Vice-presidente da Câmara de Oeiras diz que críticas à Capital do Natal são “histeria colectiva”

Autarca considera que evento está “num ano de aprendizagem”. As duas renas que estavam no local foram retiradas, mas poderão voltar quando for emitida licença que permita a sua exposição. Organização insiste que comunicação feita por agências em Espanha não corresponde à realidade e está a oferecer novas entradas aos visitantes que estiveram na Capital do Natal no sábado.

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Bilhetes custam 25 euros para crianças dos três aos 12 anos e séniores. Para adultos custa 30 euros Francisco Romão Pereira

As críticas que têm sido levantadas ao parque temático Capital do Natal, que está a decorrer no Passeio Marítimo de Algés, foram assunto na sessão da Assembleia Municipal de Oeiras, com o vice-presidente da autarquia a afirmar mesmo que os reparos feitos ao evento resultam de uma “histeria colectiva”. “Este evento não está isento de erros. No primeiro ano em que surge, um evento está num ano de aprendizagem. O evento tem muitas questões que estão a falhar”, reconheceu Francisco Gonçalves, considerando que “a maior parte das críticas resultam de histeria colectiva”. 

O autarca respondia assim às duras críticas levantadas pelo deputado socialista, Jorge Rato, que relatou a experiência que teve no parque, no passado domingo: “Tive uma autêntica desilusão. Má organização, um espírito de Natal inexistente, as estruturas mal-amanhadas, com pouca iluminação, com uma música massacrante”. “Uma rena escanzelada a pastar em alcatifa. Confesso que me tocou muito porque é um espectáculo em que por 30 euros se rouba quem vai visitar as instalações”, disse o deputado. “Um espectáculo que poderia ser um marco muito positivo para a afirmação de Oeiras no território nacional e em Espanha acaba por ser uma coisa desta natureza”, considerou. 

Francisco Gonçalves começou por repetir a explicação já dada pela empresa promotora do evento, a Christmas Fun Park, que disse que uma agência de viagens espanhola andou a promover um evento que não corresponderia exactamente àquilo que seria oferecido na Capital do Natal e que motivou muitas reclamações por parte dos espanhóis que visitaram o parque no fim-de-semana. “O que está anunciado no site é aquilo que está no parque. Nós podemos agora dizer ‘mas não é suficiente’. É uma questão de gosto”, afirmou o autarca. 

A realização deste evento em Oeiras por quatro edições, até 2022, foi aprovada, por maioria — com voto contra do PCP —, na reunião de câmara do passado dia 30 de Julho, na qual foi também aprovada a atribuição de uma comparticipação financeira do município ao promotor no valor de 345 mil euros para esta edição. Esta comparticipação tem, contudo, algumas contrapartidas, como “a cedência de 10.000 bilhetes de acesso à entrada do parque, à entrega de 300 credenciais em regime de ‘livre trânsito' ao parque, “espaço físico para a colocação de um stand de representação institucional da câmara de Oeiras”, assim como “publicitação dos apoios concedidos pelo município” nos materiais de divulgação do evento e ainda o “desconto de 10% para os funcionários” da autarquia. 

Renas retiradas por falta de licença

Na sessão da assembleia municipal desta terça-feira, a deputada do PAN, Ana Marques, questionou também a presença de duas renas no recinto da Capital do Natal. Nos últimos dias começaram a circular fotografias de duas renas deitadas no chão molhado e enlameado, dentro de uma cerca de madeira. Esta terça-feira, numa publicação na sua página de Facebook, o IRA - Intervenção e Resgate Animal deu nota que, “no seguimento da onda de indignação contra a utilização de renas” no parque, contactou o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que “garantiu que os animais seriam retirados no decorrer da noite de ontem”, segunda-feira.

Em resposta ao PÚBLICO, o ICNF diz que “procedeu a uma acção de fiscalização no local, tendo verificado que apesar da espécie de Rena da Lapónia (Rangifer tarandus) “não estar inscrita nos anexos da Convenção sobre o Comércio das Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), e portanto isenta de licenciamento ao abrigo desta convenção, a entidade responsável pelo evento não era detentora da necessária licença para exposição de animais exóticos”. Por isso, foi levantado auto de notícia por contra-ordenação e os animais foram retirados do parque. 

Perante os deputados municipais, o vereador Nuno Neto explicou que a câmara de Oeiras tinha feito já uma vistoria antes da abertura de portas da Capital do Natal, tendo sido “verificados os animais e as suas condições de saúde”. Entretanto, após as críticas que surgiram, foi feita nova vistoria às condições de acomodação dos animais pela médica veterinária municipal. 

“Foi possível verificar que as condições de alojamento das duas renas, tanto no espaço interior como no espaço exterior, cumprem todas as imposições legais. Apurou-se ainda que as condições de maneio dos animais em questão são as adequadas à espécie. Os animais encontram-se soltos em exposição numa área de exposição uma área de aproximadamente 200 m2, rodeada por uma cerca de dois metros de altura. A cerca é constituída por madeira e rede para que não sejam incomodadas pelo público e para manter a sua segurança. O espaço interior é um abrigo com cerca de 15 m2 completamente fechado, onde se podem abrigar sempre que o desejem”, disse o vereador, citando o relatório preliminar da vistoria. O estado se saúde dos animais não foi avaliado, uma vez que já tinham sido retirados do local, disse. 

Ainda de acordo com o vereador, logo que a licença para exposição de animais exóticos seja emitida — e já foi pedida, notou — as renas estarão em condições de regressar ao parque. “Segundo o parecer da médica veterinária municipal, que após a emissão da licença pelo ICNF e do município, estarão reunidas as condições para a permanência de animais no local”, disse. 

O deputado do Bloco de Esquerda, Miguel Pinto, questionou ainda se todas as crianças das escolas do concelho teriam acesso ao parque. Na resposta o vice-presidente garantiu que todas as crianças em idade escolar, desde a pré-primária até ao 12.º ano têm oportunidade de ir à Capital do Natal. “A câmara disponibiliza o transporte, a organização dispensa as entradas, e vão de acordo com a disponibilidade da escola e logística para irem ao evento”. 

Organização oferece novas entradas a “lesados”

Na manhã desta terça-feira, fonte da assessoria de imprensa da Capital do Natal disse que a empresa recebeu um pedido de desculpas “de um grupo de espanhóis” que reconheceram que a organização não teve influência na “informação incorrecta” que circulou sobre o evento, como por exemplo a existência de pistas de ski com neve. O PÚBLICO pediu à organização que enviasse exemplos da comunicação feita em Espanha, mas até ao momento não obteve essa informação. 

A Unión de Consumidores de Extremadura (UCE) disse ao PÚBLICO não ter conhecimento desta tomada de posição e referiu ter formalizadas “mais de 300 reclamações” de famílias que pedem a devolução do valor dos bilhetes. Fonte desta associação de defesa dos consumidores espanhola, defende que “a própria publicidade foi feita pela empresa organizadora, inclusive na página Web que se dedica à venda de entradas, a SeeTickets”. 

Como se trata de uma “uma reclamação transfronteiriça” a UCE está ainda a avaliar como poderá agir e afirma ainda não ter recebido qualquer reposta, por parte da organização, à reclamação que enviou por email

Para tentar compensar alguns dos visitantes que estiveram no parque no sábado passado, aquele que a organização considera ter sido o que ofereceu a pior experiência, a Christmas Fun Park diz estar a contactá-los para oferecer bilhetes para que possam visitar a Capital do Natal novamente. 

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