Ministro estónio chama “vendedora de loja” à primeira-ministra da Finlândia e envergonha a sua Presidente
Mart Helme disse que o Governo finlandês é formado por “activistas de rua e pessoas sem estudos”. Depois da polémica, pediu desculpas e disse que foi mal interpretado.
A Presidente da Estónia, Kersti Kaljulaid, pediu desculpas em nome do seu país, esta terça-feira, pela forma como o ministro da Administração Interna, Mart Helme, de 70 anos, se referiu à nova primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, de 34 anos, a quem chamou “vendedora de loja”. Marin, mais tarde, disse que tinha sido mal interpretado.
“Agora temos uma miúda vendedora de loja a tornar-se primeira-ministra, e outros activistas de rua e pessoas sem estudos a chegarem ao Governo”, disse o ministro estónio no programa de rádio do Partido Conservador do Povo da Estónia, de extrema-direita, de que é líder desde 2013.
Sanna Marin tomou posse como primeira-ministra da Finlândia no dia 10 de Dezembro, como chefe de um Governo de coligação com outros quatro partidos do centro-esquerda também liderados por mulheres, e foi a primeira pessoa na sua família a concluir o ensino secundário e a frequentar uma universidade.
Numa reacção publicada no Twitter, Marin disse que tem “muito orgulho na Finlândia”. “Aqui, uma criança de uma família pobre pode ir à escola, tornar-se primeira-ministra e alcançar muitos objectivos na sua vida. A vendedora de loja foi eleita primeira-ministra.”
Após a polémica provocada pelas suas declarações, o ministro da Administração Interna estónio veio dizer que foi “mal interpretado” e pediu desculpas à primeira-ministra finlandesa. “Apenas reconheci que é possível uma pessoa trabalhar e subir de um estrato social baixo até ao topo da política”, disse Mart Helme. “Se alguém me interpretou mal, então quero dizer que peço desculpas à primeira-ministra da Finlândia.”
Num comunicado divulgado esta terça-feira, a Presidente da Estónia, Kersti Kaljulaid, de 49 anos, pediu desculpas pelas declarações do ministro e disse que se sente “envergonhada”.
Polémica com símbolo de “OK"
Mart Helme e o filho, o ministro das Finanças Martin Helme, causaram polémica em Maio, durante a cerimónia de tomada de posse como deputados no Parlamento da Estónia. Após o juramento, pai e filho fizeram o polémico sinal de “OK” que adquiriu um novo significado nos últimos anos, depois de ter sido adoptado pela extrema-direita norte-americana como uma referência à supremacia branca – os três dedos esticados representam o w de “white” (branco) e o círculo formado pelo indicador e o polegar representa o p de “power” (poder).
Em Setembro, organizações como a Liga Antidifamação norte-americana incluíram o gesto na sua lista de símbolos de ódio.
“Os extremistas continuam a usar símbolos que podem ter anos ou décadas, mas também criam regularmente novos símbolos, memes e slogans para expressarem os seus sentimentos de ódio”, disse na altura o presidente da Liga Antidifamação, Jonathan Greenblatt. “Achamos que as forças de segurança e o grande público têm de estar informados sobre o significado dessas imagens, que podem servir como primeiro aviso para a presença de extremistas numa comunidade ou numa escola.”
O uso do símbolo causou polémica em Portugal, em Novembro, quando foi usado numa manifestação de polícias pelo Movimento Zero.