Cavalos ajudam idosos que sobreviveram ao cancro

“É algo que me dá em dobro aquilo que eu preciso. De carinho, de amor, de compreensão. Ela não fala, mas escuta tudo o que eu lhe digo”, explica Eva Silva, de 65 anos.

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José Coelho/Lusa
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Um projecto de equitação terapêutica, em Matosinhos, ajuda idosos que sobreviveram ao cancro, na maioria mulheres, a ter uma vida melhor e a realizar sonhos, trabalhando os aspectos físicos e emocionais.

No terreno há uma década, a trabalhar com pessoas portadoras de deficiência, a Associação Equiterapêutica do Porto e Matosinhos (AEPM) aceitou há um ano o repto da Associação de Apoio a Pessoas com Cancro (AAPC) para fazer nascer um novo projecto, agora dedicado a sobreviventes de doenças oncológicas.

“Percebemos nos últimos anos que a utilização de cavalos para fins terapêuticos, ou mesmo em actividades lúdicas e pedagógicas, é muito útil”, justificou a presidente da AEPM, Joana Pereira.

Uma vez por semana, oito utentes de cada vez, fazem terapia no picadeiro do Lar do Comércio, em Matosinhos, durante cerca de duas horas.

“Trabalham-se várias competências, mas principalmente a emocional, a relação que se estabelece com o animal”, disse Joana Pereira, enaltecendo também como mais-valias “o trabalho físico [em cima do cavalo] e as competências mentais”.

Susana Pires Duarte, coordenadora da AAPC, destacou os “ganhos diversos”, a partir do momento em que os idosos, com a ajuda de dois técnicos, sobem os degraus para montar uma égua de 14 anos.

“Estamos a falar de doentes oncológicos que estão numa fase de sobrevivência. Falamos de emoções, de isolamento social e os ganhos são tentar recuperar, ainda melhor, numa fase de sobrevivência [em que ainda há] consequências da doença, quimioterapia e radioterapia”, vincou a coordenadora.

E prosseguiu: “são terapias que podem auxiliar, por exemplo, na falta de memória, que é uma consequência dos tratamentos, ao ter [acesso a] exercícios repetitivos, todos os meses ou semanas”.

Na “maioria mulheres sobreviventes do cancro da mama”, informou Susana Pires Duarte, a faixa etária dos utentes na equitação terapêutica vai dos 35 aos 73 anos, distribuindo-se por duas turmas de oito.

Esta proposta foi recebida pelos utentes com muito agrado, pois uma parte deles nunca teve contacto com cavalos e tinha esse desejo e vontade.

Associação que tem “finalidade prestar assistência e apoio a pessoas carentes portadores de cancro”, na AAPC, segundo a coordenadora, ocorre depois, nas consultas de psicologia, a segunda parte do tratamento, fazendo-se a “ponte das emoções vividas”.

Em cima da égua Cabriola, depois de duas voltas ao picadeiro, Maria Cunha, de 70 anos, falou sobre os efeitos da terapia que a ajuda hoje a continuar a combater os efeitos do cancro da mama que venceu há 23 anos. “Estas aulas descontraem-me. Há uma presença com os animais e nós convivemos com isso. Os exercícios, o equilíbrio, as emoções”, descreveu, numa conversa a que colou a memória de ter sido vizinha, enquanto criança, do Sport Club do Porto, altura em que nasceu a “paixão” pelos cavalos.

Garantindo que a “terapia é muito válida”, porque transmite paz, Maria Cunha repetiu a ordem e a Cabriola retomou o circuito circular, com vários aparelhos, distribuídos para exercitar os utentes enquanto cavalgam.

Eva Silva, de 65 anos, não escondeu à Lusa a emoção “fabulosa” quando falou dos passeios em cima da égua branca, que lhe permitiu cumprir o sonho de quando tinha quatro anos.

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Joana Pereira, presidente da Associação Equiterapêutica do Porto e Matosinhos, e Eva Silva, uma das alunas nas aulas de equitação terapêutica José Coelho/Lusa

“Eu tive com ela um enlace tamanho, de um soluço incontrolável que ela entendeu e me deixou chorar e agarrar a ela”, descreveu a utente da AAPC, sublinhando as benfeitorias à “coluna cervical” que lhe traz “fazer o jogo de cintura” a cavalo e a “paz ao ego” que é estar com a égua. E concluiu: “é algo que me dá em dobro aquilo que eu preciso. De carinho, de amor, de compreensão. Ela não fala, mas escuta tudo o que eu lhe digo”.

O projecto é aberto a todas as pessoas que estejam a viver ou já tenham ultrapassado a doença, informou Susana Pires Duarte.