El Corte Inglés vai pagar 29 milhões por terreno na Boavista onde quer erguer três prédios
Pedido de Informação Prévia de operação de emparcelamento prevê abertura de duas ruas e entrega de parcela à câmara, junto ao interface da Casa da Música.
As pretensões do El Corte Inglés para os terrenos que tem sob reserva, desde 2000, junto à rotunda da Boavista, no Porto, em cuja “aquisição” deverá investir quase 29 milhões de euros, não se ficam pela construção de um grande armazém comercial. Nos cerca de 23 mil metros quadrados disponíveis naquela zona da cidade, o grupo espanhol quer também instalar um hotel e erguer um edifício de habitação, comércio e serviços, no âmbito de uma operação de emparcelamento de várias propriedades existentes neste local. Se as suas intenções forem aceites, a área bruta de construção pode superar os 71 mil metros quadrados, acima do solo.
O ECI é dono de alguns prédios naquele quarteirão, e já pagou à Infra-estruturas de Portugal quase 18,7 milhões de euros (dos quais quase 15 milhões a título de sinal), para poder vir a ter o direito de superfície, por 99 anos, prorrogáveis por mais 50, de uma grande parcela no local onde funcionou a antiga estação de comboios da Boavista. No total, estes terrenos chegavam aos 27 mil metros quadrados, quando as duas partes começaram a fazer negócio, mas desde então, e com anuência dos espanhóis, aquela empresa pública cedeu parte do que era seu à Câmara do Porto para alargamento da Avenida de França e para instalação do Interface da Casa da Música.
Segundo o pedido de informação prévia entregue na Câmara do Porto, é nos 23 mil metros sobrantes, seus e da IP, que o El Corte Inglés quer avançar com vários projectos, e à cabeça, com o centro comercial que tem planeado há duas décadas, mas que Rui Rio acabaria por inviabilizar, ao exigir que escolhessem, em vez disso, a baixa da cidade. O grupo instalou-se depois em Gaia, onde está desde 2006, mas nem por isso o interesse pela rotunda mais famosa do norte do país, esmoreceu, ainda que o atraso nos prazos previstos lhes venha a custar, em juros, 5,7 milhões de euros (3,7 milhões dos quais já pagos). Um valor a acrescentar aos quase cinco milhões necessários para concluir o negócio com a sucessora da REFER, cujo contrato foi alvo de vários aditamentos.
Com o emparcelamento proposto à Câmara, todo aquele quarteirão será dividido em três parcelas. A maior, com um hectare, e frentes para a rotunda, a Avenida de França e a Rua de 5 de Outubro, está destinada ao grande armazém mas também a um hotel, com sete pisos acima da cota soleira e seis pisos no subsolo. À superfície propõe-se a construção de quase 54,2 mil metros quadrados, e em cave pede-se a aprovação de 49,4 mil metros quadrados, menos do que o promotor esperaria, por via da implantação, já acordada, da futura estação terminal da Linha Rosa do Metro do Porto. O El Corte inglés perde lugares para automóveis, em vários pisos, mas ganha uma ligação directa entre um piso comercial e a futura gare subterrânea que deverá estar a funcionar entre 2022 e 2023.
Por trás do grande armazém, ligando as duas radiais à Praça Mouzinho de Albuquerque, será reperfilada, e aberta ao trânsito, uma rua já existente no local, que servirá de acesso ao estacionamento subterrâneo, e abrirá, à superfície, uma nova frente de edificação. E em dois lotes, a norte desta nova rua, confrontando ainda com uma outra nova artéria, que dela sairá em direcção à Rua Helena Sá e Costa, que o ECI pretende implantar dois prédios contíguos, de habitação (15 mil metros quadrados em oito andares), comércio e serviços (1925 metros quadrados). Sobra uma parcela de 4200 metros quadrados, junto ao interface da Casa da Música, com frente para a Avenida de França, que está proposta para entrega ao município, para equipamento.
No total, e incluindo nas contas as áreas da parcela da IP original cedidas desde 2000 (seis mil metros quadrados para o interface de transportes e 1600 metros quadrados para alargar a Avenida de França), o El Corte Inglés contabiliza, nesta operação, cedências ao domínio municipal que totalizam quase 16.400 metros quadrados, embora parte da rua entre a Avenida de França e a Rua de 5 de Outubro surja proposta como “espaço privado com ónus de utilização pública” por incluir rampas e estacionamento no subsolo.
A ser aceite esta proposta cai por terra a pretensão manifestada por um grupo de cidadãos, numa petição subscrita por quase 4200 pessoas, de ver estes terrenos transformados num jardim público. A petição, que surgiu no final de Setembro, quando se tornou evidente que o ECI ia avançar, considera que aquela zona da cidade não beneficia nada em ter mais um centro comercial e outro hotel e será prejudicada pelo acréscimo de tráfego automóvel que estes empreendimentos vão gerar.