos durante meses e crie graves prejuízos. Em declarações à Lusa, Armindo Valente estima que “praticamente a totalidade da área de cultivo do Baixo Mondego [entre cinco mil a seis mil hectares, equivalente a mais de 8500 campos relvados de futebol] está debaixo de água”.
Na noite de domingo, as preocupações centraram-se em Montemor-o-Velho: o talude esquerdo do leito periférico direito do rio Mondego, em Montemor-o-Velho, colapsou no mesmo local onde poucas horas antes tinha sido identificado um aluimento de terras, disse o presidente da câmara.
Em declarações aos jornalistas, Emílio Torrão confirmou o colapso do talude esquerdo, numa extensão de 50 metros, bem como o transbordo de água para aquele canal a partir dos campos agrícolas que estão alagados, cerca de meio quilómetro a montante da ponte das Lavandeiras, na povoação de Casal Novo do Rio, que está a ser defendida através de uma barreira de pedras e sacos de areia, ali colocada por meios da Protecção Civil municipal.
Emílio Torrão disse que a situação do colapso “neste momento está sob controlo” após ter pedido ao ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, que a EDP pudesse suspender as descargas na barragem da Agueira — pedido que, garantiu o autarca, “está a ser cumprido”.
Segundo o presidente da câmara, ao pedido para a suspensão de descargas na barragem da Aguieira juntou-se a maré vazante, o que possibilita “a maior capacidade de encaixe” no leito principal do Mondego, para onde corre a água do leito periférico direito. “Esta água vai voltar de novo ao rio Mondego”, frisou.
Emílio Torrão explicou ainda a operação de reforço do talude direito do leito periférico, numa das extremidades da povoação de Casal Novo do Rio, oposto àquele onde o talude esquerdo colapsou, foi já realizada com “uma frente de pedreira”.
As autoridades identificaram ainda outro aluimento de terras no talude esquerdo do leito periférico — que está sujeito à pressão das águas que invadiram os campos agrícolas do vale central da bacia do Mondego e que, segundo o autarca, está dimensionado para resistir à força das águas no interior do leito mas não às que o pressionam do exterior.
A situação de cheia na bacia do Mondego começou a ter nesta segunda-feira os primeiros sinais positivos de melhoria e diminuição do grau de risco, disse o comandante distrital de operações de socorro (CODIS) de Coimbra. “Depois de uma luta desigual contra as forças da natureza nestes últimos dias, começámos a ter hoje os primeiros sinais positivos de melhoria”, disse Carlos Luís Tavares aos jornalistas, numa conferência de imprensa realizada às 13h, em Montemor-o-Velho.
Recuperar os diques em dois meses
O ministro do Ambiente e da Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, revelou nesta segunda-feira que o Governo “vai recuperar os dois diques” que cederam no rio Mondego, em Montemor-o-Velho, e que espera ter os trabalhos “completamente” concluídos no prazo de dois meses.
“O risco de atingir Montemor-o-Velho, que nunca é nulo, é, neste momento, muitíssimo reduzido. Ontem [no domingo] estivemos já em obra a reforçar pontos mais frágeis. Nos sítios das roturas não temos maneira de fazer chegar as máquinas. Aguardamos agora que o terreno vá secando e quero acreditar que, em dois meses, aqueles diques estão completamente reparados”, afirmou João Pedro Matos Fernandes aos jornalistas, no Porto, à margem da cerimónia dos 70 milhões de passageiros do Metro.
O ministro notou que os diques suportaram uma pressão de água muito superior àquela para a qual tinham sido projectados e frisou que “a situação não foi mais grave pelo extraordinário trabalho de manutenção” realizado no local, nomeadamente com o investimento de “cinco a seis milhões de euros”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou nesta segunda-feira a intenção de se deslocar à região do Baixo Mondego nos próximos dias, numa nota em que disse ter acompanhado os efeitos do mau tempo durante a sua visita ao Afeganistão.
