Ameaçado pelo favoritismo conservador, Labour muda de estratégia eleitoral
Sondagem YouGov-MRP calcula maioria tory de 68 deputados e prevê conquistas nos círculos eleitorais trabalhistas que votaram pelo “Brexit”. Corbyn vai reorientar a campanha para os lugares em risco para evitar perda de mais de 50 deputados.
Favorito à vitória nas legislativas britânicas de 12 de Dezembro, o Partido Conservador está na calha para conseguir uma maioria parlamentar confortável, na ordem dos 68 lugares. Segundo a sondagem YouGov-MRP para o Times, divulgada na quarta-feira à noite, os tories podem eleger 359 dos 650 deputados da Câmara dos Comuns, contra apenas 211 do Partido Trabalhista. Um cenário muito negativo para o Labour, que Jeremy Corbyn pretende evitar através da alteração da estratégia de campanha nos círculos ameaçados por Boris Johnson.
A sondagem prevê que o Partido Conservador aumente em 42 deputados o resultado das eleições de 2017 e que os trabalhistas percam 51 lugares na câmara baixa do Parlamento de Westminster.
O bom resultado previsto para os conservadores decorre, em grande medida, da elevada possibilidade de conquistarem vários círculos eleitorais tradicionalmente trabalhistas, na região Centro e Norte de Inglaterra, que votaram maioritariamente pela saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 2016.
Por oposição à campanha do partido do primeiro-ministro, o líder do Partido Trabalhista tem-se esforçado por tratar esta eleição como um evento que vai muito para além do “Brexit”, dando mais atenção aos direitos sociais e ao combate à desigualdade económica e às alterações climáticas.
Foi imbuído nesse espírito que tentou desdramatizar, e colocar para segundo plano, a promessa de neutralidade num cenário de segundo referendo – no qual estariam em votação um acordo de saída e a permanência.
Mas a hipótese de penetração tory na chamada “red wall” (muro vermelho) do Labour, nas Midlands e no Norte do território inglês, levou Corbyn a aceitar uma reorientação estratégica, confirmam fontes da máquina trabalhista à BBC e ao Guardian. Essa reorientação passa por investir mais meios humanos e financeiros de campanha nos círculos que estão em risco e desinvestir nos lugares actualmente detidos pelo Partido Conservador.
“Um erro enorme da primeira metade da campanha eleitoral foi sobrestimar a ameaça dos Liberais-democratas [remainers] e subestimar a vontade dos leave voters de mudarem do Labour para o Partido Conservador”, refere a cadeia televisiva britânica.
Espera-se que Jeremy Corbyn, alguns “ministros-sombra” do Partido Trabalhista e vozes do partido menos conotadas com a sua ala remainer façam campanha, nos próximos dias, nas circunscrições ameaçadas pelo crescimento das intenções de voto no Partido Conservador.
Sem mudar de postura sobre a posição neutral em relação ao “Brexit”, o Labour vai, ainda assim, dar mais ênfase à promessa de que é possível renegociar com Bruxelas um acordo de saída melhor do que o de Johnson – cujas falhas deverão ser exploradas ao máximo –, que ofereça maior protecção dos direitos laborais e que permita um divórcio com a UE mais vantajoso para os trabalhadores, indústrias e empresas britânicas.
Isto sem abdicar, no entanto, de fazer campanha em temas considerados fundamentais para Corbyn – como a saúde, o elevado custo de vida, o desemprego e a precariedade –, entendidos por analistas e actores políticos como alguns dos sintomas que justificam o voto brexiteer.
Modelo diferente
Baseado em 100.319 entrevistas, realizadas entre 19 e 26 de Novembro, o modelo MRP distingue-se da maioria das sondagens no Reino Unido por usar mecanismos que lhe permitem fazer uma previsão para cada círculo eleitoral, em vez de se focar na dispersão do voto pelo país, traduzida em percentagens.
Ganhou uma importância acrescida, por ter sido praticamente o único inquérito que previu a perda de maioria dos conservadores, então liderados por Theresa May, nas eleições de 2017. Um cenário que dificultou e precipitou o fracasso da estratégia da ex-primeira-ministra para cumprir o “Brexit”.
Segundo a sondagem, o Partido Nacional Escocês pode eleger 43 deputados (mais oito), aponta 13 para os Liberais-Democratas (mais um) e tanto o Plaid Cymru (4) como o Partido Verde (1) devem manter a sua representação.
Já o estreante Partido do Brexit não deve conseguir eleger qualquer deputado – um resultado esperado, em virtude da decisão do seu líder, Nigel Farage, de retirar o partido das corridas eleitorais nos círculos detidos pelos conservadores.
A confirmarem-se estes resultados e a maioria conservadora em Westminster, Boris Johnson conseguirá a desejada estabilidade parlamentar para poder aprovar o acordo de saída da UE, renegociado com Bruxelas, e confirmar o divórcio até ao dia 31 de Janeiro de 2020.