Ministro responsabiliza Crato por resultados menos bons dos alunos portugueses
Em causa estão os desempenhos a ciências e a leitura na edição de 2018 do PISA.
O ministro da Educação responsabilizou nesta terça-feira o seu antecessor no cargo, Nuno Crato, pelas oscilações negativas nas áreas de ciências e leitura, registadas pelos alunos portugueses na última edição do PISA (Programme for International Student Assessment), cujos resultados foram agora conhecidos.
O PISA avalia a literacia dos alunos com 15 anos de idade a leitura, ciências e matemática. Os últimos testes desta avaliação promovida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) foram realizados em 2018. A leitura a pontuação obtida pelos alunos portugueses desceu de 498 em 2015 para 492 em 2018. Na literacia científica passou-se de 501 pontos para 492. E a matemática dos resultados dos alunos portugueses foram iguais nas duas edições: 492 pontos.
Sem nunca mencionar o nome do seu antecessor, Tiago Brandão Rodrigues não hesitou em atribuir a descida a ciências, a única considerada “estatisticamente significativa” pela OCDE, “às apostas feitas durante a crise económica, nomeadamente o afunilamento curricular que levou a um foco exacerbado nalgumas disciplinas, deixando as ciências fora”.
Falando aos jornalistas no final da sessão de apresentação dos resultados do PISA, o ministro da Educação considerou também que “o desinvestimento no Plano Nacional de Leitura”, ocorrido entre 2011 e 2015, é um dos factores que poderá explicar “a leve diminuição” registada nesta área.
Segundo Tiago Brandão Rodrigues, estas políticas têm estado a ser revertidas nos últimos anos “com uma nova aposta, por exemplo, no PNL e ao programa Ciência Viva, criando uma nova dinâmica para que as ciências voltem a ter o seu lugar de corpo inteiro”.
A aposta no sucesso
Já no discurso feito durante a sessão de apresentação dos resultados do PISA, Tiago Brandão Rodrigues foi mais moderado nas críticas. “Os resultados que agora conhecemos, recolhidos em 2018, mostram bem como as competências reveladas agora pelos jovens nascidos no ano de 2002 resultam de muitos factos que as enriqueceram”.
“Estes estudantes ingressaram no 1.º ciclo em 2008, encontrando-se a maioria, no ano lectivo de 2015/2016, o primeiro da nossa governação, já no 8.º ano”, prosseguiu o ministro, para sublinhar de seguida, sem tirar outras ilações, que, “com a introdução de exames no 4.º e 6.ºano, estes são na verdade, alunos que passaram a sua infância a estudar para exames”. Fazem parte também da geração “mais afectada pela crise económica e por algumas mudanças bruscas de políticas, no campo educativo”.
O ministro considerou ainda que os resultados do PISA vêm confirmar que é preciso fazer “mais e melhor na equidade” de modo a combater o “determinismo socioeconómico”, que em Portugal é mais marcante do que nos outros países da OCDE. “A promoção do sucesso escolar só é possível com equidade e com a igualdade de oportunidades”, disse.
Numa conferência de imprensa realizada já depois da saída do ministro, o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, considerou que os resultados do PISA 2018 vêm confirmar que “o sucesso escolar não tem dono”, como afirmara num artigo escrito para o PÚBLICO a propósito da edição e 2015 da avaliação promovida pela OCDE.
“Não se pode dizer que foi esta medida ou este programa que determinaram os resultados, que são antes fruto de um efeito cumulativo de políticas que, embora por vezes de sentido contrário, têm gerado práticas orientadas para o sucesso escolar”, adiantou.
“Antes de mais, estes resultados são dos alunos, dos professores e do trabalho que se fez nas últimas duas décadas”, corroborou Tiago Brandão Rodrigues.