“A guerra contra a natureza tem de acabar”, diz Guterres
O mundo tem de acabar com a “guerra contra a natureza” e os líderes mundiais têm de conseguir ter mais vontade política para combater as alterações climáticas, declarou em Madrid o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, onde na segunda-feira se inicia a cimeira do clima das Nações Unidas (COP 25).
"É fundamental pôr o mundo em linha com o que a comunidade científica definiu” como objectivos para lutar contras as alterações climáticas, afirmou António Guterres em conferência de imprensa. “Temos de parar a nossa guerra contra a natureza e a ciência diz que podemos fazê-lo”, sublinhou.
“Simplesmente devemos parar de escavar e perfurar a terra em busca [em busca de petróleo e gás natural], e aproveitar as vastas possibilidades oferecidas pelas energias renováveis e soluções naturais”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas. Os cortes nas emissões de gases com efeito de estufa - provenientes sobretudo da queima de combustíveis à base de carbono - que foram acordados no âmbito do Acordo de Paris não são suficientes para limitar a subida da temperatura média do planeta a um objectivo entre 1,5 e 2 graus Celsius acima dos níveis antes da Revolução Industrial. E não estamos no bom caminho para cumprir sequer os compromissos de Paris.
Meia centena de líderes mundiais vão estar presentes na segunda-feira na abertura da Cimeira sobre Alterações Climáticas de Madrid, numa cerimónia presidida pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e por António Guterres, e na qual Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa.
Ao todo são esperadas delegações de 196 países, assim como os mais altos representantes da União Europeia e várias instituições internacionais.
“Há a necessidade de encontrar a ambição de aumentar a responsabilidade colectiva, e a COP 25 é uma oportunidade excelente para que essa responsabilidade possa ser exercida”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, repetindo que os desafios “exigem uma muito maior ambição do que a expressa até agora”.
Mas os sinais não são bons. Os Estados Unidos iniciaram o processo de se desvincular do Acordo de Paris, e a desflorestação avança desenfreada em vários pontos do globo, com a floresta Amazónica a ser um símbolo potente dessa destruição. A China, que tinha iniciado um processo de transição para energias mais limpas, está outra vez a investir mais na produção de energia em centrais a carvão - a forma de produção eléctrica com mais emissões de dióxido de carbono.
Os bons sinais são que 70 países que se comprometerem a atingir em 2050 a neutralidade carbónica - ou seja, a terem uma pegada de carbono de valor zero. Isso significa que as suas emissões de dióxido de carbono são contrabalançadas pelas suas iniciaitvas de remoção de carbono da atmosfera, ou de eliminação de emissões, seja através de processos naturais, como plantar árvores, ou sequestro de carbono, por exemplo.
Esta cimeira do clima devia realizar-se no Chile, mas no final de Outubro o Governo de Sebastian Piñera decidiu cancelar o evento alegando não haver condições devido a um movimento de contestação interna e de agitação civil.
O Governo espanhol avançou com a proposta de organizar a grande conferência anual sobre Alterações Climáticas e conseguiu ter tudo pronto para a sua inauguração na segunda-feira, em Madrid, apesar de a presidência da reunião continuar a pertencer ao Chile.
António Guterres realçou que a sua mensagem também é de “esperança e não de desespero”, sendo necessário seguir o “roteiro” definido pelos cientistas.
Espero da COP 25 “uma clara demonstração de vontade em fazer alguma coisa”, concluiu o secretário-geral das Nações Unidas.
Segundo os objectivos definidos pela comunidade científica e em acordos assinados, mas ainda não ratificados por todos os países do mundo, nomeadamente os Estados Unidos, um dos mais poluidores, é necessário limitar a menos os de 1,5 graus o aumento da temperatura global até ao fim do século.