Madalena Palmeirim em inglês, português e com um fascínio por Cabo Verde

Com mais de uma década de actividade na música, a cantora e compositora portuguesa Madalena Palmeirim lança esta sexta-feira o seu primeiro álbum, Right As Rain. Entre os convidados, estão o contrabaixista Carlos Barretto e o cantor brasileiro Momo.

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Madalena Palmeirim VERA MARMELO

Cantora, compositora e multi-instumentista autodidacta, Madalena Palmeirim lança esta sexta-feira o seu primeiro álbum, Right As Rain, com canções em inglês, português e até crioulo cabo-verdiano (uma morna). Mas a sua vida musical já vem de trás, da infância.

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Capa do CD

Nascida em 4 de Abril de 1987, em Lisboa, criou com o seu irmão Bernardo Palmeirim o projecto Nome Comum, em 2009. Vencedores da mostra Jovens Criadores’09, editaram um EP (A Quem Possa Interessar, 2011) e um LP (Cuco, 2013), com apoio da GDA. Em 2014, lançou a solo o projecto Week In Week Out, obrigando-se a compor e a gravar uma canção por semana, todas as segundas-feiras desse ano (estão todas no Youtube). Em 2015 gravou um EP, Mondays, com canções de espírito alternativo, folk, country, pop e indie, apresentando-o em salas e festivais. Desde há dez anos que participa em vários projectos (L Mantra, They’re Heading West, Joana Barra Vaz, Silence is a Boy, Minta & the Brook Trout, Yu John), enquanto vai compondo música para espectáculos de dança e teatro.

A família e um piano

Mas tudo começou antes, entre familiares. “A referência próxima que eu tinha era o meu irmão mais velho, com quem cantei durante muito tempo”, diz Madalena Palmeirim ao PÚBLICO. “Ainda temos um projecto juntos, Nome Comum, que está em banho-maria, mas há-de ressuscitar a qualquer hora, e com o qual gravámos um LP. Também me lembro muito bem de ouvir a minha avó tocar piano, ela cantava no coro da Polyphonia com o meu avô. E o meu pai também tocava piano.” E foi ao piano que Madalena teve a sua única formação musical: “Tínhamos um piano em casa, eu sempre fui muito agarrada a ele. E havia uma igreja mesmo por detrás da casa onde davam aulas de piano. Uma professora muito velhinha, que me dava um rebuçado no final de cada aula. E eu adorava aquilo.”

Depois passou para outro nível: “Estudei com a Carla Seixas, professora do Conservatório. Estiva lá uns aninhos.” Mas a exigência era muito grande e ela percebeu que, não querendo ser uma virtuosa do piano, o melhor seria desistir. Do piano, não da música, que essa já criara raízes. “Lembro-me que todas as viagens de carro com o meu pai eram com música clássica, o meu irmão mais velho passou-me muita bossa nova mas também Pink Floyd, e mais recentemente comecei a descobrir um outro lado do Brasil, com o samba, ou música de Cabo Verde.” E foi aprendendo outros instrumentos, por conta própria: “Saindo do piano, veio a guitarra, depois saltitei o ukulele, depois para o cavaquinho.”

Liberdade a cantar e compor

Mas o que a conduziu ao trabalho a solo, agora mais apurado em Right As Rain, foi a experiência com o irmão no Nome Comum. “Porque foi de uma liberdade muito grande, não só a cantar mas a compor, foi muito intuitivo. Às vezes nem precisávamos de falar. E isso permitiu-se pegar em vários instrumentos e não só instrumentos. Eu tinha uma mala de onde saía um trompete com uma luva, tocava percussões, um acordeão meio roto, e essa liberdade de expressão foi o que mais me marcou.” E isso nas apresentações, em palco.

As primeiras composições fê-las na guitarra, aos 12, 13 anos. Aprendeu a escrever e a ler música em pauta, mas na composição diz procurar “um lado mais intuitivo”. Ainda usa o piano para compor, mas menos. “São relações muitíssimo diferentes. A relação que tenho com o piano é de alguma reverência. É um monstro, um instrumento mais completo. Por isso demorei algum tempo até conseguir aproximar-me e apropriar-me dele.”

Um fascínio crioulo

Os músicos que participam em Right As Rain (entre os quais Momo ou Carlos Barretto) já vinham de trabalhos anteriores. “É tudo pessoas que já se cruzaram comigo.” As músicas, essas, são 12: 6 em inglês (Right as rain, Dream away, Farewell, Serpentine, Limbo, Swan song), 5 em português (Teus braços de embalar, Para todo o lado, Catarina, Solidão, Quem dorme) e uma em crioulo cabo-verdiano (M’cá sabê). A produção é dela e as canções, na sua maioria, também (letra e música), à excepção de Teus braços de embalar e M’cá sabê, ambas de Pedro Faro; Para todo o lado e Solidão, escritas por Madalena e Pedro Faro; e Catarina, escrita a três mãos: Madalena, Ana Luísa Valdeira e Pedro Faro.

A morna surgiu de um fascínio, que ela foi cimentando, por Cabo Verde e pela sua música. Um dia viajou até São Vicente e ficou lá um mês, em férias e em trabalho. “Foi uma experiência super enriquecedora.” A morna incluída no disco resultou da transformação de um fado em morna. “Pedi emprestada essa canção, já composta e escrita em português, traduzi-a para crioulo e pedi a uma amiga que está em Cabo Verde que a corrigisse.”

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