Mobilização contra reforma do sistema de pensões em França perde força

Nova greve geral continuou a paralisar a generalidade dos transportes, mas nas ruas a contestação foi inferior à da semana passada. Esta quarta-feira, Governo apresenta proposta no centro da polémica.

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Manifestações foram menos participadas esta terça-feira EPA/IAN LANGSDON

A segunda jornada de greve geral em França foi menos participada, mas a contestação social ao projecto de reforma do sistema de pensões que o Governo pretende apresentar esta quarta-feira mantém-se.

Os transportes voltaram a ser o sector mais afectado pela mobilização iniciada na semana passada e que não tem data para terminar. Paris amanheceu com engarrafamentos que ocupavam mais de 400 km de estrada – o dobro do que geralmente é registado na hora de ponta – dado que dez das 14 linhas de metro passaram o dia sem funcionar.

O transporte ferroviário ficou praticamente paralisado, com cerca de 20% dos comboios em funcionamento, e a Direcção-Geral de Aviação Civil tinha avisado as companhias aéreas para reduzirem em cerca de 20% o número de voos programados para esta terça-feira nos principais aeroportos franceses. A Air France anunciou o cancelamento de um quarto dos voos domésticos previstos e 10% das deslocações intermédias.

As universidades públicas passaram o dia fechadas, tal como já tinha acontecido na quinta-feira, com as associações estudantis a manifestarem apoio aos sindicatos dos professores universitários e funcionários das instituições. A greve também teve impacto junto das escolas primárias e liceus por todo o país.

O impacto da greve geral desta terça-feira não teve, porém, continuidade com a mobilização nas ruas. Na quinta-feira, a maior greve da última década foi acompanhada de grandes protestos em praticamente todo o país, com quase um milhão de pessoas nas ruas contra os planos do Presidente Emmanuel Macron para o futuro do sistema de pensões.

Esta terça-feira, na véspera da apresentação da proposta pelo primeiro-ministro Edouard Philippe, as manifestações tiveram bem menos força. Em Paris, a marcha convocada pelas centrais sindicais atraiu cerca de 27 mil pessoas, de acordo com a contabilização do instituto independente Occurrence – os sindicatos falaram em 180 mil manifestantes, um número que continua bem abaixo dos 800 mil da semana passada.

A queda da mobilização foi reconhecida pelo líder da Central Geral de Trabalhadores (CGT), Philippe Martinez. “Dado o nível de descontentamento, é preciso que mais gente esteja nas ruas”, afirmou o dirigente aos jornalistas. Na greve geral da semana passada, as marchas organizadas pelos sindicatos foram acompanhadas por manifestações de outros sectores, unidos apenas pelo descontentamento face às autoridades, como os “coletes amarelos” ou os “black blocs”.

Apesar de a proposta de reforma do sistema de pensões ainda não ter sido formalmente apresentada pelo Governo, alguns dos pontos já conhecidos estão a ser ferozmente contestados pelos sindicatos. Antecipando uma forte oposição, Macron tinha já afastado a subida da idade da reforma, actualmente fixada em 62 anos para o regime geral. Mas está em cima da mesa a introdução de um sistema de pontos que são atribuídos ou deduzidos consoante vários factores, um dos quais o adiamento pelo trabalhador da sua passagem à reforma.

A proposta prevê também o fim dos sistemas de pensões específicos para certas categorias – há 42 em vigor, embora a maioria dos trabalhadores esteja já reunida na modalidade geral – e é nesse ponto que o descontentamento é maior, uma vez que é nos sectores dos transportes, por exemplo, que as mudanças passam por um agravamento das condições.

O projecto de reformular o sistema de pensões vem, por outro lado, aprofundar uma imagem cada vez mais enraizada do próprio Macron junto da opinião pública como um Presidente que governa para “os ricos” e que desvaloriza as dificuldades do resto da população – uma ideia muito difundida durante os protestos dos “coletes amarelos”.

Mas as críticas à proposta têm outras fontes, de teor técnico. Num artigo publicado no Le Monde, quatro economistas que participaram na redacção do programa eleitoral de Macron fazem vários reparos ao projecto e lamentam que “os objectivos centrais da reforma – fiabilidade, segurança, confiança e equidade – tenham sido ofuscados por considerações orçamentais”.

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