Mugabe deixou dez milhões de dólares e casas — para onde foi o resto?

Há quem considere que está a ser cometida fraude, por omissão de bens.

Foto
Robert Mugabe YESHIEL PANCHIA/EPA

A riqueza do antigo Presidente do Zimbabwe Robert Mugabe sempre foi um mistério, mas a primeira lista oficial de bens do ditador revelou que quando morreu, em Setembro, deixou dez milhões de dólares (nove milhões de euros) e algumas casas. A relação de bens foi feita por uma das filas de Mugabe, Bona  Nyepudzai Mutsahuni-Chikore.

A informação foi divulgada esta terça-feira pelo jornal Herald e não menciona bens no exterior, embora algumas propriedades na África do Sul e na Ásia estivessem associadas a Mugabe.

Para alguns, trata-se de uma lista modesta uma vez que Mugabe governou durante 37 anos e era acusado de acumular riqueza e estar ligado a uma forte rede de corrupção.

O documento divulgado pelo jornal cita advogados que afirmam que o ditador não deixou testamento, pelo que a lei estipula que a mulher de Mugabe, Grace Mugabe, e os filhos são os herdeiros dos bens.

Mugabe deixou ainda uma quinta, dez carros e 11 hectares de terra que incluem um pomar na casa no campo onde foi enterrado. A sua filha Bona  Nyepudzai Mutsahuni-Chikore registou a propriedade em nome da família, segundo o relatório.

Mais de uma dúzia de fazendas são conhecidas por terem sido confiscadas a fazendeiros negros e brancos pela família do antigo Presidente.

Mugabe morreu de cancro num hospital de Singapura, aos 95 anos, dois anos após ter sido forçado pelo Exército e pelo partido no poder do Zimbabwe a demitir-se.

Ao Herald, o advogado Wellington Pasipanodya disse que é crime deixar fora da relação de bens dinheiro, propriedades ou outros valores. 

“Se há bens deixados de fora intencionalmente, isso constitui fraude e é imperativo que os beneficiários dêem essa informação”, disse o advogado. “Quem cometeu a fraude pode ser acusado”.