Chefe da polícia na tragédia de Hillsborough ilibado de homicídio por negligência
Sobrelotação de uma das bancadas provocou a morte a 96 adeptos do Liverpool. Acidente voltou a ser alvo de investigação e David Duckenfield acusado pelas fatalidades de Abril de 1989.
O antigo chefe da polícia de Yorkshire do Sul, David Duckenfield, foi considerado inocente do crime de homicídio por negligência, mais de três décadas após ter comandado as forças policiais durante o jogo em que ocorreu a tragédia que ficou conhecida como “o desastre de Hillsborough”. Nesta partida entre Liverpool e Nottingham Forest, no dia 15 de Abril de 1989, em Sheffield, 95 adeptos do Liverpool morreram esmagados, devido à sobrelotação de uma das bancadas do recinto. Um outro adepto, Tony Bland, ficou em estado vegetativo após sofrer danos cerebrais. Morreria em Março de 1993, quase quatro anos após a tragédia, tornando-se a 96.ª vítima mortal de Hillsborough.
Após uma investigação em 1989, o incidente foi novamente investigado em 2012 pelas autoridades inglesas. Sete anos depois, após seis semanas de julgamento, o júri decidiu ilibar David Duckenfield, agora com 75 anos. A acusação defendia que existia uma “responsabilidade pessoal” do antigo polícia, alegando que foi ele quem tomou a decisão de abrir um dos portões de saída de emergência para que os adeptos do Liverpool pudessem entrar no estádio mais rapidamente. Essa decisão revelar-se-ia fatal: mais de duas mil pessoas irromperam por essa porta em poucos minutos, concentrando-se no sector central da bancada correspondente aos visitantes.
Com barreiras e vedações a separarem os restantes sectores, não havia saída para quem já estava nessa bancada, que não tinha lugares sentados. O aumento do número de adeptos começava a empurrar as pessoas nas primeiras filas contra a vedação. Poucos minutos após o apito inicial, instalou-se o pânico, com várias pessoas a saltarem para o relvado de modo a escaparem à pressão feita pela multidão.
A defesa de David Duckenfield alegou que este julgamento era “profundamente injusto” e que o chefe da polícia se tinha transformado no “foco da culpa”, acrescentando que “muitas outras pessoas e causas” contribuíram para este desfecho fatal.
As famílias das vítimas ficaram desiludidas com o veredicto. O pai de Christine Burke foi um dos adeptos que morreu no estádio. No tribunal, a filha fez questão de interpelar directamente o juiz: “Com todo o respeito, meritíssimo, 96 pessoas foram mortas de forma criminosa. Gostaria de saber quem é o responsável pela morte do meu pai, porque alguém o é.”
David Duckenfield fez questão de pedir desculpa à família das vítimas, admitindo que tomou a decisão errada ao não dar ordens para que o portão que permitiu a entrada de dois mil adeptos fosse encerrado de imediato.
Após uma das páginas mais negras do futebol inglês, foram feitas várias mudanças para assegurar que um incidente do género não se voltaria a repetir. A principal alteração prende-se com as bancadas. Nos principais escalões do futebol britânico, já não se vêem as antigas bancadas de pedra sem cadeiras.
Actualmente, cada bilhete correspondente a um lugar sentado, sendo que as autoridades tendem a não permitir que os adeptos fiquem de pé durante a partida.
Os estádios também sofreram alterações: os torniquetes clássicos foram substituídos pelos electrónicos, com as bancadas a possuírem entradas amplas e mais do que uma saída , como era o caso em Hillsborough. Na própria bancada, os sectores já não estão separados por vedações e barreiras.
E, ao contrário do que aconteceu em 1989, não há separações físicas entre as bancadas e o relvado, algo que impediu muitos adeptos do Liverpool de escaparem à pressão da multidão.