Alemanha: líder da CDU diz que ou o partido a apoia ou “acaba com isto aqui e agora”
Annegret Kramp-Karrenbauer desafiou os membros da CDU a afastá-la da liderança se não concordam com a sua visão para a Alemanha.
A líder da União Democrata-Cristã (CDU), Annegret Kramp-Karrenbauer, surpreendeu os delegados ao congresso do partido com um desafio: “Se são de opinião de que a Alemanha que eu quero não é a mesma que vocês imaginam, se acham que o modo como eu quero avançar não é o que acham certo, então vamos falar hoje e vamos acabar isso aqui e agora”, afirmou.
A liderança de Kramp-Karrenbauer, que há pouco menos de um ano venceu por curta margem Friedrich Merz, agora o seu principal crítico, tem sido posta em causa depois de uma série de gaffes e maus resultados eleitorais. A CDU obteve apenas 28% nas eleições para o Parlamento Europeu, em Maio, e numa sondagem desta semana do instituto INSA desceu mesmo para 25% (uma descida considerável dos 32,9% que teve em 2017 e ainda mais recuando a 2013, quando Merkel conseguiu 41,5% - nesse ano, o partido fez campanha com base apenas na chanceler).
“Tivemos um mau ano, admito”, declarou ainda Annegret Kramp-Karrenbauer. Mas criticar o Governo e dizer que o partido está a fazer tudo mal “não é uma boa estratégia de campanha”, declarou. Sondagens recentes dizem que uma grande percentagem de alemães vêem a CDU como um partido dividido, e a troca de farpas não ajuda.
O seu principal crítico, Friedrich Merz, que vinha a baixar o tom das críticas até garantir que não ia haver qualquer “discussão de pessoas” no congresso, mas de quem se esperava um discurso apontando caminhos alternativos, afirmou antes que se disponibilizava para ajudar, se a líder do partido assim o quisesse.
O que se esperava que fosse um discurso de lobo revelou-se um discurso “de cordeiro”, notava o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Merz perdeu por uma margem muito curta para Annegret Kramp-Karrenbauer e tem surgido como uma voz crítica. Mas muitos no partido e nos comentários nos jornais dizem que estas críticas tão públicas estão a prejudicar o partido – e há quem dê como exemplo Jens Spahn, crítico de Merkel, que também concorreu à liderança e perdeu, e que se tem concentrado no trabalho como ministro da Saúde.
Se Kramp-Karrenbauer surpreendeu ao pôr o lugar à disposição, Merz surpreendeu por não a criticar. Em vez disso, elogiou a rival e o seu discurso foi “corajoso, combativo e a olhar para a frente”.
Espera-se que a chanceler, Angela Merkel, se mantenha no cargo até novas eleições, previstas para 2021. Depois de sair da liderança do partido, Merkel tem-se esforçado por não aparecer como alguém capaz de influência, dizendo apenas palavras de circunstância e não aparecendo nas campanhas eleitorais.
Mas mesmo que a CDU consiga unir-se em torno de Kramp-Karrenbauer (por quanto tempo, não é certo), há factores que não dependem só do partido: o SPD, em queda livre e com 15% nas sondagens, está com um concurso para a liderança entre pró e contra a sua continuação na “grande coligação” chefiada por Merkel, e os seus membros vão mesmo votar na opção continuar ou sair. Um voto pela retirada levaria muito provavelmente a eleições antecipadas, e por isso é menos provável, porque o SPD poderia assim ser acusado de provocar instabilidade, um pecado político especialmente grave na Alemanha.