Descarrilamentos e linhas cortadas
Ao PÚBLICO, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, explicou que a zona central e patrimonial da cidade de Coimbra estaria hoje submersa se a câmara não tivesse feito o desassoreamento do rio Mondego. “Se não tivéssemos desassoreado o rio Mondego, estaríamos perante uma catástrofe, com a área central e patrimonial da cidade toda debaixo de água”, afirmou. Coimbra tem sido em anos anteriores alvo de cheias, com o caudal do rio Mondego a transbordar das margens com frequência – chegando a inundar parte do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.
As chuvas fortes inundaram a estação de Alfarelos, no sábado, obrigando ao corte da circulação de comboios na Linha Norte. A linha foi reaberta no domingo retomando os serviços de longo curso entre Porto e Lisboa, depois de haver uma descida do nível das águas e de estarem reunidas as condições de segurança da via, avisava a CP. A empresa informou os clientes que poderiam pedir o reembolso dos bilhetes já comprados ou efectuar a sua revalidação sem custos.
Também a circulação ferroviária na linha da Beira Alta foi reposta na tarde de domingo, depois de concluídos os trabalhos de limpeza da via-férrea no troço entre Muxagata e Fornos de Algodres no qual tinham caído pedras em vários sítios. Ao final da tarde de domingo, um comboio de passageiros descarrilou entre a Régua e Marco de Canavezes: à saída da estação de Ermida, a composição embateu em pedras e descarrilou — um acidente similar ao do comboio Intercidades que na sexta-feira descarrilou na Beira Alta.
As linhas do Norte e da Beira Alta estão, assim, totalmente abertas, embora com restrições de velocidade em vários locais, atrasos e alguns comboios suprimidos. Já as ligações de Coimbra para a Figueira da Foz e para a linha do Oeste deverão continuar interrompidas até esta segunda-feira, devido à queda de um poste de catenária junto a uma ponte no Marujal (Montemor-o-Velho). A própria ponte ferroviária está também intransitável porque a força das águas desguarneceu o aterro de um dos seus pilares. A circulação de comboios na Linha do Norte entre Alfarelos e Verride, distrito de Coimbra, continua assim suspensa por causa dos efeitos do mau tempo, que obrigou a um corte de tensão entre Alfarelos e Figueira da Foz/Lourical.
Também o Itinerário Complementar (IP) 3 continua cortado por tempo indeterminado em Penacova após a circulação ter sido suspensa no sábado, nos dois sentidos, devido à queda de terra e pedras na via, informou esta segunda-feira a GNR. “Estão a decorrer os trabalhos” de remoção dos detritos em diversos pontos do IP3, 48 horas depois de as autoridades terem encerrado aquele troço, numa extensão de vários quilómetros até ao nó de Miro, disse à agência Lusa uma fonte do Destacamento de Trânsito de Coimbra da GNR.
O tempo nos próximos dias
Passada a tempestade (com chuva, vento forte e agitação marítima), as condições meteorológicas em Portugal continental melhoram a partir deste domingo: as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) apontam para um Natal sem chuva, soalheiro e com “temperaturas agradáveis para a época do ano”.
A partir de segunda-feira, e para toda a semana do Natal, o IPMA prevê céu em geral pouco nublado, apresentando-se temporariamente muito nublado nas regiões Norte e Centro no final do dia de Natal e na quinta-feira, com possibilidade de precipitação fraca. As temperaturas vão estar amenas para a época, com as máximas a rondar os 18 graus Celsius no litoral.
Na Madeira, a semana terá, até sábado, a influência de um anticiclone localizado na região entre o norte de África e Portugal continental, enfraquecendo no dia de Natal e na quinta-feira, permitindo a aproximação e passagem de uma superfície frontal fria. O IPMA prevê para a Madeira céu com períodos de muita nebulosidade, com possibilidade de ocorrência de precipitação na quarta e na quinta-feira.
Já os Açores terão “dias de inverno rigoroso”, segundo o coordenador nos Açores do IPMA, Carlos Ramalho. “Nos próximos dias, até pelo menos ao dia de Natal, e até mesmo uns dias depois, vamos ter dias de inverno rigoroso. Podemos até ter intervalos onde o tempo esteja relativamente melhor, com um clima bom, e depois alguns períodos onde o vento sopra com mais intensidade e com chuva por vezes forte”, frisou. com Lusa