As mesmas faces da mesma moeda: cinema português em 2019

Uma mulher, negra, sobe ao telhado da sua barraca. O vento sopra e o céu terrífico que a enquadra são o sinal de um quase “fim do mundo”. Esta mulher chama-se Vitalina, é cabo-verdiana e enfrenta, desta forma, o seu presente traumático. Enfrenta as mágoas de um país a terminar mais uma década de rumo ao “progresso”. Num passo, Vitalina é uma heroína clássica – um western baralhado de policial – de um filme português menor, quase inclassificável. É esse o filme, Vitalina Varela, de Pedro Costa, que continua a fazer do “cinema português” uma cinematografia sobretudo artesanal, no qual o tempo distendido é a medida para uma aproximação a um real contraditório e complexo. Essa imagem é uma das mais marcantes de 2019. O muito aguardado filme de Pedro Costa tem sido recebido como um clássico instantâneo, prometendo uma carreira internacional em 2020, com estreias comerciais já previstas nos EUA, Reino Unido, Brasil e Alemanha. Vitalina Varela já passou por cerca de 70 festivais internacionais e obteve mais de dez prémios, incluindo o Leopardo de Ouro, em Locarno, que recolocou o cinema português na rota dos grandes prémios nos maiores festivais internacionais. Fez, até Dezembro, cerca de 5.500 espectadores.

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