Críticos da coligação com Merkel conquistam liderança do SPD

A dupla Norbert Walter-Borjans e Saskia Esken venceram as eleições internas para a liderança do Partido Social-Democrata alemão, com 53% dos votos. Dizem querer exigir a renegociação da coligação com a CDU de Angela Merkel e o mais provável é que chegue ao fim.

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Norbert Walter-Borjans (à esquerda) e Saskia Esken (à direita) querem renegociar a participação do SPD no Governo com a CDU LUSA/OMER MESSINGER

Seis meses depois de aberta a disputa pela liderança do Partido Social-Democrata alemão (SPD), os militantes elegeram para co-líderes a dupla Norbert Walter-Borjans e Saskia Esken, críticos da grande coligação. A eleição, por 53% dos votos, está a ser vista como referendo interno à continuação do partido na grande coligação. 

A vitória da dupla de críticos é um forte sinal de que a coligação pode em breve chegar ao fim. Porém, pouco antes de se saber o resultado, a dupla Walter-Borjans/Esken garantiu não defender o abandono imediato do Governo. Ao invés, diz querer renegociar a participação do SPD no executivo, focando-se em exigir mais justiça social e investimento, algo já recusado pela líder da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, não se sabendo como reagirá Merkel.

Se os sociais-democratas avançarem com a exigência, o mais certo é a coligação terminar e serem convocadas eleições antecipadas, dizem os analistas.

Daí que as prioridades da direcção sejam recuperar o eleitorado que o mais antigo partido alemão tem perdido e decidir sobre a participação na coligação liderada por Angela Merkel. “Sempre dissemos que não é apenas sobre se saímos de imediato ou se ficamos para todo o mandato”, disse Walter-Borjans ao canal alemão Phoenix.

Mas antes de se poder tomar qualquer decisão, os delegados sociais-democratas terão de votar a favor da alteração dos estatutos, para permitir uma liderança a dois, e confirmar a eleição de Walter-Borjans e Esken. Também terão uma palavra a dizer sobre o futuro próximo do SPD no executivo federal e há muitos militantes que defendem a saída, para que o partido de centro-esquerda se concentre no fortalecimento das suas estruturais locais e na recuperação da base eleitoral, já a pensar nas próximas eleições.

Os sociais-democratas não estão bem posicionados para ir às urnas e o mais provável é a nova liderança ter esse factor em conta, não obstante a pressão interna e o que têm dito publicamente. E o eleitorado poderá responsabilizá-los pela instabilidade política, perdendo votos. O dilema de permanecer ou abandonar a coligação está há muito presente nas fileiras do partido – a renegociação da presença na coligação foi uma condição dos militantes para que os sociais-democratas entrassem no Governo lado a lado com a CDU.

Nas legislativas de 2017, o SPD ficou-se pelos 25,7% dos votos, o seu pior resultado desde 1933, e nos últimos dois anos os números não melhoraram, bem pelo contrário. As sondagens não lhe dão mais de 15% de intenções de voto, ficando em terceiro lugar, atrás da CDU e dos Verdes e com apenas um ponto de avanço face à Alternativa para a Alemanha. E o arrastar, por seis meses, da escolha da liderança também não ajudou. 

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