Projecto financiado por Bill Gates pode vir a substituir combustíveis fósseis
A Heliogen desenvolveu uma tecnologia que permite armazenar o calor solar até 1500 graus Celsius. O método pode vir a ser um substituto dos combustíveis fósseis na produção de cimento, aço e petroquímicos.
A Heliogen, uma empresa norte-americana que desenvolve formas de energia limpa, anunciou esta terça-feira que alcançou o seu objectivo: foi capaz de transformar a luz solar num combustível.
O desenvolvimento deste mecanismo foi financiado por Bill Gates, co-fundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo – conhecido, aliás, pelo seu trabalho no campo do desenvolvimento humano através da fundação Bill & Melinda Gates e pelos seus investimentos em startups tecnológicas – e também pelo dono do Los Angeles Times, Patrick Soon-Shiong.
A Heliogen foi capaz de concentrar a energia solar para um só núcleo através de centenas de espelhos e de armazenar este calor, que pode atingir temperaturas superiores a 1500 graus Celsius. “Somos capazes de atingir estas temperaturas revolucionárias como resultado de um software de visão computacional que alinha com precisão uma grande variedade de espelhos. Estes espelhos reflectem a luz solar para um único alvo”, explica a empresa em comunicado.
O director executivo da Heliogen, Bill Gross, diz que “o mundo tem uma janela muito limitada para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa” e que este poderá ser um passo importante em frente.
“A esta temperatura podemos substituir o uso de combustíveis fósseis em processos industriais críticos como a produção de cimento, aço e petroquímicos [produção de materiais derivados do petróleo], reduzindo drasticamente as emissões de gases de efeito estufa destas actividades”, lê-se no comunicado da entidade.
Esta conquista científica foi atingida nas instalações comerciais da Heliogen em Lancaster, na Califórnia, nos Estados Unidos. Até agora, a empresa terá sido a única a conseguir comercializar este tipo de tecnologia: os sistemas solares térmicos de concentração que foram produzidos anteriormente atingiram temperaturas de “apenas” 565 graus Celsius – úteis para gerar energia, mas insuficientes para muitos processos industriais que exigem temperaturas muito mais altas.
A alta precisão óptica permite que a tecnologia gere elevadas temperaturas com eficiência, enquanto o baixo custo do programa torna o sistema comercialmente viável para vários clientes. Ao contrário da energia solar tradicional, que usa painéis para captar e transformar a energia solar em electricidade, a Heliogen aposta na concentração do calor para ser usada na indústria.
“Já fizemos grandes progressos na implantação de energia limpa nos nossos sistemas eléctricos, mas a electricidade é responsável por menos de um quarto da procura global de energia. Isto representa um salto tecnológico para dar conta dos outros 75%: o uso de combustíveis fósseis para processos industriais e de transporte. Com um processo de baixo custo, temos a oportunidade de fazer contribuições significativas para solucionar a crise climática”, escreve o CEO da Heliogen.
A equipa da Heliogen inclui cientistas e engenheiros do Caltech, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e outras instituições líderes nos campos da engenharia e da tecnologias e está sediada em Pasadena, Califórnia.
Bill Gates, também citado no comunicado, afirma que está “satisfeito” por ter sido um dos primeiros a apoiar a nova tecnologia de concentração solar da Heliogen, um desenvolvimento “promissor” para substituir o combustível fóssil. “Os processos industriais que usamos hoje para fazer cimento, aço e outros materiais são responsáveis por mais de um quinto de todas as emissões mundiais. Estes materiais estão em toda parte nas nossas vidas, mas não temos avanços que proporcionem versões acessíveis e que sejam carbono zero. Se quisermos chegar a esse patamar temos muito que inventar”, refere o investidor.
No futuro, a Heliogen quer ser rotulada como “a empresa de hidrogénio verde” já que o calor criado por esta tecnologia poderá permitir criar hidrogénio limpo em grande escala, que pode depois ser transformado em combustível para meios de transporte terrestres ou aéreos.