Protestos contra a elite política ganham força a semanas das presidenciais na Argélia
A campanha começou oficialmente no domingo, com os manifestantes a pendurarem sacos de lixo ou cartazes de figuras da oposição que estão presas, nos espaços reservados ao material eleitoral.
Milhares de argelinos manifestaram-se na noite de quarta-feira nas ruas de Argel, pressionando as autoridades a cancelarem as eleições presidenciais marcadas para 12 de Dezembro.
Desde Fevereiro que se realizam protestos semanais, às quintas e sextas-feiras, mas os manifestantes mostram sinais de querer aumentar a presença nas ruas à medida que se aproxima a data da votação.
Nas ruas do centro da capital, ouviu-se gritar “Eleição não, eleição não”. A polícia dispersou o grupo e prendeu 20 pessoas.
O movimento de protesto eclodiu em Fevereiro, quando o veterano Presidente Abdelaziz Bouteflika anunciou que se recandidatava às eleições inicialmente marcadas para Julho – seria o seu quinto mandato seguido.
Centenas de milhares de argelinos revoltaram-se nas ruas de Argel e de outras cidades do país, exigindo que Bouteflika e a elite que governa a Argélia desde a independência da França, em 1962, deixem o poder.
Bouteflika, que teve um AVC em 2013 - o seu irmão, Saïd Bouteflika, era quem exercia de facto o poder - foi afastado em Abril, depois de as Forças Armadas terem apoiado as reivindicações dos cidadãos. Muitos aliados do antigo Presidente, entre eles o irmão, foram detidos e condenados por conspiração e corrupção.
Saïd Bouteflika foi condenado a 15 anos de prisão por conspirar contra o Estado.
As eleições de Julho foram adiadas, criando um limbo constitucional e entrou em funções um Presidente interino, Abdelkader Bensalah, que ainda se mantém no cargo. As Forças Armadas e o seu poderoso chefe, o general Ahmed Gaed Salah, dizem que a eleição é a única via para restabelecer a normalidade.
Mas os manifestantes rejeitam qualquer eleição enquanto os actores políticos forem os mesmos. O Exército, de momento o principal actor político na Argélia, comprometeu-se com eleições transparentes e garantiu que não apoiará qualquer candidato.
Os cinco candidatos à presidência são antigos altos funcionários do regime, ainda que alguns deles tenham criticado Bouteflika ou lhe tenham feito oposição em eleições anteriores.
A campanha começou oficialmente no domingo, com os manifestantes a pendurarem sacos de lixo ou cartazes de figuras da oposição que estão presas, nos espaços reservados ao material de campanha.
Na terça-feira, num julgamento muito rápido, um tribunal condenou a 18 meses de prisão quatro manifestantes acusados de perturbar o processo eleitoral. Segundo a organização Human Rights Watch, trata-se de uma tentativa de travar os protestos, muitos são muitos os manifestantes detidos nos últimos meses.