Trabalhadores da RTP discutem em plenário Sexta às 9 e Maria Flor Pedroso
Em causa está uma intervenção da directora de Informação da RTP que terá interferido com o trabalho do Sexta às 9. A “gravidade dos acontecimentos” obriga à “auscultação de todos os elementos da redacção”, diz o Conselho de Redacção.
O Conselho de Redacção da RTP convocou para esta segunda-feira um plenário de jornalistas sobre o conflito entre a equipa do Sexta às 9, coordenado pela jornalista Sandra Felgueiras, e a directora de informação da televisão pública, Maria Flor Pedroso.
Em causa está um relato feito pela coordenadora do programa, em 11 de Dezembro, numa reunião com o Conselho de Redacção a propósito do programa sobre o lítio, em que adiantou que o Sexta às 9 estava a investigar suspeitas de corrupção no âmbito do processo de encerramento do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), que passava pelo alegado recebimento indevido de “dinheiro vivo”. Segundo Maria Flor Pedroso, tratou-se apenas de uma tentativa de “ajudar” a investigação.
Nesse âmbito, Sandra Felgueiras acusou Maria Flor Pedroso de ter transmitido informação privilegiada à visada na reportagem [directora do ISCEM, Regina Moreira]. Depois da intervenção de Flor Pedroso, o programa televisivo cancelou a reportagem.
As críticas de Sandra Felgueiras são rejeitadas “liminarmente” pela directora de Informação, de acordo com as actas do Conselho de Redacção e com a posição enviada à redacção por Maria Flor Pedroso na passada sexta-feira, a que o PÚBLICO teve acesso.
Numa nota enviada ao PÚBLICO, na sexta-feira, a direcção de informação da RTP explica que Maria Flor Pedroso foi docente de jornalismo radiofónico no instituto desde 2006. No final de uma “reunião de docentes”, no dia 8 de Outubro, foi interpelada por Regina Moreira, “dando-lhe conta de que tinha recebido vários contactos e chamadas do Sexta às 9 com um pedido de entrevista que ela não queria dar”. Numa tentativa de defender “os interesses da RTP” perante a “reiterada recusa da entrevista”, Maria Flor Pedroso sugeriu que a directora do ISCEM respondesse por escrito “sem, nunca, a ter informado da investigação do Sexta às 9”.
De acordo com a convocatória do Conselho de Redacção da RTP, os membros do órgão consideram que “a gravidade dos acontecimentos revelados obriga à auscultação de todos os elementos da redacção”, pelo que é convocado um plenário de jornalistas para hoje com um único ponto da ordem de trabalhos: “situação DI/Sexta às 9”.
Mais de 130 jornalistas com Maria Flor Pedroso
Até às 18h de domingo, mais de 130 jornalistas tinham subscrito um abaixo-assinado em defesa de Maria Flor Pedroso, uma iniciativa que arrancou na sexta-feira e conta com nomes de profissionais de várias gerações e meios, desde Adelino Gomes, Henrique Monteiro, Anabela Neves, Francisco Sena Santos, Rita Marrafa de Carvalho, São José Almeida ou Sérgio Figueiredo.
“Confrontados com o grave ataque público à integridade profissional da jornalista Maria Flor Pedroso, os jornalistas abaixo-assinados não podem deixar de tomar posição em sua defesa, independentemente das questões internas da empresa onde é directora de informação, que manifestamente nos ultrapassam”, referem os 133 jornalistas que subscrevem o documento.
No abaixo-assinado, com quatro pontos, os jornalistas – de várias redacções – apontam que “Maria Flor Pedroso é jornalista há mais de 30 anos, sem mácula”, uma “jornalista exemplar” e “reconhecida e respeitada pelos pares”.
Os subscritores defendem que a directora de informação da RTP “é uma das mais sérias profissionais do jornalismo português”, tendo chegado “por mérito ao cargo que actualmente ocupa”.
Maria Flor Pedroso é “defensora irredutível do jornalismo livre, rigoroso”, “sem cedências ao mediatismo, a investigações incompletas, ou à pressão de poderes de qualquer natureza”, sublinham no abaixo-assinado.
Recordam ainda que a profissional “foi escolhida pelos pares para presidir à Comissão Organizadora do 4.° Congresso dos Jornalistas Portugueses, uma iniciativa que se revelou um marco na discussão dos problemas da profissão”.
Maria Flor Pedroso “é frontal”, “rejeita favores” e “nunca foi acusada de mentir”, salientam no seu abaixo-assinado.