Meio milhão de caranguejos-eremitas morreram em ilhas remotas. E a culpa é (outra vez) do plástico
Investigadores encontraram 508 mil caranguejos-eremitas mortos nas ilhas Cocos (Keeling) e 61 mil na ilha Henderson, presos em resíduos de plástico. O estudo evidencia o impacto que a poluição tem no declínio das espécies: “Estamos a mostrar repetidamente que o custo da conveniência é imenso.”
Que as ilhas Cocos (Keeling) e Henderson estão carregadas de plástico já não é novidade: em 2017, foram encontradas 238 toneladas de resíduos nas australianas Cocos; já as praias da isolada Henderson, no Pacífico Sul, foram indicadas como o local onde existia “a maior densidade de lixo de plástico encontrada na Terra”. Mas um novo estudo mostra como mais de meio milhão de caranguejos-eremitas morreram nestes locais, depois de terem ficado presos em resíduos de plástico.
A investigação levada a cabo pelo Institute for Marine and Antarctic Studies (IMAS), na Universidade da Tasmânia, em conjunto com investigadores do Museu Natural de História de Londres e da organização Two Hands Project, contabilizou 508 mil caranguejos mortos nas ilhas Cocos e 61 mil na ilha Henderson. O que equivale a entre um e dois caranguejos mortos por metro quadrado devido ao plástico.
A equipa de investigadores examinou diferentes sítios das ilhas Cocos e Henderson, à procura de recipientes de plástico abertos e virados para cima — que impediriam que um caranguejo que entrasse, conseguisse sair — e contou quantos caranguejos estavam presos em cada um deles. Num deles, foram encontrados 526. O que pode ser facilmente explicado se se perceber a natureza destes animais.
“Basta um caranguejo”, começa por dizer Alex Bond, curador sénior no Museu Natural de História e um dos investigadores envolvidos no estudo. “Os caranguejos-eremitas não têm uma concha própria, o que significa que quando um dos seus compatriotas morre, eles emitem um sinal químico que basicamente diz que há uma concha disponível, o que atrai mais caranguejos… isto é uma horrível reacção em cadeia”, refere no site do museu.
Para Jennifer Lavers, do IMAS, os resultados, publicados em Novembro no Journal of Hazardous Materials, são “chocantes, mas não surpreendentes”. “As praias e a vegetação que as envolve são normalmente frequentadas por diversas espécies. É inevitável que estas criaturas interajam e sejam afectadas pela poluição do plástico, ainda que o nosso estudo seja o primeiro a fornecer dados quantitativos do seu impacto”, apontou.
O declínio dos caranguejos-eremitas poderá também ter influência nos ecossistemas envolventes, uma vez que estes animais são responsáveis por espalhar sementes, arejar e fertilizar solos. E Alex Bond sublinha que há mais perigos relacionados com os resíduos de plástico: “No oceano, são ingeridos e enrolam-se à volta de animais; na terra, são uma armadilha, como vimos, mas também podem ser um obstáculo para espécies que se deslocam pelo chão.”
Apesar de não se saber ao certo quantos caranguejos-eremitas existem nestas ilhas, os investigadores consideram que o importante a reter é que estes locais “têm agora menos meio milhão deles”. A equipa menciona ainda a importância de novas investigações sobre estes animais, uma vez que há pouca informação acerca deles. E Alex Bond remata: “Todos temos de considerar as nossas acções, especialmente no que toca ao plástico descartável. Estamos a mostrar repetidamente que o custo da conveniência é imenso.”