Colombianos fazem segunda greve geral numa semana contra Duque

Milhares de colombianos saíram esta quarta-feira para as ruas de todo o país contra as reformas económicas do Presidente. Dilan Cruz, de 18 anos morto pela polícia, é o novo rosto dos protestos.

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Milhares de colombianos fizeram esta quarta-feira a segunda greve geral em apenas uma semana Reuters/CARLOS JASSO

Há uma semana que milhares de colombianos saem às ruas e os apelos ao diálogo do Presidente Iván Duque não os têm feito recuar. E os protestos ganharam um rosto. O jovem de 18 anos Dilan Cruz morreu no hospital depois de no sábado ter sido atingido por uma granada de gás lacrimogéneo, símbolo da crescente violência policial.

Sem acreditarem na vontade de dialogar de Duque, milhares de colombianos fizeram esta quarta-feira a segunda greve geral em apenas uma semana, com o dólar a atingir o valor mais alto da história face ao peso colombiano. Exigem mais investimento na educação, melhores salários e pensões e o aplicar dos acordos de paz com as FARC, de 2016. O estalar do frágil verniz foi o anúncio de reformas económicas, entre elas a redução do salário mínimo para os mais jovens, que vão prejudicar milhões de colombianos.

Com a contestação no Chile, Bolívia e Equador em pano de fundo, Duque estendeu a mão aos manifestantes com a proposta de “diálogo nacional”. Reuniu-se com os líderes do Comité Nacional de Greve, organização que coordena os protestos, que inclui estudantes e sindicatos, e defendeu um debate nacional com governantes locais e sectores empresariais. Isso foi rejeitado e houve manifestantes que abandonaram a sala, acusando-o de tentar diluir os protestos poucas horas antes de um dia que, esperam, seja o ponto mais alto da contestação em sete dias de manifestações. A manhã, no entanto, parece ter mostrado uma quebra na mobilização.

Os manifestantes exigem “negociações permanentes” com o Governo, sem a pressão de patrões na sala. Querem que o Governo recue nas reformas económicas que deram entrada no Congresso e desmantele a polícia de choque, a ESMAD, acusada de violência policial como a que causou a morte de Dilan Cruz, estudante de 18 anos que exigia mais investimento na Educação e foi atingido por uma granada de gás lacrimogéneo na cabeça.

Pressionado, Duque, no poder há 15 meses, fez uma última tentativa para desarmar os protestos ao anunciar, pouco depois da reunião, a devolução de 100% do IVA aos 20% de colombianos mais pobres, isenção de IVA três dias ao ano e contribuições mais baixas para o serviço de Saúde para os pensionistas com reformas mínimas.

Duque está entre a espada e a parede. De um lado tem o seu próprio partido e os patrões e, do outro, os manifestantes e sindicatos. Caso ceda às exigências, vai enfrentar grande oposição no seu partido, disse Sergio Guzman, director do Colombia Risk Analysis, à Al-Jazira. “O seu partido não apoia esta forma de pensar [dos manifestantes]. Se ceder, vai gerar muito mais oposição interna”, garantiu o analista.

Os manifestantes e sindicatos mantêm a pressão. “Há uma greve geral e vamos continuar a pensar nas próximas acções”, disse Diogenes Orjuelo, presidente da União Central de Trabalhadores. “Vamos aderir aos cacerolazos desta noite, depois do trabalho”, disse a bancária Yanira Vélez, de 28 anos, à Reuters. Os cacerolazos são uma forma de protesto tradicional na América Latina, em que os manifestantes saem à rua fazendo barulho com panelas e tachos. 

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