Caso de SEAL leva a afastamento de secretário da Marinha dos EUA

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, demitiu Richard Spencer por ter perdido a confiança em si. O secretário da Marinha terá oferecido um “acordo secreto” à Casa Branca para ultrapassar o impasse no caso do oficial dos SEAL Eddie Gallagher.

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O secretário da Marinha dos Estados Unidos, Richard Spencer LUSA/MICHAEL REYNOLDS

O secretário de Defesa norte-americano, Mark Esper, demitiu este domingo o secretário da Marinha, Richard Spencer, por causa da forma como lidou com o caso do militar dos SEAL condenado por posar com o cadáver de um militante do Daesh e cuja reintegração nas forças especiais foi ordenada por Donald Trump.

O afastamento foi confirmado por Spencer. O antigo secretário explicou que Esper tomou a decisão por ter perdido a confiança no seu secretário da Marinha norte-americana. “[Esper] perdeu confiança nele por causa da sua falta de tacto”, disse uma fonte do Pentágono à CNN.

Spencer terá apresentado um “acordo secreto” à Casa Branca sem o conhecimento do secretário de Defesa para ultrapassar o impasse em torno do caso do oficial dos SEAL Eddie Gallagher, diz a CNN. Não respeitou a cadeia de comando e foi por isso afastado, diz o canal norte-americano. Gallagher seria apresentado a uma comissão disciplinar dos SEAL, ao que a Casa Branca se opunha, com a garantia de o Tridente não lhe ser retirado.

“Não posso em boa consciência obedecer a uma ordem que acredito violar o sagrado juramento que fiz na presença da minha família, da minha bandeira e da minha fé para apoiar e defender a Constituição dos Estados Unidos”, lê-se na carta de demissão de Spencer.

O Pentágono e o Presidente Trump estão num braço-de-ferro sobre o futuro de Gallagher, condenado por posar para uma fotografia com o cadáver de um militante do Daesh. A justiça norte-americana acusou-o de crimes de guerra – teria esfaqueado o jihadista quando já era prisioneiro de guerra – e de posar para a fotografia, acabando por o ilibar na primeira acusação.

Condenado por prejudicar a imagem das Forças Armadas dos Estados Unidos, o destino mais certo de Gallagher era ser expulso das forças especiais da Marinha norte-americana, mas Trump fez do seu caso um cavalo de batalha eleitoral — o seu apoio aos militares é uma das suas imagens de marca. O Presidente declarou que Gallagher deveria poder abandonar a Marinha sem perder o seu crachá (o Tridente dos SEAL) e, assim, ter direito à sua pensão completa, e acabou mesmo por o ordenar à Marinha, entrando em choque com o Pentágono.

Os SEAL conquistam o crachá depois de uma intensiva recruta e treino, sendo a fase mais conhecida a Semana do Inferno, cinco dias em que os recrutas treinam 120 horas sem parar e com permanente pressão — dormem muito poucas horas. Apenas 20 a 30% dos recrutas sobrevivem ao treino básico dos SEAL e quem o consegue recebe o crachá, o reconhecimento de que faz parte desta comunidade selecta — tem pouco mais de dois mil operacionais. Perder o crachá é, assim, a maior das desonras e tem consequências legais, como a perda da pensão completa. 

Os militares acreditam que a justiça militar deve seguir os seus próprios trâmites, sem interferência presidencial, e que a impunidade de Gallagher será um sinal prejudicial para as Forças Armadas, prejudicando-lhe a sua disciplina interna.

A tensão entre o Pentágono e a Casa Branca mantém-se e o New York Times noticiou no sábado que Spencer e o almirante Collin Green, comandante dos SEAL, se poderiam demitir contra a ordem de Trump. Spencer negou no próprio sábado pretender demitir-se. 

O Presidente exige ainda a reintegração de outros dois militares a braços com a Justiça por crimes de guerra. 

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