Papa visitou Hiroshima e Nagasaki, onde pediu abolição de armas nucleares

Francisco visita as únicas duas cidades atingidas com bombas nucleares e lamenta que se estejam a perder os tratados de não-proliferação.

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O Papa cumpre um minuto de silêncio no memorial de Hiroshima KIM KYUNG-HOON/Reuters
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Fiéis assistiram a uma missa no estádio de baseball de Nagasaki REMO CASILLI/Reuters
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O Papa junto a um busto em madeira da Virgem Maria que escapou à bomba em Nagasaki CIRO FUSCO/EPA
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Francisco falou junto a uma fotografia mostrando um rapaz a levar o irmão, morto, para crematório CIRO FUSCO/EPA

O Papa Francisco levou a sua campanha contra as armas nucleares às únicas duas cidades do mundo alguma vez atingidas por bombas atómicas, Hiroshima e Nagasaki. No Japão, disse que a posse de armas nucleares é indefensável, perversa e imoral, e a sua utilização um crime contra a humanidade e a natureza.

Francisco visitou os locais da detonação das bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki, cidades gravadas na consciência colectiva depois de serem atingidas por bombas dos Estados Unidos com três dias de diferença, em Agosto de 1945, num esforço para ganhar definitivamente a II Guerra Mundial.

“Aqui, numa explosão incandescente de luz e fogo, tantos homens e mulheres, tantos sonhos e esperanças, desapareceram, deixando atrás de si apenas sombras e silêncio”, disse Francisco no Memorial da Paz em Hiroshima, depois de uma oração silenciosa e de ouvir um testemunho de um sobrevivente.

Yoshiko Kajimoto, que tinha 14 anos na altura, descreveu como “pessoas andavam lado a lado como fantasmas, pessoas cujo corpo estava tão queimado que não era possível distinguir homens e mulheres, as suas caras inchadas para o dobro do tamanho, os lábios a cair, as mãos com pele pendurada”. “Ninguém neste mundo consegue imaginar uma cena infernal destas.”

Mais de cem mil pessoas morreram imediatamente nos ataques e outros 400 mil nos meses, anos e décadas seguintes de doenças provocadas pela radiação.

"Mentalidade de medo e desconfiança"

“Com a profunda convicção, desejo declarar uma vez mais que o uso de energia atómica para objectivos de guerra é hoje, mais do que nunca, um crime não só contra a dignidade de seres humanos mas contra qualquer futuro possível na nossa casa comum”, disse o Papa em Hiroshima. “O uso de energia atómica para objectivos de guerra é imoral, por isso a posse de armas atómicas é imoral, como já disse há dois anos.”

Enquanto as suas palavras em Hiroshima tiveram um tom emocional, quase poético, em Nagasaki o Papa foi mais concreto.

“O nosso mundo está marcado por uma dicotomia perversa que tenta defender e assegurar a estabilidade e a paz através de uma sensação de segurança apoiada numa mentalidade de medo e desconfiança”, disse num tom sombrio, entre chuva e vento forte. Os recursos gastos na corrida às armas deveriam ser usados para desenvolvimento e protecção do ambiente, disse Francisco em Nagasaki.

“Num mundo em que milhões de crianças e famílias vivem em condições desumanas, o dinheiro desperdiçado e as fortunas feitas através de manufactura, melhoria, manutenção e venda de armas mais destrutivas são uma enorme afronta.”

Em Agosto, os Estados Unidos retiraram-se de um dos tratados mais importantes de armas, o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF, na sigla em inglês) com a Rússia, argumentando ter havido violações da parte de Moscovo (o que a Rússia nega).

Entre os especialistas em nuclear também há dúvidas sobre a possibilidade de haver um acordo para um novo tratado de controlo de armas nucleares START entre a Rússia e os EUA antes de este expirar em Fevereiro de 2021.

Em Nagasaki, o Papa fez o seu apelo perto de uma grande imagem de um fotógrafo famoso chamado “o rapaz ao lado do crematório”, tirada por um soldado americano pouco depois da explosão – mostra um rapaz levando o corpo do seu irmão mais novo para ser cremado.