Televisão iraniana admite que polícia matou manifestantes
Amnistia Internacional tinha publicado relatório que aponta para mais de 200 mortos, mas Governo diz que números são falsos.
A televisão estatal iraniana admitiu que as forças de segurança mataram manifestantes, que designaram como “amotinados”, durante os protestos contra o Governo das últimas semanas.
O canal exibia um documentário que criticava a cobertura dos protestos por outros órgãos de comunicação e referiu que alguns dos mortos eram “amotinados que atacaram centros sensíveis ou militares com armas de fogo ou facas, ou que fizeram em reféns em alguns sítios”, segundo a Al-Jazira. As restantes vítimas foram descritas pelo canal como elementos das forças de segurança, manifestantes pacíficos e transeuntes, sem, no entanto, atribuir responsabilidades.
Segundo o documentário, a polícia confrontou um “grupo separatista” na cidade de Mahshahr. “Durante horas, amotinados armados travaram uma luta armada. Nessas circunstâncias, as forças de segurança tomaram acções para salvar as vidas do povo de Mahshahr”, afirmam os autores da reportagem.
É a primeira vez que uma instituição próxima do Governo de Teerão admite a responsabilidade pelas mortes de manifestantes.
A resposta das autoridades iranianas aos protestos que começaram a 15 de Novembro tem sido muito criticada. Uma das primeiras medidas do Governo foi o corte da ligação à Internet para travar a divulgação de novas manifestações.
Esta terça-feira, durante a cimeira da NATO em Londres, o Presidente dos EUA, Donald Trump, acusou o Governo iraniano de matar “milhares de pessoas” durante a repressão das manifestações.
Um relatório da Amnistia Internacional publicado na segunda-feira diz que pelo menos 208 pessoas foram mortas pelas forças de segurança nas últimas duas semanas.
As autoridades iranianas dizem que o balanço é falso, mas não fundamentaram a refutação. “Os números e estatísticas que têm sido dados por grupos hostis são mentiras absolutas”, afirmou o porta-voz de assuntos judiciais do Governo, Gholamhossein Esmaili.
Os protestos no Irão começaram como uma contestação contra o aumento do preço da gasolina – justificado pela grave crise económica vivida no país desde que o acordo nuclear foi rasgado pelos EUA – mas depressa assumiram contornos políticos e transformaram-se num movimento de oposição generalizado ao regime que governa o país desde 1979.