Quanto gastam os europeus em droga? Pelo menos 30 mil milhões de euros, por ano
Os preços das substâncias ilícitas estão “constantes ou em queda”, segundo o relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, apresentado esta terça-feira. Cannabis e cocaína continuam a liderar consumos entre europeus.
Os europeus gastam cerca de 30 mil milhões de euros por ano em drogas ilícitas, segundo o Relatório Sobre os Mercados de Droga na União Europeia, divulgado esta terça-feira pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) e pela Europol.
A maior fatia da despesa em drogas é gasta em cannabis (39%), que continua a ser a droga mais consumida, seguida de perto pela cocaína (31%), cuja produção atingiu níveis recorde. A heroína é a seguinte na lista de drogas mais consumidas (25%), seguida das anfetaminas e MDMA (5%).
Quanto à cannabis, que constitui o maior mercado de droga na Europa, o seu valor está estimado em 11,6 mil milhões de euros. Calcula-se que cerca de 25 milhões de europeus, com idades entre os 15 e os 64 anos, tenham consumido aquela substância no último ano. Embora a erva e a resina de cannabis continuem a dominar, o relatório sustenta que “os extractos de elevada potência, os medicamentos à base de cannabis e os produtos orientados para a saúde, bem como um número crescente de medicamentos à base de canabidiol (CBD) ou baixo teor de tetrahidrocanabinol (THC), estão a ser vendidos sob várias formas”, o que torna urgente “a monitorização cuidadosa da sua potência e dos potenciais efeitos na saúde”.
A cocaína, por seu turno, tem um valor de venda a retalho estimado em 9,1 mil milhões de euros, tendo sido consumida por cerca de quatro milhões de europeus (15-64 anos), no último ano, sobretudo no Sul da Europa e na Europa Ocidental.
Embora menos consumida, a heroína e outros opiáceos continua a representar a maior parte dos danos, incluindo mortes, associados ao consumo de substâncias ilícitas. Com cerca de 1,3 milhões de consumidores problemáticos de opiáceos, o valor estimado deste mercado é de 7,4 mil milhões. E aqui os opiáceos sintéticos (derivados de fentanilo) “representam um risco crescente para a saúde”, numa altura em que “são cada vez mais comercializados online e expedidos por via postal, frequentemente em pequenas embalagens contendo um grande número de doses para o utilizador”.
Preços constantes ou em queda
Além de a disponibilidade global de drogas continuar a ser “muito elevada” na Europa, o relatório nota que os consumidores estão a ter acesso “a uma grande variedade de produtos de elevada pureza e potência, a preços constantes ou em queda”. Uma das preocupações do comissário europeu responsável pela Migração, Assuntos Internos e Cidadania, Dimitris Avramopulos, é que “os grupos de criminalidade organizada aproveitam rapidamente as novas oportunidades de lucro financeiro e exploram cada vez mais as inovações tecnológicas e logísticas para expandir as suas actividades através das fronteiras internacionais”. Neste negócio ilícito, as drogas tornam-se “mais acessíveis aos consumidores, muitas vezes através das redes sociais e da Internet”, acrescentou aquele responsável, citado pelo OEDT.
Aliás, e segundo o relatório, a utilização de serviços postais e de encomendas para o transporte de droga está a “expandir-se rapidamente, seguindo a tendência crescente das compras online na Europa e a circulação de grandes volumes de mercadorias”. De resto, “os mercados da Internet regular e das redes obscuras (darknet), assim como as redes sociais, os serviços de mensagens e os aplicativos móveis oferecem novas possibilidades para a venda de drogas online”, num negócio em que as armas de fogo ilegais, os smartphones codificados e os documentos fraudulentos “estão entre as principais ferramentas criminosas” utilizadas pelos traficantes.
Noutra escala, os autores do relatório mostram-se preocupados com a utilização abusiva da aviação (aeronaves privadas, drones) no tráfico de substâncias ilegais. E isto acontece numa altura em que a Europa tem vindo a afirmar-se como região produtora de droga. “A violência e a corrupção, há muito vista nos países tradicionalmente produtores de droga, são agora cada vez mais evidentes na União Europeia”, alerta o documento, apontando os impactos negativos na violência de grupos e nos homicídios relacionados com a droga, a par da pressão sobre as instituições públicas e sobre os governos.
“É urgente actuar sobre as consequências de grande alcance do mercado da droga para a saúde e para a segurança”, defende o director do OEDT, Alexis Goosdeel, citado num comunicado em que sustenta que “o aumento da violência e da corrupção relacionadas com a droga na União Europeia constitui uma preocupação crescente”.