E se pudéssemos acelerar a inovação nas neurociências?

Fazer com que a verdadeira inovação chegue cada vez mais depressa aos doentes é o objectivo da Roche, que lança agora um programa de aceleração e tutoria para as melhores ideias na área das neurociências.

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Diogo Rodrigues

É o desejo de qualquer cientista, investigador ou companhia farmacêutica que, todos os dias, trabalha para oferecer novos tratamentos, melhor qualidade de vida ou, até, a cura a doentes de todo o mundo. Falamos de encurtar o tempo que decorre entre o início do desenvolvimento de um produto inovador e a sua entrega a quem dele precisa. Mas se é verdade que há tempos e procedimentos de investigação que devem ser escrupulosamente respeitados, também é verdade que há áreas onde a rapidez pode ser alcançada com segurança e eficácia. Foi este precisamente o raciocínio que levou a Roche Portugal a criar o “Building Tomorrow Together, um programa de Open Innovation e mentoring destinado a premiar os melhores e mais inovadores projectos na área das neurociências. As candidaturas estão abertas até dia 22 deste mês e os investigadores e startups vencedoras recebem um prémio no valor total de 42.500 euros, bem como tutoria para o desenvolvimento e concretização dos seus projectos científicos ou tecnológicos.

O “Building Tomorrow Together” é uma iniciativa da Roche Portugal apoiada pela Roche Global e pela Embaixada da Suíça, beneficiando ainda da parceria estabelecida com a imatch, consultora portuguesa na área de inovação.

Novas formas de trabalhar

Mais do que apenas procurar inovação, o “Building Tomorrow Together” assume-se, ele próprio, como uma experiência colaborativa ainda pouco habitual na área farmacêutica, arriscando fazer diferente num mundo em permanente mudança. Visivelmente entusiasmada com o projecto, Simona Skerjanec, directora-geral da Roche Portugal, não tem dúvidas em encarar esta iniciativa como “um caminho que deve ser cada vez mais percorrido”. “Estamos dispostos a experimentar o futuro e a perceber como é que podemos fazer inovação de forma diferente da que fazíamos no passado”, diz-nos, sublinhando que “este tipo de colaboração, juntando pessoas com diferentes experiências e encontrando novas formas de trabalhar, pode ser uma boa oportunidade para acelerar a inovação”.

Idêntica perspectiva é partilhada por Paulo Fontoura, Global Head Neuroscience Clinical Development da multinacional, sedeada em Basileia, na Suíça, para quem o projecto resulta da percepção de que “a inovação científica hoje está em todo o lado”. “Já não é apenas do domínio de um ou dois laboratórios numa universidade ou numa empresa e nós queremos acelerar e catalisar uma mudança nesse ambiente de inovação científica, podendo alcançar esses pequenos pólos todos, integrando-os e articulando-os de forma a ter resultados mais rapidamente”, salienta o neurologista português.

A última fronteira

Todas as ideias apresentadas a concurso deverão incidir no vasto campo das neurociências, porque, como sublinha Simona Skerjanec, é nesta “última fronteira” que “continuam a existir imensas necessidades não satisfeitas”. A responsável acredita que “a relevância deste projecto existe dentro dos cuidados de saúde, não apenas em Portugal mas além” e não tem quaisquer dúvidas em relação à metodologia: “Juntar formas de pensar globais e locais, bem como conhecimento de diferentes áreas, pode contribuir grandemente para os cuidados de saúde prestados dentro das neurociências.”

Mas o que é que se pretende dos projectos concorrentes? Acima de tudo, Paulo Fontoura espera que “sejam realmente inovadores do ponto de vista científico, que contribuam para fazer avançar as neurociências e, em última análise, que contribuam para terapêuticas novas”. Além disso, acalenta a esperança que “tenham um efeito multiplicador e catalisador para os grupos nacionais”. Este último aspecto é relevante na sua opinião, tendo em conta que “temos excelentes grupos, cientistas e hospitais óptimos, mas muitas vezes o que falta é a colaboração, nacional e internacional, bem como a aplicação prática do que é feito no laboratório”. É nesse sentido que resume a expectativa da companhia: “Esperamos que esses projectos também sejam uma forma de facilitar, de acelerar essa transição de uma fase de excelência científica e de excelência clínica para a fase seguinte.”

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D.R.

O doente no centro

Colocar o doente no centro tem sido um objectivo perseguido por todos nos últimos anos, mas com resultados muitas vezes ainda aquém do pretendido. É, pois, também aqui que um programa deste tipo pode fazer a diferença, com Paulo Fontoura a defender que “esta é uma das maneiras” de colocar o foco no que mais importa. Simona Skerjanec corrobora, reforçando que “além dos medicamentos e da inovação, este projecto também representa uma oportunidade para a afiliada da Roche em Portugal mostrar como colabora com a sociedade local”, porque é nesse entrelaçar de sinergias com a comunidade que se percebe também o impacto de uma companhia em termos de responsabilidade social.

“Na Roche temos a visão de que o nosso trabalho é ao serviço dos doentes. Queremos beneficiar os sistemas de saúde, os doentes, dando-lhes medicamentos que sejam de facto transformadores da sua vida”, afirma Paulo Fontoura, sublinhando que a medicina de translação – domínio onde esta iniciativa se inscreve - é um dos caminhos para “acelerar esse processo, de forma a que os avanços científicos demorem menos tempo a passar do laboratório para a prática clínica”.

Dar prioridade ao doente tem sido um dos objectivos da companhia suíça desde que foi criada, em 1896, ainda na forma de pequeno laboratório farmacêutico. “Podemos fazer investigação para os doentes mas com os doentes e por isso, em muitas áreas, temo-los ao nosso lado quando desenhamos os nossos programas, quando pensamos os nossos estudos clínicos. No fundo, ajudam-nos a tomar melhores decisões, porque em última análise o que nós fazemos é ao seu serviço”, constata o responsável pela área de desenvolvimento clínico das neurociências da Roche Global.

Inovar o padrão do futuro

Quanto ao futuro, Simona Skerjanec espera que este tipo de projectos “se tornem o padrão e não apenas que sejam replicados para impulsionar a inovação”. “Precisamos de mentes diferentes com diferentes experiências e Portugal parece ser particularmente fértil, especialmente na área do digital”, refere. A directora-geral recorda que desde que a companhia se estabeleceu no nosso país, em 1973, já lançou “mais de 50 fármacos inovadores que contribuem para a saúde o bem-estar da sociedade portuguesa”. “Somos também parceiros de diversos prestadores aqui em Portugal e contribuímos bastante para ensaios clínicos. Actualmente estamos a participar em mais de 60 ensaios clínicos locais e globais, envolvendo mais de 400 investigadores em Portugal nas universidades e cobrindo cerca de 25 fármacos”, enumera.

A Roche é um dos maiores laboratórios mundiais, pioneiro não só na área farmacêutica mas também de diagnóstico. Assume-se como a maior companhia biotecnológica do mundo, disponibilizando medicamentos diferenciadores na área das doenças do sistema nervoso central, oncologia, imunologia, doenças infecciosas e oftalmologia.